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Região Norte

70% dos professores utilizarão mais tecnologia no ensino após pandemia

Este índice da Região Norte é o menor dentre todas as regiões do país, segundo pesquisa sobre conectividade e tecnologia nas escolas realizada pelo Instituto Datafolha, sob encomenda da Fundação Lemann

Imagem ilustrativa da notícia 70% dos professores utilizarão mais tecnologia no ensino após pandemia camera Darlene da Silva Monteiro | Irene Almeida

No período de poucos dias, a pandemia do novo coronavírus impôs o uso da tecnologia em diferentes processos educativos. Se antes da situação inédita para a geração atual os conceitos de aula remota e a distância figuravam no ensino superior, de uma hora para outra a educação básica também se viu diante da necessidade emergencial de lidar com tais conceitos.

Com processos tão característicos e realidades tão distintas, a manutenção do contato entre professores e alunos vem sendo um desafio constante, sobretudo para a educação pública. Com a pandemia ainda em curso, o questionamento que fica é se será possível voltar ao modelo anterior após o encerramento da pandemia ou se a maior relação entre conectividade e ensino é um caminho sem volta.

Uma pesquisa sobre conectividade e tecnologia nas escolas realizada pelo Instituto de Pesquisas Datafolha, sob encomenda da Fundação Lemann, aponta a opinião dos professores da rede pública de todo o país sobre o uso da tecnologia durante e após a pandemia. Para o estudo, foram entrevistados 1.005 professores da rede pública dos ensinos fundamental e médio de escolas das redes estadual e municipal.

Os dados do Datafolha apontam que 73% dos educadores do país acreditam que, após a pandemia, vão utilizar mais tecnologia no ensino do que usavam antes. Na Região Norte o percentual é de 70%, o menor dentre todas as regiões do país.

Outra referência importante é que 83% dos educadores da Região Norte apontam a tecnologia como uma grande aliada na promoção de um ensino mais ativo e centrado no aluno, no entanto 65% dos educadores do Norte consideram que a conexão utilizada nas escolas públicas municipais e estaduais não é adequada.

Sem que ninguém estivesse preparado nas proporções demandadas, a pandemia acabou por reforçar a necessidade do maior acesso à tecnologia como aliada no processo educacional. Para os profissionais que estavam à frente do processo educativo em meio a realidades diversas nas diferentes regiões do país, os desafios foram muitos, assim como a necessidade de se reinventar constantemente para tentar amenizá-los.

Com o planejamento pedagógico do ano todo já definido, as transformações provocadas pela pandemia levaram a professora Darlene da Silva Monteiro dos Santos, 38 anos, a ter que repensar, em um curto espaço de tempo, tudo o que estava previsto. Antes de refletir sobre os processos metodológicos, o primeiro desafio foi o de conseguir reunir a comunidade acadêmica dentro de um espaço virtual.

“O WhatsApp foi a única ferramenta em que consegui agrupar alunos e familiares. É por onde temos promovido o envio das atividades”, lembra a educadora, que é professora da rede pública municipal e coordenadora pedagógica na rede pública estadual. “Foi difícil porque nos deparamos com realidades de alunos que só têm um celular por família e esse aparelho sai com o responsável quando ele vai trabalhar. Outras situações em que a internet disponível é a móvel, com um limite de dados que se a pessoa baixasse um vídeo, a franquia praticamente acabava”.

Sem que pais, alunos, professores e as próprias escolas estivessem preparados para o cenário apontado pela pandemia, Darlene conta que foi preciso se reinventar para conseguir manter o vínculo entre a escola e os alunos. “Para qualquer atividade, a pandemia forçou o mundo a avançar de 5 a 10 anos e a um ritmo muito acelerado”, considera.

“O processo educativo é construído no dia a dia, está em constante construção e de repente vem uma situação adversa que ninguém esperava. O ensino não pode estar submetido a soluções prontas. Tive que replanejar tudo o que eu tinha pensado para dentro de sala de aula”.

Com o auxílio do celular e do aplicativo de mensagens, a professora conseguiu adaptar as atividades previstas. Desde a suspensão das aulas, mesmo a distância, Darlene conseguiu trabalhar com os alunos do ensino fundamental 1 projetos sobre gestão do lixo, alimentação saudável, o dia da consciência negra, o combate à violência contra a criança, vacinação.

“No período da campanha de vacinação fiz uma atividade para que eles voltassem ao período da primeira infância e fotografassem as suas carteirinhas de vacinação, vissem que vacinas já tinham tomado, quais estavam faltando. Foi uma maneira de trabalhar a importância da vacinação”, lembra a professora. “Os projetos pedagógicos que eu tinha planejado aconteceram, mas de outra forma”.

Já as atividades regulares eram enviadas em PDF para o grupo dos pais para que as crianças pudessem executá-las e depois seus familiares deixassem na escola para que a professora recolhesse e os corrigisse em casa. Apesar da manutenção das atividades da maneira que foi possível, Darlene aponta que uma angústia permanece.

“Estamos trabalhando o ensino híbrido e remoto, mas esses são modelos que tivemos que ressignificar porque essas são terminologias que vêm do EAD, que é um modelo que foi pensado para a educação superior, não foi pensado para a educação básica. Então o desafio começa em pensar na implementação de uma metodologia de ensino remoto para a educação básica”, considera.

“É preciso pensar essa metodologia que veio de forma meteórica, veio impositiva porque não tínhamos alternativa. O ato de educar, sobretudo na educação básica, exige situações de aprendizagem específicas”.

Ainda que todos os esforços tenham sido empregados pelos profissionais da educação para se inserir nesse campo tecnológico em um curto espaço de tempo, Darlene acredita que ainda é difícil prever de que maneira essa tecnologia vai continuar presente no ensino em um cenário pós-pandemia.

“Não seremos mais os mesmos. Eu não serei mais a mesma porque tive que me reinventar e passei a considerar que hora ou outra eu posso estar sendo surpreendida por situações que fogem do nosso controle. E o aluno, voltará o mesmo? As relações sociais não serão mais as mesmas”, considera.

“Paulo Freire diz que o ato de aprender está muito antes do ato de ensinar, então esse aluno que passou quase um ano fora do contato escolar, que iria aprender somente mais para frente essas questões ligadas à tecnologia, às relações sociais foram submetidas a um despertar social de forma muito bruta. A pandemia ressignificou a vida dessa criança que também não será mais a mesma”.

Difícil prever o cenário da educação básica no futuro

Professora de artes para alunos do ensino fundamental 1 na rede pública municipal, Adriele Silva da Silva, 33 anos, também acredita que é difícil prever o cenário que espera a educação básica no futuro próximo. “Ao mesmo tempo em que se vê que é possível ter mais essa ferramenta sendo utilizada, observamos que não adianta ter isso e não mudar a metodologia que trata o estudante como depósito apenas”, considera.

“Não sei até que ponto vamos ter mudanças significativas porque não é apenas uma questão de tecnologia, mas de políticas públicas mesmo e de mudança de metodologias”.

Adriele conta que das escolas em que trabalha, duas turmas já usavam o WhatsApp como meio de comunicação entre os pais, porém, no cenário da pandemia, o que era um meio de comunicação acabou por tornar-se uma ferramenta de envio das atividades escolares. “Quando isso se torna uma ferramenta de mediação de aprendizagem é muito complicado, principalmente quando se trata do ensino fundamental menor, que precisa ser mediado”.

Das 10 atividades enviadas por Adriele para as suas turmas desde o início das atividades remotas, o percentual de resposta é muito pequeno. Entre os inúmeros motivos que podem estar relacionados ao cenário, a dificuldade de acesso às ferramentas tecnológicas pelas famílias é apenas um deles.

Nesse sentido, apesar de a tecnologia se apresentar como uma ferramenta importante para a manutenção do vínculo entre alunos e escola nesse cenário adverso, os processos possibilitados ainda estão muito aquém do que se espera do processo educativo.

“Quando iniciou o processo da pandemia, a minha primeira hipótese foi que essa poderia ser uma super oportunidade para repensarmos muita coisa. Mas acaba que é muito complicado porque não sabemos como as coisas vão ficar. É difícil fazer um planejamento para uma escola que não sabe se vai voltar, quando vai voltar e como vai voltar, então ficam todas essas dúvidas”.

Adriele Silva
📷 Adriele Silva |Irene Almeida

Outros indicadores apontados pela pesquisa

Antes da pandemia, 24% dos professores da Região Norte se sentiam muito preparados para o uso da tecnologia nas aulas. Hoje o percentual cresceu para 45%.

Para 62% dos professores do Norte, no ensino pós-pandemia, é imprescindível todas as escolas terem acesso à internet de alta velocidade, assim como para 59% é imprescindível que os professores também tenham acesso à internet de alta velocidade em casa e para 49% que todos os alunos tenham a mesma condição.

O estudo nacional foi realizado com 1.005 professores da rede pública, entre setembro e outubro de 2020, em todo o país. Foram ouvidos educadores do ensino fundamental e médio de escolas das redes estadual e municipal.

Fonte: Pesquisa ‘Opinião dos Professores da Rede Pública sobre o uso da tecnologia durante e após a pandemia’ – Instituto Datafolha, encomendada pela Fundação Lemann.

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