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Belém deixa de faturar e gerar empregos ao abrir mão do seu potencial turístico

O centro histórico de uma cidade corresponde ao primeiro núcleo urbano surgido em determinado território e abriga pessoas, prédios, monumentos, cultura e histórias de uma paisagem que remete à sua fundação. Em Belém, os bairros da Cidade Velha e Campina -

O centro histórico de uma cidade corresponde ao primeiro núcleo urbano surgido em determinado território e abriga pessoas, prédios, monumentos, cultura e histórias de uma paisagem que remete à sua fundação. Em Belém, os bairros da Cidade Velha e Campina - que tiveram o seu conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico tombados em 2012 por meio de uma portaria do Ministério da Cultura a partir de iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - representam esses espaços que nos faz olhar para o passado.

Mas, tanto para quem mora na capital paraense quanto para os turistas, é difícil encontrar uma programação fruto de uma política pública permanente que dialogue com a sociedade sobre a potencialidade do nosso centro histórico. E, com isso, perde-se a possibilidade de explorar a área economicamente, como em Salvador, Recife/Olinda e São Luiz.

Nem mesmo o fato de importantes órgãos públicos estarem localizados nos bairros, como Ministério Público do Estado, Assembleia Legislativa do Estado (Alepa) e a própria sede da Prefeitura de Belém, faz com que esse cenário seja diferente.

(Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

Diante dessa lacuna, iniciativas da sociedade civil buscam propor ações que tornem a história e a memória da cidade mais atrativas do ponto de vista turístico. Surgido em 2013, o Projeto Circular Campina - Cidade Velha é o esforço coletivo de produtores, artistas, comerciantes e empresários de chamar a atenção sobre as demandas que se mostram urgentes nos logradouros onde Belém nasceu, passando pela preservação do patrimônio e pela necessidade de se pensar uma ocupação efetiva da área, a partir da circulação de pessoas e ativos.

Em novembro, o projeto recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Iphan, como um reconhecimento das ações já realizadas. A idealizadora da ação, Makiko Akao, conta que não dava mais para esperar que somente o poder público tomasse a frente das atividades e constatando que entre os moradores dos bairros existiam muitos artistas, resolveu apostar num modelo de circuito de cultura e gastronomia.

“Não existe uma política de preservação do centro histórico que proponha uma via econômica de auto sustentabilidade. Acontecem pontualmente reformas de alguns imóveis, casarões, as igrejas. Mas e depois? Penso que tem que existir um planejamento de uma política consistente, que seja realizada por etapas e que possamos ver avanços. O turismo é possível, aliando as atividades já feitas pelos pequenos comerciantes e moradores”, opina Makiko Akao.

(Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

Como parte da construção de um plano para o uso e preservação do centro histórico, o Projeto Circular realizou um fórum, em setembro, sobre experiências de transformação social do centro histórico. Uma carta manifesto foi produzida como instrumento para diálogo entre governantes e moradores, para a realização de consultas públicas sobre patrimônio e as obras de grande impacto na capital.

FÓRUM

“Com o fórum, foram criados grupos de trabalho de acompanhamento e proposição de políticas públicas”, adianta Makiko, que foi uma das organizadoras do movimento pela permanência do Museu Casa das Onze Janelas, após um grande imbróglio ano passado quando o Governo do Estado anunciou que no local seria criado um centro de gastronomia.

Aguerrida em defesa do patrimônio, a aposentada Dulce Rocque fundou em 12 de janeiro de 2007 a Associação Cidade Velha -Cidade Velha (CIVIVA), após perceber a constante degradação da área. Ela faz questão de encaminhar documentos aos órgãos públicos, nos quais questiona esse abandono do centro histórico. Mas nem sempre ela tem resposta positiva sobre o que decide questionar e diz que muitas vezes sequer recebe explicações sobre o que aborda.

“Acho que a Prefeitura e o Estado não têm interesse em fazer turismo aqui, não se dá a menor atenção ao que é realmente necessário”, lamenta, apontando que apenas a Praça Frei Caetano Brandão, por estar entre as igrejas da Sé e de Santo Alexandre, é bem cuidada. “Quem visita um centro histórico degradado?”, questiona.

(Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

Dona Dulce, como é conhecida, já foi moradora da cidade de Bolonha, na Itália, durante 35 anos, e prefere acreditar que é possível transformar essa realidade. “A primeira demanda é por segurança e também pelo ordenamento geral do bairro, ajustar o que não está correto. E que cada órgão de fiscalização cumpra seu papel à risca. Eu proponho um modelo de portal da transparência para isso, para que a gente acompanhe as demandas do cidadão”, diz.

Ações das secretarias são inócuas, diz professor

O professor de história Michel Pinho, que realiza caminhadas com grupos de pessoas pelas ruas da Cidade Velha e é parceiro do Projeto Circular, é crítico do modelo de gestão das políticas públicas para os bairros. Ele classifica como inócuas as ações das secretarias estaduais de Turismo e de Cultura para promover uma efetiva mudança de aspectos voltados para a preservação e para incentivo ao turismo.

“O estado do nosso centro histórico é deplorável. Na principal rua do bairro da Campina, o esgoto é a céu aberto. Há risco de incêndio e desabamento em muitos dos casarões tombados. Poderíamos ser uma vanguarda na preservação, utilizar os imóveis abandonados para moradia social, requalificar as fachadas dos prédios e atrair mais visitantes, gerando mais renda”, analisa.

PERDAS

Ele diz ainda que Belém deixou de ganhar visibilidade e volume de investimentos pela ocasião dos 400 anos da cidade, em 2016, com forte apelo de uma larga história de presença europeia com a mistura das tradições indígenas. “Há um encantamento sobre essas misturas, o Theatro da Paz e o Ver-o-Peso, o açaí e os azulejos portugueses. Perdemos representatividade, perdemos investimento, perdemos um futuro muito promissor”, observa.

“Que política pública nós tivemos nos últimos vinte anos que privilegiasse uma ocupação de fato no centro histórico? A construção e requalificação dos equipamentos urbanos como a Casa das Onze Janelas, Forte do Presépio, Estação das Docas foram fundamentais para o melhoramento da circulação cultural da cidade, mas e depois? “, questiona.

INICIATIVAS PARA MELHORAR O CENTRO HISTÓRICO

- MERCADO DO PORTO DO SAL+ COLETIVO APARELHO +MASTAREL

O Mercado do Porto do Sal, na Cidade Velha, foi criado em 1933 para servir como central de abastecimento e escoamento da produção vinda da região das ilhas. O mercado teve revitalizações em 2013. Em 2016, a obra “Mastarel”, criada por Elaine Arruda e João Aires, foi instalada no topo do prédio, com autorização de permanência, concedida pelo Iphan, Secon e Fumbel, como iniciativa do Coletivo Aparelho, que também implantou uma biblioteca dentro do mercado. O coletivo realiza ações de arte educação em diálogo com a comunidade do “Beco do Carmo”.

- FEIRA MOVIMENTA + REDE DA SEREIA

A Feira Movimenta ocorre ao lado da Igreja da Sé, com produtos e apresentações de arte, música e culinária. É realizada periodicamente pelos integrantes da Rede da Sereia, grupo voluntário de moradores da Cidade Velha, que realiza ações de valorização do bairro.

- REDE DE COOPERAÇÃO SEGURANÇA E SUSTENTABILIDADE

A partir da preocupação com a violência na Cidade Velha, moradores passaram a ter diálogo diretamente com a Polícia Militar. A rede é quem faz a mediação, por exemplo, da realização do pré-carnaval de Belém entre a Liga de Blocos da Cidade Velha e os moradores.

- PROJETO CIRCULAR CAMPINA - CIDADE VELHA/ FÓRUM CIRCULAR

O projeto Circular veio da necessidade de revalorizar o centro histórico de Belém, atenta ao potencial da diversidade de espaços, coletivos e empreendimentos culturais sediados nos bairros da Campina, Cidade Velha e Reduto. Organiza atividades culturais em estabelecimentos e praças e mobiliza processos educativos para jovens e adultos dos bairros do projeto e demais circulantes.

- ROTEIROS GEO-TURÍSTICOS

O Projeto Roteiros Geo-Turísticos foi criado em 2011 e premiado nacionalmente pelo Iphan, na 29ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. Os roteiros são caminhadas ao ar livre, orientadas por educadores e educandos, no intuito de valorizar a memória, os costumes, as artes e os espaços urbanos como patrimônio histórico-cultural.

Projeto apresenta centro histórico de Belém: sem muito apoio do poder público, comunidade se mobiliza para ajudar o centro histórico

(Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

O administrador e contador Ivan Costa, presidente do Observatório Social de Belém e fundador da Rede de Cooperação pela Segurança e Sustentabilidade (RCS2), acredita no potencial da colaboração. Ele mora há mais de 40 anos na Cidade Velha e das mobilizações que já vem realizando ouve sempre que não há recursos. Mas ele lembra que nem sempre é de verbas que os projetos precisam para serem realizados, mas de articulação e de iniciativa.

“Um dos grandes argumentos é que não há recursos para a manutenção do centro histórico. Ocorre que recurso não é só dinheiro, é tempo e pessoas dedicadas. Temos servidores públicos e comunidade prontos para trabalhar. Não temos, por exemplo, uma política de ocupação de imóveis abandonados com dívidas de IPTU que poderiam estar sendo apropriados para diversos usos e com função social. Para falar de turismo, uma dessas casas poderia ser um ponto de acolhimento ao turista”, exemplifica.

ROTEIROS

A professora Goretti Tavares, do Grupo de Pesquisa de Geografia do Turismo (Geotur), da Faculdade de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPA, arregaçou as mangas por conta da ausência de uma programação que apresente o centro histórico ao próprio belenense e aos turistas. Com o projeto de extensão “Roteiros Geo-Turísticos”, que também já foi um dos vencedores do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, ela reúne interessados em saber sobre a história da capital. “Tanto no âmbito municipal quanto no âmbito estadual, inexiste um planejamento consistente para o centro histórico. Necessita-se de uma política de turismo permanente que qualifique os serviços oferecidos, o próprio comércio, que tenhamos guias que façam roteiro com quem for por lá. O turista é mal servido e poderia ser diferente, tanto que a sociedade civil tem se articulado para suprir isso”, comenta.

Goretti não tem dúvidas de que Belém tem um grande potencial para o turismo patrimonial, histórico e cultural, mas nota sobretudo a falta de uma gestão integrada do poder público. Sobre o modelo viável para mudar essa realidade, ela sugere a intensa interlocução com os moradores da região. “Tem que ser um turismo que não seja excludente, que envolva grandes e pequenos empreendimentos, como a ‘dona Maria’ que vende o tacacá na esquina. E que se considere a nossa cultura alimentar. Turistas chegam aqui por conta da nossa culinária também”, diz.

Ela observa que o centro histórico de Belém requer também políticas sociais que contemple a população mais vulnerável que habita os bairros. “Aqui ainda temos por fazer e por isso podemos fazer diferente. Só se defende a cidade quando é possível conhecê-la. É possível explorar essa cidade amazônica, entre o rio e a floresta, a relação com as águas, o Ver-o-Peso”, ilustra.

Como o centro histórico de belém pode ser melhorado?

- Mário Augusto Oliveira- Representante de marketing

“Gosto de vir aqui passear e hoje estou acompanhando a minha chefa, que não é daqui. Acho que deveria melhorar bastante, com mais atividades. A gente mesmo não conhece a nossa história. Seria bom se tivesse um lugar específico para o turista, onde ele pudesse pegar um mapa ou buscar informações”.

Ruan Leal- Estudante de odontologia

“Em Belém tem muita história e muita representatividade, mas a infraestrutura é mal conservada. Se você comparar com outras cidades do Nordeste, aqui ainda falta muito. Gostaria que fosse mais divulgado, com mapas, vendo as secretarias que atuem nessas questões mais atuantes”.

Dieverton Rufino- Estudante de odontologia

“Percebo que é um lugar sujo. Na praça Dom Pedro II tem muito lixo. A Praça Frei Caetano Brandão é mais cuidada. Também sinto falta de política pública para acolher as pessoas de rua, um ponto a se pensar para o centro histórico”.

Carlos Ferreira- Taxista

“Vejo que poderia melhorar em termos de segurança. Fechou a Casa Das Onze Janelas, a parte do restaurante, que movimentava muito essa região, mas agora ficou parado e as pessoas já não indicam vir para cá à noite”.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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