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Marujada terá programação diferente; veja as mudanças!

Ainda no ano de 1798, um grupo de 14 negros escravizados deu início à tradição que permanece enraizada no dia a dia do povo bragantino até hoje, mais de dois séculos depois. Após a celebração do Natal pelos vigários que se dirigiam ao município do nordest

Imagem ilustrativa da notícia Marujada terá programação diferente; veja as mudanças! camera radicional de Bragança, o evento terá adequações como medidas preventivas contra o coronavírus. | Mauro Ângelo/Diário do Pará

Ainda no ano de 1798, um grupo de 14 negros escravizados deu início à tradição que permanece enraizada no dia a dia do povo bragantino até hoje, mais de dois séculos depois. Após a celebração do Natal pelos vigários que se dirigiam ao município do nordeste paraense em meados do século XVIII, o que se iniciava à lateral da igreja era uma manifestação de origem negra e recheada por muita cultura, dança, música e cores.

Aglutinando diferentes elementos da cultura africana e também europeia ao longo dos anos, a tradicional Marujada de São Benedito de Bragança completou, no último dia 03 de setembro, 222 anos de criação e, como todo o mundo tem feito desde o início da pandemia do novo coronavírus, também se adapta ao novo cenário para manter viva a tradição e a cultura popular.

Mais do que a devoção religiosa, a celebração a São Benedito, o santo negro, era também um grito de resistência à escravidão. Coordenador da festividade e historiador, o professor Dário Benedito Rodrigues conta que, à época, negros africanos, parte deles escravizados e parte já libertos, criaram uma irmandade e construíram uma cabana de taipa ao lado da igreja para celebrar, todo mês de dezembro, a festa de São Benedito.

Naquele período, Bragança não contava com padres fixados no município, portanto, as festas magnas da cristandade, como o Natal, eram celebradas por vigários que percorriam as paróquias do interior e, em seguida, retornavam para Belém. “Celebrava-se o Natal dos brancos e depois o Natal dos negros, também recheado de muita cultura, muita dança...”, resgata o professor. “Uma parte significativa daquela irmandade era formada por negros escravizados da área urbana e domésticos da cidade. Era um momento em que a festa de São Benedito era uma espécie de estandarte de esperança para aquele negro escravizado que viveuaqui naquele período”.

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Apesar da grande celebração se dar, até hoje, no mês de dezembro, Dário explica que a data de sua criação ocorre em setembro. “A festividade nasce no dia 3 de setembro de 1798, quando eles escrevem um documento chamado ‘Compromisso’ para dar conta desse processo de constituição social do que é hoje a festividade”, rememora. “Aquela irmandade dura, canonicamente, de 1798 até 1988, mas antes disso tudo se organiza uma entidade civil, que é a Irmandade da Marujada de São Benedito, para tomarconta da parte cultural”.

Ele conta que, naquele momento, houve algumas disputas de identidade e controle entre as pessoas daquele tempo, entre a Igreja e a extinta irmandade. Alianças que, posteriormente, se refizeram e, hoje, a Festividade de São Benedito é coordenada em conjunto entre Igreja e irmandade. “Enquanto manifestação cultural, a Marujada é parte indissociável da festividade de São Benedito. Não se pode ver a festividade sem a Marujada e vice-versa. Se você vir a Marujada em outro lugar, não encontra talvez a totalidade desse significado”.

Dário reforça que ao longo dos anos a festividade foi somando diversas outras manifestações até que chegasse às características que se observa hoje. “De lá para cá, a festa foi aglutinando diversas outras manifestações da cultura negra africana, evidente, como as danças, o cadenciamento, o batuque e os molejos, mas também influências e referências culturais que vieram da Europa, como o xote, valsa, a vestimenta e indumentária de influência portuguesa, juntando tradição, cultura e também esses movimentos identitários”, analisa o coordenador da festividade. “Bragança tem, em São Benedito, o seu cidadão mais ilustre e na festa de São Benedito e na referência cultural da Marujada, o seu melhor espelho e horizonte”.

PANDEMIA

Como todo o mundo tem feito desde o início da pandemia do novo coronavírus, a tradicional Marujada de São Benedito, em Bragança, também se adapta ao novo cenário. Na missa em homenagem ao 222º aniversário da festividade, realizada, no último dia 03 de setembro, na Igreja de São Benedito, a comemoração foi marcada pelo público reduzido, adoção do distanciamento social e uso de máscara e álcool em gel. Diante da proximidade da grande festividade, celebrada em dezembro, a perspectiva é de que mais ajustes sejam realizados.

Coordenador da festividade, Dário Benedito Rodrigues aponta que algumas mudanças na programação da festividade já foram acordadas entre a Igreja, a irmandade, os diretores da festa e a coordenação da Marujada. O foco está na garantia de segurança aos marujos e marujas e à comunidade que acompanha a Festividade de São Benedito. “A primeira coisa é que não vão ter os eventos que demandam muita gente, como, por exemplo, a cavalhada, as danças, os almoços, o leilão e também a parte de abertura da festa, da chegada de São Benedito da praia que envolve uma centena de pessoas e milhares de outros devotos”, explica. “O cuidado com a pandemia também se dá por conta de muitos marujos e marujas de Bragança serem idosos, então são grupos mais vulneráveis”.

Parte integrante da programação, o processo de esmolação – período de seis meses em que comitivas saem esmolando com as imagens de São Benedito pelos campos, colônias e praias de Bragança – também precisou ser suspenso do final de março até dezembro. Com essa suspensão temporária, as imagens de São Benedito seguem recolhidas na igreja.

Sem que a esmolação tenha sido possível neste ano, uma programação reduzida e adaptada aos protocolos de saúde deverá ser realizada em outubro deste ano. “Será feito um momento no dia 5 de outubro, dia litúrgico de São Benedito, que vai levar as três imagens para a igreja Catedral. Isso tem uma simbologia porque a Catedral de Nossa Senhora do Rosário foi feita para ser a Igreja de São Benedito, mas em 1872 os templos foramtrocados”, explica Dário.

“Da Catedral, cada uma das três imagens vai para uma paróquia diferente, simbolizando os campos, as praias e as colônias. A Paróquia do Sagrado Coração de Jesus receberá a imagem da Colônia; a Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro receberá a imagem dos Campos e a Paróquia de São João Batista receberá a imagem das Praias. Nessa movimentação, São Benedito também irá fazer o momento de veneração da comunidade”. As demais modificações possíveis na programação da festividade serão analisadas até o final do mês de setembro.

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