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ANIVERSÁRIO DE BELÉM

Cotijuba: conheça a ilha que melhor representa a história de Belém

A história da ilha está ligada com a história da capital paraense a partir do século passado

Imagem ilustrativa da notícia Cotijuba: conheça a ilha que melhor representa a história de Belém camera Vai quem quer. Praia e floresta no mesmo local. | Mateus Breyer

Poucas pessoas sabem, mas Belém, que hoje (12) completa 405 anos, possui nada menos que 42 ilhas. Cotijuba é a terceira maior delas e talvez seja a que melhor represente a história da capital paraense a partir do século passado.

A Belém daquela época tem semelhanças com a atual. A partir da década de 20 a explosão da pobreza e da violência urbana sufocava a vida dos belenenses.

A cidade já não era mais o reino da borracha e o período de ascensão econômica chegara ao fim. Não havia trabalho suficiente e a miséria acossava grande parte da população, entre os quais muitas famílias que haviam deixado o interior em busca de uma promessa de vida mais digna na capital.

É nesta parte da história que a ilha de Cotijuba, que até então era desabitada, aparece.

Pressionado em arranjar uma solução para o flagelo social que Belém havia se tornado, o intendente (o que equivale a governador) Magalhães Barata mandou criar em Cotijuba, no ano de 1932, o Educandário Nogueira de Farias.

O governador achara que, com a medida, matava dois coelhos com uma só cajadada. Ao mesmo tempo em que construíra um local onde podia, ao menos em tese, educar os jovens delinquentes que aterrorizavam a elite de Belém, os mantinha totalmente isolados em uma ilha que até então era considerada inóspita.

Homem toca música para criança em frente às ruínas do presídio.
📷 Homem toca música para criança em frente às ruínas do presídio. |Igor Wilson

Foi logo na entrada da ilha que Magalhães Barata escolheu o local para construir o reformatório.

As ruínas estão até hoje de pé, como que recebendo os milhares de turistas que desembarcam em Cotijuba todo final de semana e fazendo questão de lembrá-los: ‘aqui jaz o sofrimento’.

Não foi fácil até este ciclo de violência morrer. Foram mais de quatro décadas de reformatório e nenhum jovem reformado.

A política de combater pequenos infratores com tortura sob o disfarce de educação só agravou mais o caos social e começou a dar problemas para a imagem da capital. Era preciso uma outra solução.

Foi então que, em 1968, o governo de Alacid Nunes teve a ideia de criar um presídio dentro do educandário. Jovens infratores e presos de alta periculosidade, juntos.

Vegetação é o teto das ruínas, hoje abertas a qualquer um que queira visitar.
📷 Vegetação é o teto das ruínas, hoje abertas a qualquer um que queira visitar. |Igor Wilson

Durante algum tempo, reformatório e presídio coexistiram sob a égide da tortura e da morte. Muitos são os relatos do que acontecia na ilha, alguns contados pelos descendentes de quem presenciou a rotina no local.

“Meu pai trabalhou no presídio durante um tempo. Eu sei que ele matou e torturou muita gente por lá. Na época ele era da polícia, mas tipo uma polícia escondida sabe? Na verdade ele e outras pessoas faziam o serviço sujo da polícia. Minha mãe viveu com ele lá na ilha e conta as histórias que ele contava pra ela sobre o trabalho dele, que era torturar pessoas. Mesmo morando em Icoaraci eu não vou lá, não posso sequer dizer que ele era meu pai, pois tem muita gente que tem ódio dele até hoje aqui”, conta à reportagem um morador de Icoaraci, que por questões de segurança preferiu não se identificar.

O reformatório foi encerrado e a colônia penal ocupou todo o espaço. Os jovens já não precisavam mais de educandário, e sim de presídio.

Com a criação do Centro de Recuperação Fernando Guilhon, em 1977, o presídio de Cotijuba foi fechado.

Após 44 anos, a ilha, cujo o povo Tupinambá foram os primeiros habitantes, encerrava o ciclo o terror e dava início a um longo processo de cura.

O objetivo era tentar mostrar que já não havia espaço para o terror em um local de beleza tão esplêndida e rara.

COTIJUBA HOJE

Cotijuba: conheça a ilha que melhor representa a história de Belém
📷 |Mateus Breyner

Desde 1990 Cotijuba ganhou o status de Área de Preservação Ambiental (APA). São 60 Km quadrados e uma costa com mais de 20 Km de praias praticamente inexploradas. Para se chegar a ilha, é preciso pegar um barco no distrito de Icoaraci. A viagem dura cerca de 35 minutos pela instável Baía do Guajará. Os barquinhos, geralmente feitos de madeira, dão o tom da aventura tipicamente amazônica que está por vir.

Apesar da pouca distância da capital, chegar em Cotijuba é realmente como voltar ao passado.

A primeira coisa a se perceber é o silêncio da floresta, suficiente para se conseguir ouvir o canto dos pássaros e o balanço do vento. A tranquilidade encanta a paraenses e brasileiros de diversos estados.

Cotijuba vista da proa do barco. Viagem dura de 35 a 40 minutos.
📷 Cotijuba vista da proa do barco. Viagem dura de 35 a 40 minutos. |Igor Wilson

"Conhecer Cotijuba, posso afirmar, mudou minha perspectiva de mundo. Eu, até então carioca da gema, típico sudestino ignorante, ignorava também as possibilidades da Amazônia. Gosto carinhosamente de me referir a ilha como a 'Princesinha da Amazônia', alusão a praia onde fui criado quando criança, Copacabana", diz à reportagem Mateus Breyner, carioca apaixonado pela ilha belenense. Tão apaixonado que diz que Cotijuba nada perde se comparada à Copacabana.

"Embora Copacabana seja a famosa referência de turismo no Brasil, eu, particularmente, afirmo com convicção que restringir as nossas potencialidade turísticas às praias mais conhecidos e vendidas lá fora é um desperdício de possibilidades", diz Mateus, que acampou na ilha pela primeira vez na vida.

Mateus é carioca e leva a ilha de Cotijuba no coração.
📷 Mateus é carioca e leva a ilha de Cotijuba no coração. |Mateus Breyer
Praia da Flecheira e seu visual esplêndido.
📷 Praia da Flecheira e seu visual esplêndido. |Mateus Breyer

Logo na entrada da cidade há uma movimentação de mototaxistas e vendedores de comidas regionais, opções de trabalho que movimentam a economia da ilha, ainda em período de incubação.

Carros são proibidos em Cotijuba, o que ajuda na manutenção da energia de tranquilidade. Ao fundo da movimentação de trabalhadores, as ruínas do educandário presídio.

Ao longo do percurso por avenidas de piçarra, vê-se muitas casas, o que evidencia o número de habitantes cada vez maior na ilha. Cotijuba possui aproximadamente oito mil habitantes e o número de construções não para de subir. Em um destes caminhos, ainda é possível encontrar as ruínas da imponente casa de Magalhães Barata.

Cotijuba: conheça a ilha que melhor representa a história de Belém
📷 |Reprodução
Praias de Cotijuba costumam ser tranquilas e silenciosas, ideal para quem deseja descanso.
📷 Praias de Cotijuba costumam ser tranquilas e silenciosas, ideal para quem deseja descanso. |Mateus Breyer

Na língua Tupinambá, Cotijuba significa “trilha dourada”. O tempo mostrou que o encanto dos indígenas com o local tinha motivos. Se justificava em cada espécie de árvore no local, em cada peixe de seus rios e igarapés.

Ao visitarmos Cotijuba, fica difícil imaginar os terrores cometidos diante de tanta beleza. As praias mais procuradas pelos turistas são Vai quem quer, Praia do Amor, Praia Funda, Flecheira ou a do Farol. O caminho, geralmente feito de moto ou de charrete puxada a trator, nos traz uma outra Belém, uma Belém que, mesmo com as feridas do passado, perdoa a todos e compartilha com amor sua beleza magnifica.

Mãe e filha se divertem em uma das ruas da ilha.
📷 Mãe e filha se divertem em uma das ruas da ilha. |Igor Wilson
Praia do Vai quem Quer.
📷 Praia do Vai quem Quer. |Mateus Breyer
Praia Funda. uma das praias mais tranquilas de Cotijuba.
📷 Praia Funda. uma das praias mais tranquilas de Cotijuba. |Jobson Cruz
Cotijuba: conheça a ilha que melhor representa a história de Belém
📷 |Mateus Breyer
A janela mostra a Belém contada por Cotijuba.
📷 A janela mostra a Belém contada por Cotijuba. |Igor Wilson
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