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Casarões, chalés e monumentos contam história grandiosa de Icoaraci

Quando o livreiro português Eduardo Tavares Cardoso iniciou a construção do chalé trabalhado em madeira que mais tarde viria a receber o seu nome, o cenário encontrado no distrito de Icoaraci era marcado pelo verde e pela praia que se estendia, sem grande

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Imagem ilustrativa da notícia Casarões, chalés e monumentos contam história grandiosa de Icoaraci camera Chalé Tavares Cardoso: Antigas casas de veraneio de famílias abastadas de Belém, alguns casarões acabaram sendo perdidos com o tempo, mas ainda existem algumas dessas construções que ajudam a contar a história do distrito | MAURO ÂNGELO

Quando o livreiro português Eduardo Tavares Cardoso iniciou a construção do chalé trabalhado em madeira que mais tarde viria a receber o seu nome, o cenário encontrado no distrito de Icoaraci era marcado pelo verde e pela praia que se estendia, sem grandes edificações. À época, ainda no século XIX, o distrito atendia pelo nome de Vila de São João de Pinheiro e era tido como refúgio pelas famílias mais abastadas, que investiam na construção de suntuosas casas de veraneio. Imponente na rua Siqueira Mendes, o Chalé Tavares Cardoso é apenas um dos que ainda hoje podem ser apreciados no dia a dia de Icoaraci.

Chalé Senador José Porfírio
📷 Chalé Senador José Porfírio |MAURO ÂNGELO

Morador do distrito, o pesquisador da cultura popular paraense Marco Antônio Souza de Araújo lembra que, a partir da metade do século XIX até o início do século XX, as famílias mais conhecidas de Belém mantinham casas de veraneio em Icoaraci, como era o caso das famílias Lopo de Castro, Porfírio da Costa e Tavares Cardoso. Não à toa, alguns casarões até hoje fazem referência a esses nomes.

“A sociedade da época comprava, na Europa, muitas peças metálicas, de bronze, ferro e decorações em geral. A arte desses casarões em Icoaraci foi construída com material vindo da Europa durante a Belle Époque. Os próprios trilhos da antiga Estação de Trem de Icoaraci vieram todos da Europa”.

Parte dessas construções acabou por se perder ao longo do tempo, porém, Marco Antônio destaca que, ainda hoje, é possível encontrar exemplares que contam muito da história do desenvolvimento do distrito de Icoaraci. “Sobretudo na rua Siqueira Mendes e de frente à área compreendida pelo chamado Pontão, ainda temos belos casarões desse período”, diz.

Chalé Senador José Porfírio
📷 Chalé Senador José Porfírio |MAURO ÂNGELO

É exatamente na Siqueira Mendes que está o Chalé Tavares Cardoso, construído entre 1870 e 1912 sob encomenda do livreiro Eduardo Tavares Cardoso, proprietário da antiga Livraria Universal, que tinha matriz em Belém, na rua João Alfredo, e filial em Portugal. Em madeira, o chalé é característico das construções erguidas no período da Belle Époque paraense, em que o comércio da borracha foi responsável por uma grande movimentação econômica no Estado.

EUROPA

Professora da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenadora do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural (LAMEMO), Cybelle Salvador Miranda lembra que, à época, era comum que algumas construções fossem inspiradas nas existentes na Europa.

“Muitas residências eram inspiradas em sofisticados modelos europeus, utilizando de referências como torreões e molduras decoradas nas esquadrias”, aponta. “O aspecto mais interessante dessas construções refere-se a presença de varandas, que por vezes contornam toda a edificação e garantem o conforto térmico, bem como a presença generosa de aberturas, que propiciam a ventilação cruzada, especialmente na orla do distrito”.

A varanda que circula todo o segundo andar do Chalé Tavares Cardoso pode ser vista até hoje. Outra característica presente no casarão e que se repete em outras construções da mesma época que ainda estão presentes no distrito é o uso da madeira como elemento de destaque. “O padrão de moradia tinha por base os chalés europeus, ainda na linguagem do ecletismo, nos quais as casas eram amplas e usufruíram de terrenos ao redor”, explica a professora.

“A madeira é um material abundante na região, e a mão de obra local se adaptou facilmente a utilizá-la, além de garantir o conforto térmico dos ambientes. Contudo, muitas residências desta fase em Icoaraci são feitas em alvenaria, com telhado coberto por telhas marselha, com amplas varandas e elevadas do solo para garantir aeração e distanciamento da umidade do solo, já que os pisos eram assoalhados, ou seja, executados com tábuas de madeira”.

Como exemplo, Cybelle cita o Chalé Senador José Porfírio, que apresenta gradis de ferro e linhas do estilo Art Nouveau, movimento nascido na Europa no final do século XIX e que influenciou também a arquitetura. Situado na rua Padre Júlio Maria, o chalé encontra-se em ruínas, atualmente. Mas, ainda assim, sua estrutura não deixa esquecer a imponência da construção que continua sendo propriedade particular.

De volta à orla da cidade, outro chalé marca a urbanização do distrito de Icoaraci. Também propriedade particular, a construção igualmente foi erguida para servir de casa de férias. Ao longo dos anos, já serviu de fábrica de móveis e, hoje, abriga um restaurante.

Chefe de cozinha do restaurante “Chalé 100”, Elinei Guimarães da Costa conta que quando o chalé foi construído a área do entorno era formada por uma fazenda. “Era uma casa de férias. As pessoas só conseguiam chegar aqui por barco. Essa área da orla era como se fosse uma praia particular”, explica. “A construção já tem 128 anos”.

Restaurante "Chalé 100"
📷 Restaurante "Chalé 100" |MAURO ÂNGELO

Estação de trem facilitou o acesso ao distrito

Em meio a todo esse cenário, outra importante construção possibilitou maior acesso ao distrito. Inaugurada em 1906, já no século XX, a Estação Pinheiro era um ramal da Estrada de Ferro de Bragança. O ramal funcionava em via dupla a partir de trilhos vindos da Europa. Ainda hoje é possível visitar a antiga estação, na rua Padre Júlio Maria.

Ainda é possível visitar a antiga estação
📷 Ainda é possível visitar a antiga estação |MAURO ÂNGELO

Mestre e doutorando em história social da Amazônia, o historiador Vitor Nazareno da Mata Martins aponta que ainda antes da construção do Ramal do Pinheiro a área já apresentava uma disposição de ruas e travessas, construídas no século XIX, que se assemelha a que se vê hoje. Ainda assim, a região permanecia pouco povoada com pequenas roças e poucas habitações de pescadores.

O início das transformações na pequena vila se deu, principalmente, a partir da abertura do ramal. “A construção do Ramal do Pinheiro da estrada de Ferro Belém-Bragança, em 1906, permitiu que o acesso das famílias endinheiradas de Belém à Vila do Pinheiro fosse facilitado, já que, naquela época, o contato era feito margeando a foz do rio Pará até chegar à fazenda Pinheiro. Era uma viagem relativamente demorada e pouco atrativa aos frequentadores dos refinados cafés da capital”.

Segundo o historiador, na vila localizada a 25 km ao norte da capital paraense, tais famílias encontravam fartura de alimentos, beleza natural e ventilação constante para construir suas casas de lazer e veraneio “ampliando ‘sobre a floresta’ a influência da civilização e da modernidade experimentada por Belém, que já era conhecida internacionalmente pelos seus cafés, praças, teatros e boulevares. A vila cresceu e ganhou posto policial e da fazenda estadual, agência dos correios e telégrafo, um matadouro de carne bovina e uma estação de trem, mas as construções que, talvez, melhor simbolizem aquele período de fausto, são os famosos chalés”, avalia.

DISTÂNCIA

A estação ferroviária está localizada a poucos quarteirões dos chalés Tavares Cardoso e José Porfírio, dois exemplares da época que ainda podem ser vistos. Vitor destaca que até hoje o caminho entre os dois chalés é caracterizado pela presença de túneis de mangueiras plantadas para amenizar a temperatura.

“Por ali passariam a pé, à montaria, ou em suas carruagens, figuras proeminentes da vida política, econômica e cultural paraense como o senador José Porfírio, o livreiro Eduardo Tavares Cardoso e suas respectivas famílias e amigos convidados a descansarem em suas residências de veraneio”, diz.

“Qualquer pessoa que visite a atual estação de trem de Icoaraci e que se posicione a frente do seu portão principal, na Terceira rua (atual Padre Júlio Maria), ao olhar para a esquerda pode ver que na esquina da próxima rua (Sousa Franco) está o chalé dos Porfírio, assim como, ao olhar para a frente, seguindo a travessa Itaboraí na direção oeste, vai ver o rio Pará e a Primeira rua (Siqueira Mendes) que leva à propriedade dos Tavares Cardoso”.

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