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HOMENAGEM

Marina Silva faz relato emocionante sobre Dorothy Stang e seu legado contra crimes agrários

O Legado de Dorothy Stang permanece vivo 16 anos após sua morte

Imagem ilustrativa da notícia Marina Silva faz relato emocionante sobre Dorothy Stang e seu legado contra crimes agrários camera Reprodução

Dezesseis anos após o assassinato de Dorothy Stang, a missionária conhecida por defender o direito à terra para camponeses e por criar projetos de proteção da floresta amazônica, junto à população e ao governo, é ainda hoje um marco da luta ambiental no Brasil.

Irmã Dorothy tinha 73 anos quando foi alvo de uma emboscada em 12 de fevereiro de 2005 em Anapu e levou seis tiros. Em entrevista ao portal UOL, a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, então ministra do Meio Ambiente, lembrou da luta de Dorothy Stang.

Veja o que ela disse:

"Quando recebi a notícia Dorothy, parei o que estava fazendo e busquei falar com o presidente Lula para que o delegado da Polícia Federal que estava comigo pudesse assumir o caso porque eu sabia que a polícia local ia distorcer a realidade. Nós pegamos o helicóptero e fomos para Anapu.

Lá, fiquei na casinha da irmã, e os policiais federais foram para a delegacia. Quando chegaram, o delegado local já estava registrando o depoimento do Francisco, um menino que a irmã Dorothy criou, dizendo que ele havia mandado matar a irmã para ficar com um terreninho que ela tinha. Eu já estava acostumada com esse tipo de coisa. Fizeram de tudo para botar a culpa da morte do Chico Mendes no nosso próprio movimento".

Ainda de acordo com Marina Silva:

"chegou uma picape com o corpo dela e eu vi um foguetório no município que parecia festa de São João. Eram os fazendeiros celebrando o assassinato de uma mulher com aquela idade, com aquela fragilidade física, mas com aquela fortaleza moral, ética e espiritual que ela tinha.

Tivemos que mandar uma força-tarefa do exército para o Pará porque mais duas pessoas tinham sido assassinadas. Foram quase dois mil homens destacados para lá até conseguirmos conter a violência no local e começar um processo de investigação Enquanto isso, eu estava o tempo todo em conversa com o bispo da região e com os movimentos sociais.

A morte da irmã Dorothy foi uma retaliação a todo o trabalho que estávamos fazendo na região da Amazônia. Nós fechamos o cerco contra os madeireiros ilegais, fechamos o cerco contra a grilagem de terra, a invasão, e fiscalizamos e demarcamos áreas criando unidades de conservação.

O Brasil era e ainda é um dos países mais perigosos para ativistas ambientais do mundo e isso acontece exatamente porque, aqui, a violência se dá em função da apropriação criminosa de terras públicas, do roubo de madeira, de garimpos ilegais, seja em terra pública, em terras indígenas ou de conservação.

Nunca fui de contar isso, mas no tempo em que fui ministra do Meio Ambiente, tinha pelo menos uns três sites sobre "Como matar Marina Silva". Eles continham um monte de dicas de como me matar. Até que uma vez foram ao meu prédio e minhas crianças, que ainda eram pequenas, brincavam na quadra do condomínio. Perguntaram para o porteiro se eu tinha segurança para elas. O porteiro respondeu que não e disseram a ele "diga a ela que é bom ter segurança para as crianças, porque é muito perigoso elas estarem brincando aí sozinhas".

Quando o porteiro me contou, meu coração quase saiu pela boca. A Polícia Federal me orientou que eu tomasse cuidado. Além desse caso, houve um tempo em que, para eu ir para o ministério, tinha que ser sempre por um trajeto diferente. Foi um momento muito difícil.

Mais ameaçados ainda eram os fiscais do Ibama, e tudo isso porque nós não retrocedemos um milímetro naquilo que nós estávamos fazendo.

Tentamos, então, ao mesmo tempo dar toda a segurança para equipe e para as comunidades e continuamos demarcando as áreas.

A irmã Dorothy, assim como Chico Mendes, contribuiu para o que conhecemos como bioeconomia na Amazônia. Esse modelo une comunidades locais, territórios para uso sustentável, sistemas agroflorestais e agroindústrias. A luta dos dois firmou, no meu entendimento, as bases do que os cientistas conhecem por novo ciclo de prosperidade com base na biodiversidade.

A gente já teve, no passado, o desenvolvimento da região Norte tendo como base um produto da biodiversidade que era a seringueira, em um modelo altamente verticalizado. Eu mesma nasci nesse regime de semiescravidão dos seringueiros. Eles vendiam com exclusividade para os patrões e eram obrigados a comprar os manufaturados deles. Só que a borracha era muito barata enquanto os manufaturados eram muito caros. E, assim, se perpetuava a dívida.

O ciclo defendido por Chico Mendes e irmã Dorothy era altamente horizontal, com uma cadeia distributiva que cria sinergias para pequenos, médios e grandes produtores, além de integrar comunidades locais com projetos que não precisam necessariamente ser modelos de empresas tradicionais, podem ser empresas sociais também.

Por isso a irmã Dorothy me lembrava muito o Chico Mendes, os dois foram pessoas, como costumo dizer, que não tinham uma causa, era a causa que os tinha. Pessoas como eles têm um olhar assim que atravessa as coisas.

LEGADO

Dorothy Stang acreditava que o cultivo da roça passava não só pela plantação de alimentos, mas também pela preservação da floresta. Assim, criou na cidade dois Projetos de Desenvolvimento Sustentável, o PDS Esperança e o PDS Virola Jatobá. Um PDS é uma modalidade de assentamento onde 20% da terra é destinada à agricultura enquanto os outros 80%, à reserva legal, ou seja, deve-se manter a vegetação natural podendo ser explorada com o manejo sustentável.

No dia de sua morte, era para a freira estar na assembleia de criação da Reserva Extrativista Verde para Sempre, no Pará, ao lado de Marina Silva, então ministra do Meio Ambiente. "A gente fez um apelo muito forte para que ela fosse com a gente, mas ela preferiu fazer os cadastros do assentamento. Ela tinha uma personalidade muito parecida com a do Chico Mendes", lembra a ex-ministra em conversa com o portal UOL F

Apesar de a morte de Dorothy ter sido uma surpresa para muitos, quem a acompanhava na linha de frente sabia que a vida dela estava em risco. A missionária que nasceu Dayton, Ohio e chegou ao Brasil em 1966, vinha sendo ameaçada e, inclusive, já havia informado as autoridades sobre isso.

Tanto a luta da irmã Dorothy quanto a do Chico Mendes firmaram as bases do que hoje os pesquisadores e cientistas dizem sobre ser possível fazer na Amazônia um novo ciclo de prosperidade com base na biodiversidade.

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