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Canal despeja água sem tratamento da Hydro no Rio Pará

Não é apenas com dutos clandestinos e que só agora foram reconhecidos oficialmente pela Hydro Alunorte que as comunidades ao redor do complexo industrial em Barcarena, a 150 quilômetros de Belém, vêm sendo contaminadas. Lideranças comunitárias e uma fonte

Não é apenas com dutos clandestinos e que só agora foram reconhecidos oficialmente pela Hydro Alunorte que as comunidades ao redor do complexo industrial em Barcarena, a 150 quilômetros de Belém, vêm sendo contaminadas. Lideranças comunitárias e uma fonte interna da empresa confirmaram que existe um canal que despeja rejeitos sem tratamento do beneficiamento da bauxita diretamente no Rio Pará.

A fonte interna da empresa revelou ao DIÁRIO que o antigo canal é utilizado hoje como um “ladrão” para evitar o transbordamento das bacias de rejeitos, que estão trabalhando com sua capacidade máxima, especialmente neste período, quando o volume de chuvas na região aumenta. “As comportas do antigo canal são abertas até três vezes por semana, sempre à noite, para dar vazão ao excesso de efluentes, uma vez que as bacias de tratamento de resíduos estão trabalhando praticamente no limite”, disse a fonte.

O canal que fica escondido entre a vegetação local começa na fábrica e tem aproximadamente 700 metros de comprimento e despeja os efluentes não tratados na Praia do Horto, que fica entre as praias de Itupanema e de Vila do Conde, que fazem parte do estuário do Rio Pará, que banha Belém e faz limite com o arquipélago do Marajó.

O canal foi construído em 1988, ainda no início do projeto, e era um auxiliar da estação de tratamento de rejeitos da Hydro Alunorte à época. “Todos na empresa sabem da existência do canal e como ele vem sendo utilizado de forma irregular”, garante a fonte.

Hamilton Vieira Santiago tem 53 anos, nasceu e foi criado na comunidade de Vila Rica, em Barcarena, e hoje é uma das lideranças locais que denunciam os crimes ambientais cometidos pela Hydro Alunorte. É em Vila Rica que fica a Praia do Horto, que teve a cor de sua areia totalmente transformada pela sedimentação dos resíduos despejados sem nenhum tratamento.

“A praia, que antes tinha areia amarelada, passou a ficar vermelha, cor do rejeito da bauxita”. No início da manhã e quando maré está baixa, a poluição causada pela Hydro é mais visível. “Sabemos que eles só abrem as comportas à noite e, por isso, pela manhã, podemos ver melhor a situação. É triste de olhar um lugar lindo deste sendo contaminado sem dó nem piedade por esta lama vermelha”, argumenta Hamilton.

Diversas denúncias contra a Hydro Alunorte começaram a ser divulgadas internacionalmente depois que, nos dias 17 e 18 de fevereiro, as comunidades no entorno da planta industrial da empresa foram invadidas por uma lama vermelha. Fotos mostraram, inclusive, o transbordamento das bacias de rejeitos da Hydro Alunorte.

A empresa até hoje nega o transbordamento ou qualquer dano a comunidades locais, embora tenha assumido que mantinha dutos clandestinos que despejam resíduos em igarapés e nascentes.

O canal que despeja resíduos na Praia do Horto, em Barcarena, está coberto por vegetação

A comporta conecta o canal principal que leva os resíduos industriais à Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) da Hydro Alunorte ao canal que joga resíduos sem tratamento na Praia do Horto

Toda vez que a ETE está proxima do seu limite máximo, a comporta é aberta para dar vazão aos resíduos, só que estes não foram tratados.

Os resíduos sem tratamento da Alunorte percorrem aproximadamente 700 metros até chegar à Praia do Horto

Na Praia do Horto, é possivel ver os resíduos vermelhos não tratados oriundos do beneficiamento da bauxita pela Hydro. A praia faz parte do estuário do Rio Pará, que alimenta a Baia do Guajará e esta banha Belém.

LAUDO

Um laudo emitido no dia 22 de fevereiro pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), que coletou as amostras de água em Barcarena após o evento do vazamento de rejeitos em fevereiro, apresentou números elevados de diversas substâncias nocivas aos seres humanos, como fósforo total, alumínio, nitrato e sódio, além da elevação da alcalinidade da águas, atestando uma situação de dano ambiental ao ecossistema local.

Ainda de acordo com laudo do IEC, as populações das três principais comunidades afetadas (Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba) possuem, em sua maioria, poços artesianos de baixa profundidade em casa, o que facilita a contaminação pelo resíduo. Uma estimativa prévia é de que pelo menos 300 pessoas tenham sido afetadas pelos vazamentos recentes. Entre os principais danos causados pela contaminação estão problemas dermatológicos e gástricos, além de possíveis danos respiratórios.

A Hydro é alvo de diversas denúncias do Ministério Público Federal (MPF) do Pará e de quase 2 mil processos judiciais por contaminação de rios e comunidades de Barcarena, que já é considerada uma das regiões mais poluídas da floresta amazônica. Além de enfrentar ações na Justiça, a empresa até hoje não pagou multas estipuladas pelo Ibama em R$ 17 milhões, após um transbordamento de lama tóxica em rios por uma de suas subsidiárias na região amazônica, em 2009.

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o vazamento colocou a população local em risco e gerou “mortandade de peixes e destruição significativa da biodiversidade”.

Semas sabe do despejo e é acusada de fazer vista grossa

O líder comunitário diz que já foi denunciado a diversos órgãos a existência do canal, mas até agora ninguém fez nada. De acordo com Hamilton Vieira Santiago, a própria Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) sabe desse despejo.

A informação, segundo a fonte interna da Hydro, teria sido comunicada por técnico da Semas durante uma oitiva no Ministério Público do Estado. “A gente sabe que a Semas faz vista grossa nas fiscalizações da Hydro. A utilização do canal é inegável”, afirma.

Depois dessa oitiva no Ministério Público, a empresa comunicou que o canal era utilizado apenas para despejo de águas pluviais (chuvas), o que a fonte interna da Hydro e lideranças comunitárias da região questionam. “A própria estrutura das comportas do canal que despeja efluentes no Rio Pará deixa claro que não há vazão de águas de chuvas. Ele funciona como um “ladrão” do canal principal que leva os resíduos para a bacia de tratamento”, diz a fonte.

(Mauro Neto/Diário do Pará)

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