Moradores reclamam da situação precária de ruas em Belém

Buracos, lama, falta de saneamento básico e iluminação pública precária. É nesse cenário que a Prefeitura de Belém pretende criar um bairro e o batizar em homenagem ao importante ex-gestor municipal, responsável pelo desenvolvimento urbano da capital: Antônio Lemos. A mudança de nome do território gera reclamação, afinal de contas, o que a comunidade precisa é de mudança na estrutura pois, na prática, quem mora ali se sente abandonado pelo poder público.

“Estamos esquecidos há mais de 50 anos. Não temos asfalto, saneamento básico, coleta de lixo regular. A gente precisa de um serviço completo”, comenta Augusto Brasil, 50 anos, agente de portaria. “Nasci, me criei aqui e nunca vi a Prefeitura fazer nenhuma melhoria pra gente”, denuncia.

Quando precisa de atendimento médico, a população conta com a boa vontade da vizinhança, como a dona de casa Maria do Rosário Mercês, 65 anos, que semanalmente leva a neta de 8 anos, deficiente física, para fazer tratamento em hospitais. “É muita dificuldade. Ambulância e táxi, não querem entrar aqui. Às vezes, os vizinhos ajudam a carregar a cadeira dela. Para piorar, é um sufoco quando chove porque a água entra em casa. Não tenho quase móveis”, detalha.

O cadeirante Leandro Assunção, 38 anos, também sofre com as péssimas condições das vias. Segundo ele, a maior preocupação é na hora do socorro. “Quando a gente diz que é na passagem Ceará, os motoristas cancelam a viagem. Já pensou se eu passar mal na madrugada? Vou morrer aqui por falta de condução. Uma dessas tentativas de sair de casa, quase cai em um desses buracos”, diz.

Uma das principais ruas do bairro é justamente a passagem Ceará, que retrata a maioria das vias da comunidade. O bairro pode ser acessado desde a passagem Oscarina D’arc, pela avenida Augusto Montenegro, até a estrada do Maracacuera. Quem precisa trafegar por ali também enfrenta dificuldades.

Enquanto a reportagem realizava as entrevistas, um entregador de material de construção atolou em um dos buracos. Moradores precisaram se reunir para tirar a motocicleta do trabalhador. “Já me machuquei muitas vezes e troquei várias peças da moto que quebram nessa buraqueira. Já deixei de fazer entregas por causa dessa situação”, fala Ronie Modesto, 26 anos.

Moradores não foram informados da mudança e reclamam da situação precária de ruas. (Foto: Ricardo Amanajás/Diário do Pará)

SURPRESA

O problema que a comunidade enfrenta já teria sido informado à Prefeitura por meio da Agência Distrital de Icoaraci. Segundo a moradora Patrícia Souza, de 32 anos, há três meses protocolou abaixo-assinado com dezenas de assinaturas de outros moradores requerendo melhorias para o bairro.

“A gente não pode sair de casa para trabalhar, estudar que a situação aqui fora é essa: só lama”, reclama.

Quando perguntados pelo DIÁRIO sobre a criação do novo bairro, a maioria dos moradores ficou surpresa por não ter sido informado da mudança, tampouco soube dizer quem foi Antônio Lemos.

A criação do bairro no distrito de Icoaraci, foi aprovado no dia 25 de março deste ano, na Câmara Municipal de Belém (CMB), e homenageia o responsável pelo desenvolvimento urbano da capital paraense. A ideia da Prefeitura de Belém projeta ainda a criação de outros 15 novos bairros de regiões já consolidadas.

(Michelle Daniel/Diário do Pará)