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Por uma educação sem barreiras: jovens habilidosos e cheios de sucesso

Demonstrando interesse pelo desenho desde muito pequeno, o designer Lucas Moura Quaresma, 25 anos, encontrou nos quadrinhos não apenas a possibilidade de superar um medo pessoal, mas também um caminho para ajudar outras pessoas a fazer o mesmo. A ideia su

Demonstrando interesse pelo desenho desde muito pequeno, o designer Lucas Moura Quaresma, 25 anos, encontrou nos quadrinhos não apenas a possibilidade de superar um medo pessoal, mas também um caminho para ajudar outras pessoas a fazer o mesmo. A ideia surgiu quando o jovem, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda aos três anos de idade, sentia fobia por cachorros. Como forma de tentar entender o que ele sentia, a mãe de Lucas, a arquiteta Eliane Quaresma pediu que ele fizesse um quadrinho falando sobre o seu medo.

A iniciativa funcionou tão bem que Lucas passou a lidar melhor com a fobia a cachorros e ainda encontrou uma forma de ajudar outras pessoas que tenham medos parecidos. Diante do sucesso do quadrinho ‘Medo de Cachorro’, amigos começaram a falar sobre os próprios medos e, a partir daí, o jovem começou a desenvolver a série ‘Medo de que?’, que já conta com sete exemplares.

Desde 2016, as histórias criadas pelo Lucas podem ser acompanhadas no blog que ele e o time do ‘HQ’s do Lucas’ mantêm. Orgulhosa da trajetória do filho, Eliane lembra, porém, que foi preciso superar muitos obstáculos para que o Lucas chegasse à conclusão do ensino superior, atuando na profissão que escolheu.

A cada nova fase da vida escolar do filho mais novo, a arquiteta lembra que foi preciso travar uma batalha diferente. “Nós não queríamos que simplesmente avançassem o Lucas de série, sem que ele realmente adquirir o conhecimento”, conta. “As escolas alegavam que não tinham como atender às necessidades dele. Queriam que ele fosse para uma escola especial”.

Desenhos de Lucas foram publicados em revistas, para orgulho da sua mãe Eliane e Thayz Magnago, designer que integra o time do HQs do Lucas. (Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

INTEGRAÇÃO

Convencida de que a integração do filho à escola regular seria fundamental não apenas para a socialização do próprio Lucas, como também para as demais crianças que conviveriam com ele, Eliane e o esposo lutaram para que as escolas oferecessem o que o filho precisava para aprender.

Sem que a escola particular soubesse como agir, na época, uma equipe multidisciplinar do Governo do Estado fez a análise do que seria necessário para que o Lucas pudesse desenvolver todas as suas potencialidades na escola.

Já no ensino médio o jovem chegou a ter a matrícula negada, o que é considerado crime pela legislação brasileira. Também nos quatro anos de faculdade, alguns entraves permaneceram, sobretudo com relação à comunicação da instituição com o Lucas. “A gente precisava monitorar passo a passo o ensino do Lucas, em todas as fases”, lembra Eliane. “Como ele tinha dificuldade com a comunicação, o Lucas teve que seguir até o final da faculdade com agenda escolar, mas tinham alguns professores que não queriam fazer essa agenda. Cada vez era um problema”.

Aliado ao esforço da família para garantir o direito do Lucas ter acesso à educação, o empenho do próprio designer foi fundamental. Eliane conta que Lucas sempre gostou muito de estudar. Então, não se opunha a receber reforço escolar após as aulas. Mantendo tal dedicação até o último dia de faculdade, depois de formado o designer acabou encontrando em um talento antigo a possibilidade de desempenhar a sua profissão de forma autônoma.

“Desde os 4 ou 5 anos a gente percebeu que ele gostava muito de desenho. Primeiro ele começou a desenhar os anti-heróis dos desenhos, depois desenhou a gente (familiares) como personagens da vida dele”.

Dos quadrinhos criados pelo jovem, hoje a família integra também a equipe do HQs do Lucas. Além da conservação de vários cadernos de desenhos feitos por ele, o time também é responsável por atividades como administrar o blog, planejar as possibilidades de captação de recursos para novos projetos, entre outras.

“Foi dito que o Lucas não conseguiria fazer nada do que ele faz hoje, mas ele conseguiu. O que a sociedade precisa, na verdade, é de mais conscientização”, reflete Eliane.

Marina, que tem síndrome de down, se forma este mês

O descrédito de que conseguiria enfrentar as barreiras educacionais existentes nas escolas do país, infelizmente também foi vivenciado pela formanda em gestão de Recursos Humanos, Marina Viana, 19. A jovem, que aguarda pela festa de formatura prevista para o final deste mês, tem síndrome de down. “Eu escolhi (o curso) porque queria trabalhar na empresa do meu pai”.

Marina sempre apresentou uma afeição muito grande pela leitura. A mãe da jovem, Marília Viana, 50 anos, lembra que Marina começou a ler antes mesmo de ir à escola pela primeira vez. Já no ensino médio, a jovem começou a participar de olimpíadas estudantis que envolviam leitura e interpretação.

Na primeira participação, Marina conquistou medalha de bronze. Depois, alcançou a de ouro por dois anos seguidos. “Ela sempre surpreendia a gente”, lembra a mãe. “Durante os 9 primeiros anos de vida ela passou por um método de estimulação neurológica que ajudou muito. A minha esposa teve que abdicar por um período da atividade dela de dentista para acompanhar a Marina, mas deu muito certo”, lembra o pai da jovem, o empresário Francisco Nunes Viana Neto, 55 anos.

O empenho de Marina e de sua família em proporcionar condições para que ela desempenhasse os estudos – durante as aulas Marina era sempre acompanhada por uma facilitadora – rendeu frutos que encheram de orgulho os pais. Na primeira vez em que prestou vestibular – participando de provas que não eram adaptadas – Marina foi aprovada em três universidades.

Na primeira vez em que prestou vestibular Marina foi aprovada em três universidades. (Foto: Wagner Santana/Diário do Pará)

PRECONCEITO

“Na época eu cheguei a ouvir outros pais perguntarem ‘pra que ela vai fazer universidade?’ Eu dizia: ‘porque é o que ela quer’”, lembra Francisco. “Diziam que era perigoso, perguntavam o que ela ia fazer depois que terminasse a faculdade... infelizmente ainda existe muito preconceito”, complementa Marília.

Com o anel de formatura já em mãos e o ensaio fotográfico com direito a beca e capelo já pronto, Marina não se preocupa muito em planejar como será sua vida daqui para frente. Sobre o futuro profissional, o que ela conta é que pretende viver o agora e ver o que acontece.

ESCOLAS TÊM QUE OFERECER CONDIÇÕES DE ENSINO

Mesmo que em situações diferentes, os problemas enfrentados por Lucas e Marina ao longo da vida estudantil, infelizmente, ainda persistem na sociedade.

Apenas no período de dezembro até o início de fevereiro de 2019, a Comissão de Proteção aos Direitos da Pessoa com Deficiência da Ordem dos Advogados do Brasil no Pará (OAB-PA) já recebeu oito denúncias de pais que não conseguiram matricular os filhos em decorrência dos mesmos demandarem algum tipo de atendimento pedagógico especializado. De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão, porém, essa prática é considerada crime.

Presidente da comissão de Proteção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB, a advogada Gisele Costa reforça que os pais de crianças autistas, com síndrome de down ou outras síndromes e transtornos ainda enfrentam muitos problemas ao tentar inserir seus filhos na educação básica. “Os pais chegam, perguntam se tem matrícula e, naquele primeiro momento, são informados que tem vagas. Mas quando os pais informam que a criança tem alguma deficiência, a escola passa a dizer que não tem mais a vaga”, exemplifica.

MATRÍCULA

O gestor escolar que pratica esse tipo de discriminação pode sofrer não apenas uma sanção civil, mas também responder criminalmente pelo ato. “A Lei prevê que a recusa dessa matrícula é crime. Existe o crime da recusa e, para esses casos, a pena hoje é de 2 a 5 anos de reclusão e multa”, esclarece.

Segundo Gisele, desde que entrou em vigor, em 2016, a Lei Brasileira de Inclusão prevê, também, que as escolas devem fornecer os serviços de um profissional de apoio escolar e o atendimento educacional especializado para os alunos com deficiência que precisem. “O profissional de apoio escolar é aquele que fica dentro da sala de aula e dá apoio pedagógico ao aluno e este profissional tem que ser custeado pela escola”.

Para a psicóloga especialista em atendimento a pacientes com diagnóstico de TEA, Ana Carolina Carneiro, é preciso analisar as necessidades de cada criança individualmente para se planejar a melhor maneira de atendê-las. “Hoje o principal ponto é olhar a criança como única e traçar objetivos a curto, médio e longo prazos”, aponta.

“O que se tem feito muito é adotar um Plano de Ensino Individualizado (PEI), um documento montado geralmente junto com a equipe multidisciplinar para adequar todo o conteúdo que é proposto para a turma, às necessidades daquela criança”.

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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