Alunos interditam via em Belém

Em meio à crise na educação que toma conta de todo o estado do Pará, mais um caso mostra os problemas a que estão submetidos professores, funcionários e principalmente os alunos: na última quarta-feira (25), a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Tiradentes II, no bairro de Batista Campos, em Belém, recebeu ordem de despejo.

A escola, que conta com mais de 700 alunos, está localizada em um prédio alugado e terá que fechar as postas porque o dono do espaço cobrou, junto à Jusitça, a retomada do imóvel.

Além do motivo óbvio para lamentar e protestar contra o fechamento da escola, outro fator que causa revolta nas pessoas que frequentam a instituição é a boa avaliação de seus alunos no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) nos últimos anos. Para muitos, os alunos, que já possuem bom desempenho, poderão ser prejudicados.

Protesto

Revoltados com a situação, um grupo de professores, alunos e funcionários interditou a travessa Presidente Pernambuco na manhã desta quinta-feira (26), contra a ordem de despejo.

Os alunos colocaram as carteiras na rua e exigem reunião com algum representante da Secretaria Estadual de Educação (Seduc). O trânsito na via está congestionado. Foto: Cezar Magalhães/DOL

Para Hamilton Corrêa, professor da rede estadual e membro do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp), um dos motivos para o despejo dos alunos seria a falta de pagamento ao dono do imóvel feito pelo Governo do Estado. "O governo estaria sem pagar há tempos aluguel da escola e o dono pediu o imóvel de volta na justiça, é seu direito. Ao invés do governo abrir escola, ele fecha, prejudicando os alunos", lamenta.

Segundo Hamilton, a mudança da escola pode até ocorrer, mas não deste modo "às pressas", o que deve comprometer o rendimento de estudantes e professores. "É preciso um planejamento para as melhorias ocorrerem e não desta forma, é como uma fuga que está ocorrendo", destacou.

Uma das pessoas prejudicadas com a mudança de local é o estrudante Josué Sena, do 2º ano do Ensino Médio da escola. Segundo ele, os alunos souberam da situação através das redes sociais. "Ninguém sabia disso, ficamos sabendo pelas redes sociais, pelo whatsapp. Ninguém informou com antecedência a gente sobre a situação da escola, fomos pegos de surpresa", desabafou.

Parte dos alunos voltaram para o interior da escola. Segundo eles ocuparão a instituição até terem uma posição da Seduc. Foto: Cezar Magalhães/DOL

Ainda de acordo com Sena, muitos alunos que estudam na Tiradentes II não teriam condições de pagar passagens de ônibus para instituições em outras áreas, o que influenciaria negativamente no rendimento dos estudantes, em especial os que estão próximos de fazer Enem. "Estamos perdidos, nem sabemos o que fazer", finaliza o estudante.

Problema se arrasta desde 2014

Em entrevista exclusiva ao DOL, Ana Lúcia Pereira, diretora da escola, afirmou que as discussões sobre desapropriação do prédio da instituição ocorrem desde junho de 2014. Segundo ela, a Seduc informou apenas que o propietário do imóvel não tinha mais interesse em alugá-lo, mas não especificou o motivo.

Ainda de acordo com a gestora, na última sexta-feira (20) ela foi informada do prazo final para desapropriação, que seria hoje (26). Apesar dos problemas, ela acredita que devido à pressão pública e bons resultados da escola no Enem, o colégio será mantido no local.

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(Enderson Oliveira/DOL)