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PARÁ QUE ORGULHA E TRANSFORMA

Educação: os primeiros passos para o futuro

Criado em Icoaraci em 2017, cursinho popular ajuda a transformar a realidade de jovens e moradores do distrito com educação gratuita. Uma iniciativa que gera esperança a partir dos bancos das salas de aula

Imagem ilustrativa da notícia Educação: os primeiros passos para o futuro camera Eduarda e Marcelle ajudam a mudar a realidade de pessoas do distrito através da educação popular e gratuita | Celso Rodrigues / Diário do Pará

O acesso a uma universidade pública pode representar mais do que uma conquista pessoal, mas um movimento coletivo para que outros estudantes vindos de escolas públicas ou das periferias da cidade também encontrem a chance de estar nesse mesmo lugar. Foi pensando em construir essa ponte de acesso entre as periferias e a universidade pública que um grupo de estudantes ativistas do movimento estudantil se reuniu para, voluntariamente, criar um cursinho gratuito centrado na educação popular e nos direitos humanos, o Ágora. Em atividade no distrito de Icoaraci desde 2017, a iniciativa já ajudou a transformar a realidade de outros jovens e moradores do distrito.

Eduarda e Marcelle ajudam a mudar a realidade de pessoas do distrito através da educação popular e gratuita
📷 Eduarda e Marcelle ajudam a mudar a realidade de pessoas do distrito através da educação popular e gratuita |Celso Rodrigues / Diário do Pará

Foi dentro de uma sala de direção de centro estudantil, que os alunos de diferentes licenciaturas da Universidade do Estado do Pará (Uepa) decidiram colocar no papel o projeto que deu origem ao Cursinho Popular Ágora, contemplando o que eles acreditavam que deveria ser o papel de uma universidade pública. Ainda estudante da graduação, Marcelle Lebrego, 27 anos, era uma entre os que deram início ao projeto. Hoje, já graduada, a professora de filosofia é coordenadora geral do cursinho. “Basicamente, o projeto surgiu dentro do movimento estudantil do campus de educação da universidade”, lembra. “A gente via que a maioria das pessoas pensavam que estavam ali para se formar e, quando saísse dali, conseguir um emprego e seguir com a sua vida. Mas a gente pensava que, talvez, a universidade não devesse ser isso, que a universidade poderia ser um caminho, também, para a gente construir uma sociedade melhor”.

Todos esses assuntos a respeito do papel das universidades públicas eram normalmente debatidos pelos estudantes e, a partir dessas reflexões, surgiu a ideia do cursinho. “A gente pensou ‘porque a gente não monta um cursinho e oferece aula de forma gratuita para essa galera fazer o vestibular?’. Mas a gente não queria oferecer apenas a aula da matriz do Enem, mas também trabalhar conceitos de direitos humanos e cidadania para que eles também entendessem que estar na universidade pública não é só para eles, individualmente, mas para a construção de uma sociedade melhor, principalmente para a gente, que mora na periferia”.

Os envolvidos no projeto eram todos alunos de graduação de vários cursos, desde pedagogia, história, filosofia, geografia, até os cursos da área de ciências biológicas. Com isso, os coordenadores do projeto foram convocando outros estudantes que quisessem ser voluntários no cursinho. Desde o início, ainda em 2017, o cursinho sempre funcionou em parceria com escolas públicas localizadas no distrito de Icoaraci, que disponibilizam o espaço físico para que as aulas aconteçam. Durante o período da pandemia, as atividades presenciais foram suspensas, mas as aulas continuaram de forma on-line, mesmo com todas as dificuldades que o modelo impõe. “Tivemos uma dificuldade muito grande porque muitos dos nossos alunos, que são o público-alvo do projeto, não têm dinheiro para manter uma internet de qualidade, toda uma estrutura necessária para fazer as aulas on-line”, aponta Marcelle. “Mesmo assim, ainda conseguiram fazer a prova e a gente teve algumas aprovações desse grupo que ficou on-line, que conseguiu ficar”.

Seja nas aulas presenciais, ou nas aulas on-line motivadas pela situação da pandemia, todo o trabalho desenvolvido pelos professores e pela coordenação do cursinho é voluntário e o curso é inteiramente gratuito, voltado para alunos e egressos de escolas públicas. “Mesmo o cursinho já tendo iniciado aqui em Icoaraci, a gente conseguiu muitos professores de outros bairros. Tem muita gente de Ananindeua, da Pedreira, do Guamá, da Terra Firme que se desloca para cá para ministrar as aulas voluntariamente”, explica a coordenadora geral, ao apontar que, entre coordenadores e professores, o curso conta com 53 voluntários. “A gente mantém uma equipe de no mínimo quatro professores por disciplina e cada professor vem dar aula um final de semana por mês”.

Prática

Graduanda de sociologia, Eduarda Canuto, 24 anos, é uma das professoras voluntárias do Ágora, além de integrar a coordenação. Ela conta que ficou sabendo do projeto dentro da própria universidade e viu no voluntariado uma oportunidade de exercitar a prática da docência, além de contribuir para que outras pessoas pudessem chegar ao ensino superior. “Eu fiquei sabendo do cursinho na universidade, me inscrevi para a seleção de professores voluntários e iniciei em 2018. É claro que a gente não inicia já dando aula, começamos como monitores e depois que a gente vai adquirindo experiência, a gente começa a dar aula sozinho”, explica. “A educação popular tem um sentimento muito importante que é o de levar uma educação democrática para todo mundo. Então, quando a gente inicia dentro de um cursinho popular, a gente já tem que ir com essa consciência de que a gente está fazendo parte de um movimento maior que é a educação popular”.

Moradora do distrito de Icoaraci, Eduarda não esconde a satisfação de poder contribuir com a democratização do acesso à universidade dentro da comunidade em que ela própria vive. “É uma das coisas que me orgulho muito porque eu venho do ensino público. Eu não tive oportunidade de fazer um cursinho popular, então, poder fazer parte de um projeto que está atendendo uma comunidade que é carente é muito importante para mim, sendo moradora daqui, indo para uma universidade que ainda é difícil o acesso das pessoas que moram na parte periférica de Belém e voltar para cá atuando dentro de um cursinho popular é muito significativo”, considera. “Uma coisa importante é que o cursinho não forma os alunos apenas para o Enem, a gente também trabalha a questão da cidadania. A gente tem no nosso lema trazer um pouco dos direitos humanos, abordando temas socioambientais, raciais, de gênero”.

Amanda foi aprovada no cursinho e voltou como professora
📷 Amanda foi aprovada no cursinho e voltou como professora |Reprodução

A formação crítica proporcionada pelo cursinho fez a diferença na história da graduanda em letras – língua portuguesa, Amanda Pessoa, 21 anos. Ex-aluna do Ágora, ela não apenas conseguiu conquistar uma vaga na universidade pública, como fez questão de retornar ao cursinho, agora, como professora voluntária. “O Ágora me ajudou muito, principalmente na minha formação crítica. Eu tinha uma visão muito fechada e centrada de mundo. Dentro do Ágora tínhamos bastante aulas voltadas para os direitos humanos e foi muito importante nessa construção crítica, o que também me ajudou muito com o repertório social para a redação do Enem”, lembra. “Me ajudou a entender qual é a importância desses movimentos sociais para a sociedade porque foi por intermédio do Ágora que eu consegui adentrar na universidade”.

Amanda lembra que foi durante as aulas do cursinho popular que ela percebeu que queria seguir a carreira da docência, prestando vestibular para o curso de letras. “Como o Ágora tinha tido uma extrema importância na minha vida, eu decidi, desde que eu entrei na universidade, que eu iria ajudar da melhor forma o cursinho. Quando abriu a seletiva para professores voluntários em 2020, e fui tentar”, conta. “É uma sensação maravilhosa ajudar o Ágora, esse projeto social que é muito importante para que cada vez mais pessoas de baixa renda adentrarem nas universidades. Mesmo depois de formada, eu vou continuar no Ágora porque foi uma experiência muito boa, me ajudou muito e o que me motivou a voltar como professora foi também poder ajudar a entregar para as pessoas essa oportunidade de poder adentrar as universidades públicas”.

Popular

Mais do que transformar a própria vida através do acesso a uma universidade pública, um grupo de alunos de diferentes graduações da Uepa decidiu se unir para contribuir com a transformação de outras pessoas, oriundas das escolas públicas, através do ensino superior. Assim nasceu, em 2017, o Cursinho Popular Ágora, que através do trabalho inteiramente voluntário de professores e coordenadores, disponibiliza aulas gratuitas para alunos oriundos de escolas públicas que estão em preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

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