Cinco anos após morte de estudantes, parentes ainda lamentam perda e demora no processo

O mês de julho é geralmente associado a festas e férias, mas para alguns paraenses a data é sempre marcada por tristeza. No próximo domingo (16), uma das maiores tragédias da história recente do Estado completará cinco anos: o acidente com o ônibus da empresa Fantasy Turismo, que levava um grupo de estudantes para um congresso no Paraná, que resultou na morte de 10 jovens. Para quem viveu o drama de perto, o sentimento ainda é de revolta e saudades.

"Domingo o acidente irá completar cinco anos, mas hoje, sexta-feira (14), minha filha completaria 25 anos. É uma saudade que vou levar para sempre", afirma José Maria, pai da estudande Thamiris, vítima do acidente. "É uma dor que nada compensa".

O ônibus que levava os estudantes caiu de uma ribanceira na rodovia PR-090, entre os municípios de Ventania e Piraí do Sul, após colidir na lateral de um caminhão. Laudos periciais apontaram que o motorista do coletivo estava acima da velocidade permitida na via, e ele foi responsabilizado pelo caso, sendo condenado a 4 anos e oito meses de prisão em regime semi-aberto. A defesa dele chegou a recorrer da sentença, mas no começo do mês, a Justiã do Paraná decidiu pela manutenção da pena.

"Agora estamos esperando a comunicação dessa decisão. Quero ver ele pagando", continuou José Maria. "Eu gostaria que ele pagasse com a mesma moeda, mas a Justiça brasileira não haje dessa forma. Mesmo assim, acho uma situação boa. Vou me sentir mais completo depois que souber que ele está cumprindo a pena".

A pena do motorista, entretanto, não foi vista de forma tão positiva pelo estudante Fernando Gama, um dos sobreviventes do ocorrido. "Com certeza, não foi uma decisão justa. Houve uma pena muito branda. Quando a pessoa assume a responsabilidade, precisa se manter atenta. Tem que ter uma experiência comprovada ao longo da carreira para dirigir nesses trechos", afirmou o estudante.

"Outro ponto importante é que tive a informação que o motorista já tinha corrido aquele mesmo trecho antes, tinha consciência do que estava fazendo. Uma pena leve assim causa uma sensação de desconforto na gente".

Fernando também lembra que o processo após o acidente foi marcado por outros problemas, como o pagamento de indenizações. "A empresa sempre delegou a função das indenizações para a seguradora. Entendemos como uma falta de respeito, pois a empresa teria que se responsabilizar por isso, assumir algumas questões. O contrato foi firmado com a empresa, o pagamento das passagens foi feito para a empresa, e não para a seguradora", continuou Fernando. "Mas isso é o meu ponto de vista. Não sei sobre o ponto de vista jurídico".

Já formado no curso de ciência da computação, Fernando agora dá novos passos na vida profissional e pessoal, mas sempre sem esquecer do ocorrido em 12 de julho de 2012.

"Sempre passa um filme na cabeça quando vejo algo relacionado ao acidente. Foi um caso de grande repercussão, é difícil conhecer alguém que não tenha ouvido falar do caso. Foi algo determinante para o resto da minha vida", concluiu Fernando.

"Consegui minha formatura, estou crescendo profissionalmente e academicamente, e isso traz um misto de felicidade e tristeza. Felicidade por conseguir realizar meus sonhos, mas tristeza e saudades em saber que eles também tinham sonhos. Sobre isso, com os resultados da investigação, fica um sentimento ainda de revolta".

(Gustavo Dutra/DOL)