Velório de soldado é marcado por dor dupla

Ainda não caiu a ficha”. Com o olhar perdido e triste, o gari Matteus Gomes, 19 anos, aguardava o corpo do amigo para o velório na casa da família no Residencial Orlando Lobato, Conjunto Parque Verde, em Belém.

A vítima, o soldado da aeronáutica Nícolas Castro Mendes, 21 anos, foi morto com 2 tiros na cabeça por um taxista, após uma discussão de trânsito na madrugada de sábado (08), na rodovia BR-316 próximo a uma boate. Matteus também foi atingido com um tiro de raspão na costela. Outros 2 amigos do militar, que também estavam no carro, não foram atingidos.

Maior que a dor do ferimento, eram as lembranças dos últimos momentos de vida do amigo. Matteus contou que, mesmo ferido, passou Nícolas para o banco do passageiro do carro, assumiu o volante e o levou em direção ao Hospital Metropolitano. No caminho, Nícolas ainda teve tempo de mandar um recado à família: “Diga a minha mãe e meus avós que eu amo muito eles. Mas me ajuda a sair daqui, mano”, disse Nícolas, antes de morrer.

Matteus garantiu que lhe salvaria e tentou acalmá-lo, dizendo que já estavam quase chegando ao hospital. Mas não conseguiu cumprir a promessa, pois Nícolas morreu no meio do caminho.

Dor dupla. É o que sente o aposentado Raimundo Nunes, 70 anos, avô e pai de criação de Nícolas. Ele contou que há 7 meses perdeu um filho (tio de Nícolas) que foi assassinado, vítima de latrocínio no estabelecimento onde era gerente em Araguaína (TO).

“Há 7 meses eu velei meu filho aqui nessa mesma casa e agora perdi meu neto. É uma dor que não se pode medir”, lamentou. Filho único de Erica Nunes, que atualmente mora na Espanha, Nícolas era “filho” dos avós desde que nasceu. “Às vezes me chamava de pai. Pedia “a bênção” sempre que saía para trabalhar”, lembrou Raimundo, com tristeza.

SONHOS INTERROMPIDOS

Apontado com um rapaz cheio de sonhos, que gostava apenas de se divertir, Nícolas servia à Aeronáutica há 3 anos e, segundo o avô, só vivia para isso. Nos poucos dias de folga, pegava seu carro com um som que havia instalado e se divertia com os amigos. Foi numa dessas folgas que sua vida foi interrompida.

A tia da vítima, Zenaide Correa, 45 anos, disse estar vivendo o mesmo pesadelo que viveu há 7 meses. “Foi na madrugada também que recebemos um telefonema informando a morte do tio dele. Agora vivemos de novo esse sofrimento. A família está muito abalada”, lamentou.

A família está aguardando a chegada da mãe de Nícolas da Espanha, prevista para a madrugada de hoje (10). O enterro será em um cemitério particular na BR-316, a partir das 10h. Amigos e familiares prestarão várias homenagens ao militar durante o cortejo.

Em nota, a Polícia Civil informou que até agora tem um suspeito identificado como autor dos disparos. Ele fugiu e ainda não foi localizado, mas terá a prisão solicitada no decorrer do inquérito policial, que está na Divisão de Homicídios.

Discussão de trânsito

Tudo começou com uma batida envolvendo o carro de Nícolas Castro Mendes, 21 anos, e o veículo de um taxista na madrugada de sábado (08), na rodovia BR-316 próximo a uma boate em Ananindeua.

O soldado estava a passeio na companhia de 4 amigos. Eles contaram que o taxista já desceu do carro alterado e foi então que começou a discussão.

Nícolas então desistiu da briga, e seguiu caminho, mas segundo os amigos, o mesmo homem, acompanhado de mais outros taxistas interceptou o carro mais à frente e efetuou vários tiros. Dois deles atingiram a cabeça de Nícolas e outro atingiu de raspão o amigo dele, que estava no banco do carona.

O caso foi registrado na unidade policial do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, em Ananindeua e será investigado pela Divisão de Homicídios, da Polícia Civil.

(Gerllany Amorim/Diário do Pará)