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PARÁ

São quase 14 mil veículos a mais nas ruas e um trânsito 'que não anda'

Uma conta que não fecha. Essa é a situação do trânsito em Belém. Se por um lado, dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) apontam um “ganho” de quase 14 mil veículos nos últimos 12 meses, por outro, a cidade permanece com praticamente os mesm

Uma conta que não fecha. Essa é a situação do trânsito em Belém. Se por um lado, dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) apontam um “ganho” de quase 14 mil veículos nos últimos 12 meses, por outro, a cidade permanece com praticamente os mesmos corredores de tráfego, com poucas exceções. Quem precisa se locomover, seja de bicicleta, transporte público ou particular, enfrenta um problema cada vez mais comum: a falta de mobilidade.

A questão não é nova. Mas se agrava ano a ano com a chegada de mais automóveis, motocicletas, ônibus e outros veículos, diariamente. Para se ter uma ideia, em janeiro de 2018, a capital paraense possuía uma frota de 439.290 veículos, de acordo com o Denatran. Um ano depois esse número chegou a 453.198, ou seja, 13.908 veículos a mais. Em 10 anos, a cidade ganhou 214.531 veículos. A proporção atual é de um veículo a cada 3 habitantes em Belém, considerando o último censo do IBGE, que identificava a população de 1.393.399 na capital.

O taxista Luís França, de 58 anos, trabalha em um ponto de táxi localizado na avenida Governador José Malcher e sente de perto o peso desses números. Ele convive com o trânsito paraense há quase 40 anos, quando iniciou na profissão. Nesse tempo viu muita coisa mudar, “mas para pior”. “Antes você conseguia trabalhar com mais tranquilidade, deixava um passageiro em um local e voltava para pegar outro, sem problemas. Hoje você não chega a tempo. Está tudo muito mais difícil”, avalia.

Para ele, as ruas e avenidas não comportam a grande quantidade de veículos que trafegam todos os dias pela cidade, especialmente em sua área central. “Já não existe horário para o trânsito ficar engarrafado. Todo tempo observamos isso. Em locais como a avenida Nazaré, onde existem colégios, a situação é crítica”, afirma. Uma das possíveis soluções, segundo ele, seria o chamado rodízio de placas, já adotados em grandes capitais, como São Paulo. “Acho que esse sistema de par e ímpar, com dias certos para estarem nas ruas, ajudaria a melhorar esse caos vivido hoje”, acredita.

O autônomo Adalberto Galvão, de 38 anos, trabalha há mais de 15 anos nas proximidades da avenida Almirante Barroso com a Governador José Malcher e viu o tráfego de veículos no local crescer nos últimos anos. “Nunca foi bom, mas piorou bastante”. Ele afirma que um dos responsáveis por essa “piora” é o ponto de ônibus instalado nas proximidades de um hotel, que impede o trânsito de fluir. “Seria uma parada provisória, enquanto esse espaço ainda estava em obras. Mas a obra acabou e a parada continua lá. Já foi feita uma reclamação, mas nada mudou até agora. O provisório permanece e junto com ele todo o caos”, diz.

Outro problema identificado pelo autônomo no local é a pista do BRT, ainda pouco utilizada. “Enquanto há uma disputa dos carros por espaço na (avenida) Almirante Barroso, nos dois sentidos da via, existe uma pista vazia, onde não se vê praticamente nenhum carro trafegando”, reclama. Se para quem utiliza carros para se locomover na cidade, a situação do trânsito é difícil, para quem opta pelo transporte sobre duas rodas, como a bicicleta, essa relação se torna ainda mais complicada. É o que afirma o mestre de obras, Elias Brito, de 41 anos. Ele utiliza uma bicicleta do tipo cargueira para se locomover na cidade.


Taxista Luís França diz que trânsito mudou para pior. Ciclista Elias Brito sente dificuldade em circular com sua bicicleta pela cidade (Foto: Ricardo Amanajás/Diário do Pará)

CICLOVIAS

“Existe uma relação de desigualdade no meu ponto de vista. Há poucas ciclovias na cidade. Além disso, convivemos com uma falta de respeito por parte dos motoristas, que estacionam nesses locais e das pessoas, de modo geral, que usam esses espaços para outros fins, como fazer caminhada, passear com animais. Ainda falta educação para se conseguir mobilidade nessa cidade”, lamenta.

A falta de planejamento também é apontada por ele como outro problema. “Às vezes, você está andando de bicicleta em uma ciclovia e de uma hora para outra ela simplesmente acaba e o ciclista fica sem ter por onde ir. É obrigado a andar no meio dos carros porque não tem alternativa. Para mim, isso é reflexo de uma falta de planejamento porque poderia haver pelo menos uma placa avisando do fim e uma indicação de qual o melhor caminho a seguir”, diz.

GESTÃO

Rafael Cristo é consultor em trânsito e garante existir solução viável para o tráfego da capital paraense. “Ela passa por uma gestão eficiente, com planejamento e integração da Região Metropolitana”, resume.

Para ele, ainda que houvesse novas vias sendo criadas em Belém, a relação entre o número de veículos e corredores de tráfego não fecharia. “Sempre vamos ter novos carros sendo colocados no trânsito, sem que o número de avenidas criadas possa acompanhar. Hoje em dia, por exemplo, ficou mais acessível comprar uma moto e pagar parcelado por vários anos, o que de certa forma incentiva o condutor a adquirir esse meio de transporte particular em detrimento do público”.

Mas essa não é a única questão. “O mais correto seria a gestão investir no transporte público. Torná-lo eficiente e atrativo para os usuários, oferecendo conforto, qualidade e higiene, principalmente ”, aponta.

O especialista indica ainda outra saída viável. “Precisamos descentralizar serviços e atividades do centro da cidade. Tribunais, secretarias e até mesmo a Prefeitura deveriam sair do centro e ocupar outros pontos”, diz. Outras soluções viáveis seriam a criação de estacionamentos verticais, de terminais de integração de transporte e uma gestão integrada entre os municípios que formam a Grande Belém.

Ele afirma ainda que soluções como rodízio de placas não seria viável para uma cidade como Belém. “Isso dependeria de lei e da comprovação da poluição do ar para ser criado esse sistema e não é esse o caso da capital paraense”, resume.


(Foto: D'Angelo Valente/Diário do Pará)

Especialista defende rodízio de veículos

Já para Sérgio Maia, também especialista em trânsito, a saída para conseguir uma melhor mobilidade na cidade seria, sim, o rodízio de veículos. “Isso já deveria ter sido feito há pelo menos cinco anos. Belém é hoje, proporcionalmente, a capital com a maior frota de veículos do Brasil, com uma média de 20 veículos para cada 100 habitantes”, afirma.

Com o crescimento da frota inversamente proporcional ao desenvolvimento de vias, ele afirma não haver outra solução viável. “Temos ainda poucas avenidas sendo abertas, a exemplo da João Paulo e da Independência. Há também uma falta de planejamento. Com isso, não vejo outra solução, se não adotar o sistema de rodízio de placas”, argumenta.

A longo prazo, Sérgio acredita que o investimento no transporte aquaviário seria uma alternativa. “Temos uma cidade com um grande potencial dos rios. Poderíamos ter linhas saindo de Icoaraci até bairros como o Jurunas e Guamá. Isso contribuiria, inclusive, para desafogar o trânsito na avenida Augusto Montenegro”, sugere.

Projetos

Diretor de mobilidade da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob), Carlos Valente assegura que projetos estão em andamento, no intuito de tentar equacionar a quantidade de veículos em circulação pela cidade e a estrutura viária atualmente disponível.

Uma das ações, segundo ele, é fazer cumprir o decreto municipal publicado em setembro do ano passado e regulamentado este ano, para disciplinar a prestação do serviço de transporte por aplicativo em Belém.

“Para se ter uma ideia, locadoras de carros já trouxeram para a cidade cerca de 5 mil veículos, com placas de outros estados, para trabalhar em aplicativos de transportes. Com isso, temos um aumento da frota circulante, que acaba sendo maior do que a registrada. Para tentar conter esse crescimento, estamos com uma verdadeira força tarefa para fazer cumprir o decreto”, explicou.

Outro projeto, já colocado em prática para proporcionar mobilidade na capital, são os binários. “Nos bairros do Telégrafo, Sacramenta e Pedreira conseguimos proporcionar maior fluidez em pontos com engarrafamentos ao mudar vias de mão dupla para um único sentido, como ocorreu com a Humaitá e a Vileta, inclusive rompendo canteiros que impediam transpor avenidas como a Almirante Barroso, a Duque de Caxias e a Pedro Miranda. Esses binários proporcionaram maior mobilidade nesses bairros e para o tráfego em geral”, cita.

O diretor destaca ainda o projeto de licitação de coletivos para atender ao BRT. “Ele está em andamento e vai proporcionar uma melhor qualidade ao transporte público e, consequentemente, a mobilidade na cidade porque, dessa forma, é mais fácil as pessoas optarem por esse tipo de transporte, em detrimento do particular”, alega.

Carlos Valente destaca também o projeto de integração de ciclovias. “Estamos com um trabalho para ampliação que vai abrir uma ciclovia do elevado da avenida Júlio César até a Tavares Bastos seguindo pela Rua da Mata, para fazer a integração com a Augusto Montenegro. A ideia do projeto é incentivar o uso de bicicletas não só para a prática esportiva, mas como meio de transporte”, diz ele, citando ainda projetos para revitalização da sinalização.

Com relação ao período chuvoso e às marés altas, que contribuem para tornar o trânsito mais complicado, o diretor afirma que a Semob tem feito um trabalho voltado para a operação e fiscalização no trânsito. “Mas é importante destacar a conscientização do motorista, de todos, da necessidade de ser mais tolerante e paciente nesses momentos em que verificamos, inclusive, um aumento no número de veículos circulando. É preciso um comportamento de cordialidade e educação, o que evitaria, por exemplo, o fechamento de cruzamento”.

(Alexandra Cavalcanti/Diário do Pará)

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