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CAPTAÇÃO

Tecnologia sustentável: água da chuva pode ter variados fins

A cortina de água que cai sobre Belém frequentemente guarda não apenas uma característica da região, mas também um enorme potencial ainda pouco aproveitado. Todo esse recurso gratuito entregue à cidade não demandaria sequer instalações elétricas para ser

Imagem ilustrativa da notícia Tecnologia sustentável: água da chuva pode ter variados fins camera Captação da água da chuva. | Divulgação

A cortina de água que cai sobre Belém frequentemente guarda não apenas uma característica da região, mas também um enorme potencial ainda pouco aproveitado. Todo esse recurso gratuito entregue à cidade não demandaria sequer instalações elétricas para ser utilizado em inúmeras tarefas domésticas. Por isso, as possibilidades de captação e aproveitamento de água fazem parte de mais uma abordagem da série Tecnologias Sustentáveis, do DIÁRIO.

Uma comparação simples é capaz de evidenciar tamanho potencial proporcionado pela água da chuva. O professor do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenador do Programa de Pós-graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia (PPGEDAM/UFPA), Ronaldo Mendes, aponta que a região do semiárido brasileiro chega a ter uma média de 400 a 500 milímetros de chuva por ano. Em Belém, entretanto, chegam a ser registrados cerca de 300 milímetros de chuva apenas no mês de janeiro ou de fevereiro. O que chove em um mês em Belém, chove em um ano inteiro no semiárido do Brasil.

O professor reforça que, antes de qualquer coisa, é preciso desmistificar a questão que envolve a qualidade da água da chuva. Ronaldo destaca que a água que cai dos céus é de boa qualidade, mas que, claro, como qualquer água, precisa passar por cuidados. “Não quer dizer que dá para pegar e usar diretamente para beber. Seria necessário passar por um tratamento mínimo, mas em termos de qualidade de água é excelente”.

Para simplificar o entendimento o professor se concentra no uso da água da chuva para outros inúmeros fins que não o consumo direto. Mesmo excluindo a utilização da água da chuva para beber, o potencial de utilização é muito grande. O professor considera que, quando chove pouco em Belém, chegam a ser registrados pelo menos 100 milímetros no mês. O volume pode parecer pouco, mas quando se considera as possibilidades de utilização desse recurso a compreensão muda.

“Com essa quantidade de chuva, uma casa com 50 metros quadrados e telhado vai poder aproveitar 5 mil litros. É bastante água”, estima. “Se 10 casas de Belém, por exemplo, tivessem sistema de captação de água da chuva e usassem apenas para a descarga em vaso sanitário, a água economizada nessas casas seria suficiente para abastecer outras duas casas para fazer todos os usos”.

UTILIZAÇÃO

Outros exemplos de utilização que não demandam tratamentos sofisticados e que podem ser utilizadas logo após a captação é o uso para lavar o chão, lavar o carro, jogar no vaso sanitário, regar plantas. “É um recurso que cai sobre as nossas cabeças. Não precisa de instalação de bombas, podemos montar sistemas que não necessitam de energia elétrica. A água cai do telhado pela calha e vai para uma caixa d’água que pode ficar suspensa e de lá ela já sai por gravidade. Não se gasta energia porque usa a gravidade”.

Ronaldo explica que tal sistema é simples de instalar, não é tão caro. O custo depende do tamanho e da estrutura da casa. “Se, por exemplo, for fazer um sistema bem barato para água não potável, apenas para regar plantas ou lavar áreas de quintal, podemos fazer um sistema com uma média de R$300, se a pessoa já tiver uma calha na sua casa”, estima. “Basta pegar uma bombona, instalar e colocar uma torneira em baixo. Para isso a pessoa vai comprar basicamente esse reservatório, o cano para a descida até lá e a instalação e a mão de obra da pessoa que vai fazer”.

Universalizar o acesso à água potável na Amazônia

Nascido em uma ONG de empreendedorismo social universitária presente na UFPA e em outras instituições pelo Brasil, a Enactus, o negócio social Amana Katu já tornou realidade o aproveitamento da água da chuva para mais de 8 mil pessoas tanto em comunidades ribeirinhas, quanto em residências urbanas e escolas no Estado.

Sócia-fundadora do Amana Katu, a biotecnologista Isabel Cruz, 23 anos, explica que o negócio nasceu, ainda na graduação, com o objetivo de universalizar o acesso à água potável na Amazônia. “Na Amazônia a gente sofre esse paradoxo de ter água para todo lado, de chover todo dia e, ainda assim, ter mais de 10 milhões de pessoas que não têm acesso à água potável na região”, contextualiza. “Então a gente decidiu replicar uma tecnologia que é supersimples, um sistema de captação de água da chuva de baixo custo e fácil fabricação e manutenção, justamente com esse objetivo de universalizar o acesso a essa tecnologia e à água”.

A iniciativa garantiu aos então estudantes a primeira colocação na etapa nacional de uma premiação de empreendedorismo universitário, o Global Student Entrepreneurs’ Awards, em 2019. Hoje, o negócio social é tocado por três jovens que faziam parte da Enactus da UFPA e que se formaram recentemente. Além de Isabel, o mestrando em engenharia civil Wilson Costa e o bacharel em direito Noel Orlet. “Nós comercializamos esses sistemas e a cada 5 que a gente vende, um a gente doa para uma comunidade que não tem acesso a água potável e que também não tem recursos financeiros para comprar o sistema, mesmo ele sendo de baixo custo”.

Atualmente, a maior demanda recebida pela Amana Katu vem das comunidades ribeirinhas, que vivem cercadas por água, mas que têm dificuldade de acesso à água adequada para a utilização no dia a dia. “O que acontece lá é que existem algumas opções de acesso a água”, aponta. “A primeira delas é atravessar cerca de 2 a 3 vezes por semana para a cidade mais próxima e isso gera tanto um gasto de tempo, quanto também de dinheiro por causa do custo com combustível; e a outra opção que eles têm é a de pegar a água do rio, fazer tratamento com cloro que não é 100% eficaz e usar essa água para todos os fins, até para beber. Então temos muita demanda para essas áreas justamente por causa dessa problemática”.

Cada reservatório utilizado pelo Amana Katu tem capacidade para 240 litros, que costuma encher rapidamente com o volume de chuvas que cai em Belém e que possibilita o abastecimento da comunidade. Se a família tiver uma demanda maior, um sistema de módulos possibilita acoplar um reservatório no outro, aumentando a capacidade de captação e armazenamento. “Recomendamos o uso da água para todos os fins que não seja para beber, desde lavar pisos, descarga, até cozinhar e lavar roupa, por exemplo”, aponta Isabel.

REAPROVEITAR

l Quando se trata de fazer o melhor uso dos recursos naturais, o próprio reaproveitamento é uma medida que pode ser aplicada em casa ou mesmo no processo industrial. O professor do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA, Ronaldo Mendes explica que há diferença entre o aproveitamento, que é o que é realizado nos sistemas de captação da água da chuva, e o reaproveitamento.

l O reaproveitamento ocorre quando se dá um novo uso para uma água que já havia sido utilizada para outro fim. Um exemplo que pode ser realizado dentro de casa é aproveitar a água que já foi utilizada na lavagem de roupa, que sai da máquina, e que pode ser usada para lavar o chão, o quintal, por exemplo.

l Fora do ambiente doméstico, esse reaproveitamento do recurso é ainda mais comum. “Na indústria é muito comum o reaproveitamento em lugares onde tem algum tipo de deficiência de disponibilidade de água ou onde o acesso a ela é muito caro”, explica. “Em alguns lugares não se paga apenas a água que entra na indústria, mas também o esgoto. Então, quando você coloca a água na indústria e ela circula, vai ter que jogar fora aquela água e se paga também por isso, então é melhor aproveitar a água novamente porque além de deixar de captar uma água nova, ainda gera menos esgoto”.

l Nesses casos, o professor aponta que, do ponto de vista financeiro, a economia é dupla. Já do ponto de vista ambiental a vantagem é evidente. “Quanto menos consumir, mais disponibilidade terá e menos agressão ao meio ambiente porque irá gerar menos esgoto. Tem indústrias que reduzem 80% do esgoto fazendo isso”, aponta Ronaldo. “Em cidades isso também pode acontecer. Em Londres, na Inglaterra, a própria água do esgoto é tratada e jogada de novo no sistema que chega às casas das pessoas, por exemplo”.

Informações

Mais informações acerca do Amana Katu podem ser obtidas pelas redes sociais, @amanakatu.

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