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Nova vacina vai proteger mães do Zika vírus e bebês da microcefalia

Instituto Evandro Chagas diz que a vacina contra o Zika vírus deve chegar aos postos de saúde em até cinco anos. Enquanto isso, mães relatam o drama após diagnóstico da doença e o dia-a-dia de filhos que nasceram com microcefalia. Um sonho de vida ad

Instituto Evandro Chagas diz que a vacina contra o Zika vírus deve chegar aos postos de saúde em até cinco anos. Enquanto isso, mães relatam o drama após diagnóstico da doença e o dia-a-dia de filhos que nasceram com microcefalia.

Um sonho de vida adiado. Foi o que a jornalista Adriana Pereira, 30 anos, viveu após ser diagnosticada com o Zika vírus, em fevereiro de 2016. Ela estava fazendo acompanhamento médico para ter o primeiro filho, mas precisou interromper os planos quando começou a desenvolver os sintomas da doença: febre baixa, dor nos músculos e articulações, coceira, vermelhidão nos olhos e manchas vermelhas na pele.

Na maioria das vezes, a transmissão do Zika vírus ocorre através da picada do Aedes aegypti, mesmo mosquito que transmite febre amarela, dengue e chikungunya. Mas já existem casos de pessoas que foram contaminadas através da relação sexual sem uso de preservativo.

Uma das maiores complicações do Zika vírus ocorre quando a gestante é contaminada, o que pode causar microcefalia, uma grave doença neurológica, no bebê. Foi isso que fez Adriana adiar o sonho de ser mãe. "Parei de tomar anticoncepcionais e queria muito que meu filho nascesse ainda em 2016, mas, após meu diagnóstico, os médicos foram categóricos e disseram que eu deveria esperar, pelo menos, seis meses para engravidar".

Adriana e o marido começaram a buscar informações sobre a doença e decidiram não arriscar. "Voltei a tomar contraceptivos. Acompanhávamos as notícias e tínhamos muito medo da microcefalia". A jornalista esperou oito meses após o diagnóstico para engravidar, mas o receio continuava. "Depois que tive a doença, continuei usando repelente todo dia, passava a cada hora, para evitar ser picada pelo mosquito. Eu tinha repelente na bolsa, no carro e em casa. Fiquei paranoica", conta.

Adriana e o marido comemoraram o primeiro mês de vida de Pedro com festa em casa (Foto: arquivo pessoal)

Pedro, filho de Adriana, nasceu saudável, em junho deste ano. Mas nem todo mundo vive a mesma ser realidade. Em 2015, na sua segunda gestação, aos 21 anos, a dona de casa Wanessa Santos Brito recebeu a notícia de que seu filho nasceria com microcefalia. Com poucas informações sobre a doença, a notícia foi um grande choque para toda a família.

Três dias após descobrir que estava grávida, no início de novembro, Wanessa começou a apresentar manchas vermelhas pelo corpo, febre e coceira. “Naquela época, ninguém sabia detalhes sobre o Zika vírus, então achamos que era dengue. Fui com o meu obstetra e ele me alertou dizendo que eu tinha Zika, me explicou o que era, mas não disse nada da relação com microcefalia”, relembra.

Após vários sangramentos, Wanessa novamente procurou atendimento médico e descobriu que estava com a placenta baixa e que sua gravidez era de risco. Com a rotina de repouso, exames e consultas, ao final do sexto mês de gestação, ela ficou bastante gripada e passou mal. “Fui para o hospital e fiz um Ultrassom. O médico viu que a cabeça do meu filho era muito pequena para o tempo da minha gravidez. No dia seguinte, fomos ao obstetra e ele fez outra ultrassom para confirmar: meu filho nasceria com microcefalia; para piorar, ele teria um grave problema no coração e a Síndrome Dandy Walker, doença rara e que causa anomalias estruturais cerebrais e resultam de alterações no desenvolvimento do sistema nervoso central”, conta.

Segundo Wanessa, apesar do médico dizer que seu filho morreria momentos após o nascimento, ela e sua família nunca perderam a fé e a esperança. Guilherme, hoje com 1 ano e três meses, não nasceu com o problema no coração e nem com a síndrome rara, mas, devido a microcefalia, as dificuldades continuam sendo muitas.

“Muita coisa mudou na nossa vida. Após o nascimento, ele ficou quatro dias na UTI para fazer vários exames. Depois fomos para casa. O primeiro dia foi tudo bem, mas no dia seguinte ele chorava quase que 24h por dia. Eu não conseguia fazer mais nada, era só com ele no meu colo o tempo todo. Até que ele começou a tomar remédios e a agitação foi diminuindo. O choro, além de causar muito estresse, poderia causar uma convulsão”, relembra.

Wanessa e o marido Wendel Henrique, de 27 anos, precisaram se desdobrar entre os cuidados com o filho mais velho Eduardo, de 3 anos, o trabalho, os afazeres de casa e a atenção especial ao filho com microcefalia.

“Nossa rotina mudou completamente. Depois que o Guilherme nasceu, de segunda a sexta é médico o tempo todo. Hoje ele faz hidroterapia, fisioterapia e acompanhamento com uma fonoaudióloga, ambos pelo SUS. Também fazemos uma coleta de dinheiro entra a família para pagar uma terapeuta ocupacional que vai em casa uma vez por semana. Recentemente, o meu marido ficou desempregado e os custos só aumentam, são muitos gastos”, desabafa.

Wanessa relembra que, por pouco, não teve depressão e que o apoio da família e amigos continua sendo fundamental para superar os desafios diários. “Tive apoio de todos, além de acompanhamento psicológico. Não foi fácil, mas a minha fé me fez superar tudo isso. Logo no começo, quando descobri que meu filho nasceria com esse problema até o final do sétimo mês, eu estava bastante triste, sem saber o que fazer, mas depois consegui superar e fui buscar informações do que deveria fazer quando ele nascesse. Comecei a conversar com outras mães que têm filhos iguais ao meu e isso foi muito importante. Foi um baque muito grade, mas nós nos preparamos para recebê-lo”, conta emocionada.

Além das dificuldades, o preconceito e os olhares “de lado” de algumas pessoas não enfraquecem e desanimam a família do pequeno Guilherme. “Eu enfiei na minha cabeça que o meu filho era o mais importante e que as dificuldades não me interessavam. Todos próximos gostam muito dele, vêm visitar em casa. A microcefalia não muda em nada o amor pelo nosso filho. Sabemos que ele precisa de cuidados especiais, precisa de muito mais do que podemos dar a ele. E é isso que lutamos todos os dias, para conseguir mais tratamentos que possam influenciar no desenvolvimento dele. Fazemos com que ele participe de tudo, não excluímos ele de nada, pois achamos importante esse ambiente familiar”, conta Wanessa.

A mãe do pequeno Guilherme e do Eduardo só tem um desejo: que os filhos sejam felizes e que possam, um dia, ter mais proximidade.

“Quero que o Eduardo cresça, tenha um bom estudo, brinque e conquiste tudo o que quiser e acabo querendo que o Guilherme consiga fazer tudo o que o irmãozinho fez. Quero que os dois, um dia, consigam fazer as coisas juntos, que tenham essa proximidade que está faltando por causa da doença”.

PESQUISAS E TECNOLOGIAS CONTRA O ZIKA VÍRUS

O drama vivido pelas famílias de Adriana e Wanessa e de milhares de outras mães espalhadas pelo mundo poderia ter sido evitado. É o que garante o Instituto Evandro Chagas (IEC) - centro de referência mundial em tecnologias direcionadas à saúde pública - ao desenvolver, em parceria com a Universidade Medical Branch do Texas, Estados Unidos, a vacina contra o Zika vírus.

O estudo foi divido em várias etapas e comprovou a capacidade da vacina contra o Zika, impedindo, inicialmente, a infecção pelo vírus dentro do útero de fêmeas de camundongos. A equipe chefiada pelo médico e pesquisador Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto, também realizou testes em mosquitos e macacos.

A vacina vai imunizar as pessoas, intervindo com a população do Aedes aegypti, resultando no bloqueio da transmissão dos vírus pelo mosquito. Primeiramente, as pessoas serão vacinadas, depois, vão produzir anticorpos contra o mosquito. A partir daí, os mosquitos que picarem essas pessoas vão perder a capacidade em transmitir arboviroses como o Zika vírus, quebrando a cadeia de transmissão.

Fases

Segundo o pesquisador, os testes iniciaram em camundongos, pois são animais que não possuem defesa contra infecções virais. “Vacinamos primeiramente as fêmeas. Um mês depois de vacinadas, elas foram acasaladas. Quando estavam ao final da gestação, usamos o vírus selvagem que causa microcefalia e conseguimos demonstrar que aquelas fêmeas prenhas, quando infectadas pelo Zika selvagem, não desenvolviam microcefalia, não morriam, não tinham infecção nas placentas. Isso mostrou que a vacina protegia de forma segura o feto, que era o principal objetivo da avalição”, explica Pedro.

Outro grupo de camundongos fêmeas nas mesmas condições também acasalou e foi infectado pelo Zika vírus, mas não foi vacinado. Nesse caso, houve quase que 100% de mortes dos fetos, além de alta quantidade de vírus nas placentas. “Os que não morreram desenvolveram microcefalia e outras deformações congênitas, mostrando bem a diferença do grupo vacinado e do grupo não vacinado. Esse experimento foi crucial”, avalia.

Outra fase importante foi a análise da capacidade do vírus atenuado contido na vacina infectar o mosquito Aedes aegypti. Nenhum mosquito alimentado com sangue que tinha a vacina desenvolveu infecção, enquanto que 60% dos alimentados com sangue infectado com o vírus selvagem se infectaram com o Zika e poderiam propagá-lo para hospedeiros humanos.

Mesmo a injeção direta da vacina no mosquito Aedes aegypti não se mostrou capaz de infectá-lo, demonstrando dessa forma que a vacina produzida no IEC não é capaz de infectar o principal vetor do Zika vírus. “Esse resultado foi muito bom, porque, caso contrário, as pessoas vacinadas poderiam ser picadas pelo mosquito e transmitir Zika para outras pessoas, se também picadas”, explica.

Na fase final, os experimentos foram feitos em macacos Rhesus. Eles foram vacinados e infectados para ver se adoeciam ou e se tinham uma resposta robusta de anticorpos. “Não foi detectado vírus no sangue dos animais que foram previamente vacinados. Eles sobreviveram sem nenhuma alteração, demonstrando que um animal muito próximo na escala evolutiva do ser humano estava protegido contra o Zika vírus”, conta Vasconcelos.

“Os testes demonstraram que, vacinados, os animais davam uma resposta muito boa mediante a formação de anticorpos, ativação e produção de citocinas específicas (grupo de moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes), além de estimulação das células do sistema imunológico, principalmente de linfócitos T e B. Foi mostrado que eles tinham uma robustez de resposta muito boa dentro do que se esperava realmente”, explicou o pesquisador.

Vários testes já chegaram ao fim, mas os pesquisadores do Evandro Chagas continuam fazendo experimentos com macacos de outras espécies (“verde africano” e “de cheiro”) para ver se a resposta é semelhante com a do macaco Rhesus. Os experimentos devem encerrar em dezembro deste ano ou janeiro de 2018, segundo Pedro Vasconcelos.

Após as pesquisas do IEC, a Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, será responsável por produzir a vacina em larga escala, inclusive para ensaios clínicos. “Depois disso, há uma série de procedimentos administrativos, como obter autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTBio), além do registro e licença para experimentos em humanos, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)”, explicou o pesquisador.

A expectativa é de que a vacina esteja disponível nos postos de saúde dentro de três a cinco anos.

Segundo o diretor do IEC, o objetivo da vacina é imunizar mulheres em idade fértil e seus parceiros, além de crianças de até 10 anos de idade.

Investimentos, prevenção e novo surto de Zika vírus

Segundo o Ministério da Saúde, ao todo, cerca de R$ 130 milhões, até o momento, foram comprometidos para o desenvolvimento de vacinas, soros e estudos científicos para as doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti.

Para Pedro Vasconcelos, os investimentos ajudaram no desenvolvimento da vacina em um curto prazo. “Nunca uma vacina foi desenvolvida em um prazo tão rápido quanto esta. E isso se deve a pronta liberação de recursos do Ministério da Saúde, a expertise do nosso pessoal e da universidade do Texas, e o desenvolvimento das tecnologias científicas. Isso fez com que a gente obtivesse essa vacina praticamente em tempo recorde”, afirmou.

O diretor do Instituto Evandro Chagas revelou que o investimento do Ministério da Saúde nas pesquisas do IEC e Universidade do Texas representou em torno de R$ 10 milhões. “Como o Zika era uma emergência em saúde pública, de interesse nacional e internacional, os órgãos de fomento e o próprio Ministério da Saúde tiveram uma celeridade nos processos burocráticos de liberação de recursos, inclusive vindo fundos da Presidência da República”, disse.

Foi o grupo de pesquisadores do IEC que demostrou pela primeira vez a conexão do Zika Vírus com a microcefalia. As confirmações vieram depois por outras instituições tanto do Brasil, quanto do exterior.

Segundo Vasconcelos, a curiosidade e as investigações científicas fizeram com que os pesquisadores se envolvessem totalmente na busca por soluções ao problema e ao surto da doença vivido no Brasil. “O impacto do Zika foi muito grande na população. O custo não só financeiro, mas social, foi e é muito grande. Na minha condição de pesquisador, cientista, médico e pai, isso me sensibilizou e exigiu muito de mim”, diz.

Uma doença que impactou a vida e a saúde de inúmeras famílias -- principalmente afetando uma área de grande apelo social, que é o caso da gestação e da criança recém-nascida -- por si só já demonstra a importância da vacina, mas, para os pesquisadores envolvidos no processo, isso vai além: é necessária a preparação de um instrumento que socorra a população quando ocorrer uma segunda onda epidêmica de Zika. “Nossos esforços são no sentido de desenvolver o mais rapidamente possível uma vacina, já que temos convicção de que uma nova onde epidêmica deve ocorrer no Brasil daqui a cinco ou 10 anos”, diz o cientista.

Prevenção

A pediatra e pesquisadora clínica da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do IEC, Consuelo Silva de Oliveira, também destaca a importância da vacina ao impactar positivamente na humanidade em caso de uma nova epidemia. “A vacina é uma grande estratégia de prevenção de doenças e, no caso de Zika, a necessidade aumenta no sentido de prevenir o nascimento de bebês com más formações e complicações neurológicas”, enfatiza.

Oliveira acredita que as pesquisas devem priorizar estudos e avanços tecnológicos que contribuem para o desenvolvimento de bebês com microcefalia em decorrência do vírus.

MICROCEFALIA

Somente de janeiro até 1º de julho deste ano, o Brasil registrou 391 casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso, sugestivos de infecção congênita, segundo dados do Ministério da Saúde. Permanecem em investigação 2.763 casos notificados em 2017.

Desde o início das investigações, em outubro de 2015, foram notificados ao Ministério da Saúde 14.144 casos. Destes, 6.146 (43,5%) foram descartados por apresentarem exames normais ou por apresentarem microcefalia ou malformações confirmadas por causa não infecciosas. Além disso, 157 (1,1%) foram classificados como prováveis para relação com infecção congênita durante a gestação. Também 1.866 (13,2%) foram excluídos após investigação, por não se enquadrarem na definição de caso. Outros 2.844 (20,1%) casos foram confirmados e 3.131 (22,1%) continuam em investigação.

No Pará, segundo balanço divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), desde 2015 até o início do mês de agosto deste ano, foram confirmados 23 casos de microcefalia por relação com o Zika vírus.

Após diagnóstico de microcefalia confirmado

O Instituto Evandro Chagas faz o acompanhamento de grávidas que procuraram atendimento por suspeita de Zika desde o auge da epidemia, em 2016, até o desfecho da gravidez. Segundo Consuelo Silva de Oliveira, o acompanhamento é gratuito e obedece a todas as normas éticas em estudo clínico que envolve seres humanos.

“O estudo clínico em andamento faz o acompanhamento de bebês alinhado com as recomendações do Ministério da Saúde, observando as crianças que nasceram de mães com diagnóstico confirmado de Zika. Pelos estudos atuais demonstrarem que, além de má formações congênitas, como a microcefalia, este segmento é de suma importância para detectar outras anomalias, como surdez, atraso motor, convulsões e outras complicações. Está previsto o acompanhamento das crianças nascidas deste grupo de grávidas por até dois anos de idade”, explica.

Ainda segundo Consuelo, as crianças em acompanhamento são agendadas para avaliação clínica com o pediatra no intervalo de dois a três meses, além de realizarem e completarem a triagem neonatal com exame de mapeamento de retina e teste auditivo específico, pelos olhos e ouvidos serem órgãos alvos do Zika vírus. “Se for detectado algum sinal ou sintoma neurológico, a criança é encaminhada para avaliação com o neurologista pediátrico da equipe de estudo”, ressalta.

A professora Rosenildes Fernandes Ribeiro de Almeida, de 43 anos, também viveu o drama do diagnóstico do Zika. No terceiro mês da sua terceira gestação, ela descobriu que havia sido infectada pelo vírus. Rosenildes acredita que tenha sido picada pelo mosquito na escola onde trabalhava.

“Minha gravidez já era de risco por causa da minha idade. Até o segundo mês, minha filha estava se desenvolvendo naturalmente. Por volta do terceiro mês, contraí o vírus da Zika. Meu mundo caiu”, relembra.

Após o diagnóstico, ela procurou o Instituto Evandro Chagas para que sua gravidez e sua filha, após o nascimento, fossem acompanhadas. “O Instituto foi monitorando tudo do bebê. Eu me sentia assistida, mas emocionalmente abalada. A cada ultrassom, a cabecinha dela não se desenvolvia, mas, por um centímetro, ela estava livre da suspeita de microcefalia. Isso nos deu um certo alívio, até que vimos uma reportagem que dizia que o vírus poderia causar, além da má formação, outras sequelas”, conta.

Emocionada, Rosenildes lembra que, após o parto, Maria passou por inúmeros testes específicos. “No hospital, foram feitas todas as triagens possíveis. Com 18 dias de vida, ela entrou no aparelho de ressonância magnética para detectar se havia alguma sequela neurológica ou óssea”.

O nome da criança, que seria apenas Maria, ganhou um reforço de peso e, por sugestão do irmão mais velho, de apenas oito anos, a criança foi registrada como Maria Vida. Ela está prestes a completar 1 no de idade.

A família da menina respira com mais tranquilidade, mas o acompanhamento com especialistas continua. “Hoje, vamos a cada dois meses ao Instituto, com a mesma equipe que me acompanhou desde a gravidez. A Maria Vida está super saudável e tem todas as caraterísticas de um bebê dito normal, mas, até chegarmos a essa conclusão, foi uma luta diária. A caminhada continua, já que o Instituto só elimina todas as dúvidas quando a criança completa dois anos de idade, para ter a segurança de que está tudo bem”.

Quase um ano depois do surto - mesmo com o fim da emergência nacional, decretado em maio de 2017 - muitas incertezas ainda persistem sobre o Zika vírus e sobre a microcefalia. Ações de enfrentamento continuam mantidas por todo Brasil e, segundo o Ministério da Saúde, o investimento em novas tecnologias é um dos eixos do Plano Nacional de Enfrentamento ao Aedes aegypti e à microcefalia, lançado pelo Governo Federal em dezembro de 2015.

ZIKA: DAS CONSEQUÊNCIAS GRAVES À MORTE

O surto de Zika vírus alarmou o mundo inteiro e ganhou força no Brasil após ser confirmado laboratorialmente em 2015. As primeiras amostras confirmadas da doença vieram de pacientes do município de Camaçari, na Bahia.

Com o País atingido por uma das maiores epidemias da história, o Ministério da Saúde chegou a decretar, em novembro de 2015, situação de emergência em saúde pública de importância nacional por Zika e microcefalia.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também havia declarado situação de emergência em saúde pública mundial por causa do problema, em fevereiro de 2016. Em novembro do mesmo ano, a entidade anunciou o fim da emergência internacional.

O cenário assustador também fez a OMS recomendar que mulheres adiassem a gestação após a relação entre o Zika e a microcefalia deixar de ser dúvida e pesquisas indicarem que os efeitos do vírus em bebês iriam além, com comprometimentos motores, visuais e auditivos.

O problema que aparentemente parecia limitado à região Nordeste, se alastrou por todo país, atingindo também outras nações. O Zika vírus passou a ser o vilão da saúde internacional. O temor de uma rápida propagação da doença aumentou após a confirmação de que o vírus também pudesse ser transmitido sexualmente.

Na época, a OMS chegou a emitir um alerta, informando que o surto de Zika poderia afetar entre 3 e 4 milhões de pessoas em todo o Continente Americano.

O vírus também pode causar a Síndrome de Guillain-Barrém, uma reação muito rara a agentes infecciosos, como vírus e bactérias, e tem como sintomas a fraqueza muscular e a paralisia dos músculos.

Os sintomas começam pelas pernas, podendo irradiar para o tronco, braços e face. A síndrome pode apresentar diferentes graus de agressividade e o principal risco é quando ocorre o acometimento dos músculos respiratórios, devido à dificuldade para respirar, podendo levar à morte, caso não sejam adotadas medidas de suporte respiratório.

O fim da declaração de emergência em saúde ocorreu em momento de queda dos casos da doença. Segundo o Ministério da Saúde, entre os pontos da avaliação de risco determinados internacionalmente é que o evento seja considerado incomum ou inesperado, o que não ocorre mais, visto que já há conhecimento científico suficiente que comprove a relação do Zika e as alterações neurológicas.

Entretanto, apesar da diminuição de casos apontados pelo Ministério da Saúde, no Pará, o número aumentou.

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificações (SINAN), da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), apontam que entre os dias 1º de janeiro e 23 de junho de 2017, foram confirmados 274 casos de Zika vírus no Estado. Já no mesmo período do ano passado, foram registrados 163 casos.

Segundo a Sespa, desde 2015, o município de Xinguara, no sudeste paraense, foi o que mais registrou a doença, com 306 casos confirmados, seguido das cidades Afuá e Parauapebas. Veja número dos locais mais afetados no Pará:

Números nacionais em 2017

De acordo com o Ministério da Saúde, até o dia 24 de junho deste ano, foram registrados 13.353 casos de Zika em todo o país, uma redução de 93,5% em relação a 2016, quando foram registrados 205.578 casos.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, a análise da taxa de casos prováveis mostra uma baixa incidência em todas as regiões geográficas até o momento. Os dados apontam que as regiões Centro-Oeste e Norte foram as mais afetadas, apresentando as maiores taxas de incidência: 23,1 casos/100 habitantes e 15,7 casos/habitantes, respectivamente.

O Ministério da Saúde informou que em relação às gestantes, foram registrados 1.887 casos prováveis, sendo 563 confirmados por critério clínico-epidemiológico ou laboratorial. Não houve registro de óbito por Zika em 2017 no País, enquanto que no ano passado foram registradas oito mortes.

Combate

O Governo Federal, em conjunto com outros órgãos envolvidos no tema, mantém a política de combate ao Zika, dengue e chikungunya, assim como os estados e municípios.

Além das ações coletivas, é necessário conscientizar toda população da importância do reforço dos cuidados individuais para eliminar possíveis criadouros, independente da época do ano.

Em 2016, o Ministério da Saúde criou uma cartilha com diversas informações sobre o Zika vírus e cuidados para evitar e combater a doença.

O departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pelotas (DMS-UFPel) também lançou um hotsite “Todos contra o Aedes Aegypti”, destinado aos gestores que precisam combater o mosquito, além de alternativas que protejam o meio ambiente e a saúde das pessoas.

No Pará, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) tem atuado no controle e vigilância de casos suspeitos, por meio da Sala de Situação, que articula parcerias com o Exército Brasileiro nas ações de combate ao mosquito Aedes aegypti. Os soldados já estiveram em campo nos municípios de Ananindeua, Belém, Marabá, Marituba, Rio Maria, Sapucaia, Tucuruí e Xinguara, treinados e capacitados para lidar com diversas situações junto à educação da população.

Mesmo com o fim da emergência nacional, muitas incertezas ainda persistem sobre a doença. Ações de enfrentamento continuam mantidas por todo Brasil e, segundo o Ministério da Saúde, o investimento em novas tecnologias é um dos eixos do Plano Nacional de Enfrentamento ao Aedes aegypti e à microcefalia, firmado no final do ano passado.

Reportagem: ANDRESSA FERREIRA

Coordenação e edição: ÂNGELA BAZZONI

Fotografia e multimídia: MAYCON NUNES

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