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RELIGIÃO

O dia em que um santo visitou o Pará

Quando a incerteza pairava sobre a vida das pessoas que viviam nas colônias mantidas pelo governo brasileiro para abrigar pacientes diagnosticados com hanseníase, ainda no final de 1979, os primeiros rumores de que o então Papa João Paulo II visitaria o E

Imagem ilustrativa da notícia O dia em que um santo visitou o Pará camera Canonizado em 2014 pelo atual Papa Francisco, o Papa São João Paulo II esteve na Grande Belém há 40 anos, onde celebrou missas, um momento especial que é relembrado até hoje por muitos paraenses | Reprodução

Quando a incerteza pairava sobre a vida das pessoas que viviam nas colônias mantidas pelo governo brasileiro para abrigar pacientes diagnosticados com hanseníase, ainda no final de 1979, os primeiros rumores de que o então Papa João Paulo II visitaria o Estado do Pará e, mais especificamente Marituba, foram recebidos com certa descrença pela população que vivia na colônia instalada no município que integra a Região Metropolitana de Belém (RMB).

A confirmação de que o principal líder da Igreja Católica realmente se faria presente veio apenas em meados de abril de 1980, quando as Forças Armadas passaram a visitar a colônia para garantir a segurança necessária para receber o Santo Padre. Surpreendendo até mesmo quem chegou a desconfiar da possibilidade de presença tão ilustre, o Papa João Paulo II chegou ao Pará em 8 de julho de 1980, deixando por onde passou memórias que perduram até hoje, quatro décadas depois. “Quem pensava em ver o Papa pessoalmente e ainda por cima aqui no Pará, em Marituba?”, questiona o aposentado Geraldo Moura Cascaes, 76 anos, que até hoje guarda nas lembranças os detalhes da tarde ensolarada em que a antiga colônia de hansenianos foi abençoada pelo Papa.

Escolhido para ser o coordenador de cerimônias da celebração realizada pelo Papa na Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré de Marituba, Geraldo lembra que o Papamóvel chegou às proximidades do palanque montado na igreja por volta de 9h30, ainda sem o seu principal passageiro. João Paulo II chegou apenas por volta de 15h30, carregando com ele uma alegria tão genuína que tocava a todos que aguardavam. “Uns sorriam, outros choravam. Na ocasião tinha a presença maciça dos doentes, que na época ainda enfrentavam muito preconceito”, recorda. “Ele chegou muito sorridente, carregando as crianças no colo e quando ele entrou na capela, se ajoelhou e fez uma oração”.

Local onde o Santo Padre rezou missa em Belém, na antiga 1º de Dezembro com Mauriti
📷 Local onde o Santo Padre rezou missa em Belém, na antiga 1º de Dezembro com Mauriti |Irene Almeida
Ponto exato onde São João Paulo se ajoelhou para rezar na capela da então colônia de hansenianos
em Marituba.
📷 Ponto exato onde São João Paulo se ajoelhou para rezar na capela da então colônia de hansenianos em Marituba. |Irene Almeida

O ponto exato em que o Santo Padre dobrou os joelhos ao chão até hoje é marcado com uma pedra onde se lê “Neste lugar o Papa João Paulo II ajoelhou-se para rezar em 08 de julho de 1980”. Mais do que tal gesto, porém, o que ficou marcado na memória de Geraldo, que vivia na então colônia de hansenianos desde os 11 anos de idade, foram as palavras do Santo Padre. “Na época havia a notícia de que as colônias de hansenianos espalhadas pelo Brasil seriam desativadas, então havia uma preocupação muito grande por parte dos doentes”, lembra Geraldo. “A visita do Papa coincidiu com um momento muito angustiante para os moradores da colônia, mas o Papa falou que não nos preocupássemos diante da situação de incerteza. Que as mudanças tinham que ser enfrentadas e que Deus estaria conosco. Aquilo nos animou muito porque, a partir de então, o mundo todo ficou sabendo como os hansenianos eram tratados no Brasil”.

CARREATA

Da antiga colônia instalada no município de Marituba, o Papa João Paulo II seguiu em carreata pela Rodovia BR-316 em direção a outro ponto de celebração. O destino era a então avenida 1º de dezembro, que depois receberia o nome de João Paulo II, em sua homenagem. Na esquina da avenida com a travessa Mauriti, um monumento enfeitado pela população com flores brancas marca a celebração da missa aberta e, ainda, uma das frases ditas pelo pontífice há exatos 40 anos: “Belém e Nazaré nos falam antes de tudo de Jesus, O Salvador”.

Suspeita de atentado impediu homenagem

Ainda antes que chegasse ao ponto onde foi celebrada a missa, porém, durante todo o percurso pessoas aguardavam para ver a passagem do Papamóvel. Na avenida Almirante Barroso, uma fotografia da época marca a presença da professora aposentada Graça Valente, 73 anos, e de seus familiares. “O que eu lembro é que era uma expectativa muito grande pelo fato de ser a primeira vez que o Papa vinha ao Brasil, e ao Pará, então, mais ainda”, recorda. “Na época estávamos gestantes eu, a minha irmã e a minha cunhada. Sabíamos que ele ia passar na avenida Almirante Barroso, então reunimos a família para esperar a passagem”.

A família de Graça Valente, hoje com 73 anos, foi para a Almirante Barroso esperar a passagem do Papamóvel. A avenida ficou cheia de gente aguardando o papa, relembra.
📷 A família de Graça Valente, hoje com 73 anos, foi para a Almirante Barroso esperar a passagem do Papamóvel. A avenida ficou cheia de gente aguardando o papa, relembra. |Reprodução

Graça lembra que por toda a av. Almirante Barroso a presença de pessoas à espera da chegada do Papa se repetia. Apesar de a passagem ter sido rápida, Graça lembra que o esposo ainda chegou a fazer fotos do Papamóvel, mais uma lembrança que ficou do momento histórico para a cidade de Belém. “Eu era católica na época, hoje sou evangélica, mas foi um acontecimento muito interessante para Belém mesmo”.

Irmã de Graça, a dona de casa Maria Eunice Valente, 75 anos, também recorda a expectativa sentida pela população com o fato inédito. Na foto que registra o dia, Maria Eunice também aparece gestante de uma dos cinco filhos. “Para mim foi um dia muito histórico porque eu ouvia falar, assistia pela televisão e nesse dia deu certo de a gente ver pessoalmente. Ele passou bem perto da gente, na Almirante Barroso. Vimos direitinho o papamóvel”, conta. “Ficamos esperando na Almirante Barroso, logo na saída do Conjunto Império Amazônico. A Almirante toda estava lotada de pessoas para ver. Ele passou acenando para as pessoas, foi muito bonito”.

SUSTO

Uma multidão também aguardava pela passagem do Santo Padre ao longo da avenida Nazaré, percurso realizado por ele quando se dirigia para a Catedral Metropolitana de Belém após a missa celebrada na então avenida 1º de Dezembro. A historiadora e jornalista Mízar Bonna estava no local no momento em que João Paulo II passou no Papamóvel e lembra da bela homenagem que foi preparada ao pontífice, mas que, infelizmente, não chegou a ser realizada da maneira prevista. A ideia era ocupar a calçada da Basílica com arquibancadas que abrigariam um coral formado por estudantes que cantariam no momento em que João Paulo II passasse. “Bastava que o Papamóvel passasse mais devagar pela Avenida Nazaré quando retornasse da missa para a Catedral. Ia ser lindo”, recorda.

Os planos mudaram, porém, e uma ordem foi expedida para que a Berlinda, com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, fosse colocada no pátio da Basílica para ser entregue e abençoada pelo Papa que, segundo a nova ideia, faria uma breve parada. As crianças do coral também foram direcionadas para o local que ficou tomado de gente. Apesar dos planos, o Papamóvel não realizou a parada e seguiu acelerado rumo à Catedral de Belém. “O Papamóvel dobrou para passar na frente da Basílica quando, num descuido de quem tocava o teclado, uma nota escapuliu no Sino São José. Foi uma nota só, mas o estrondo do sino contribuiu para o susto”, lembra.

O real motivo para a não parada foi conhecida tempos depois: uma falsa suspeita de atentado fez com que os seguranças acelerassem o veículo. Na manhã do dia seguinte, depois de explicarem o ocorrido, o Papa recebeu a imagem de Nossa Senhora de Nazaré e, da janela do arcebispado, abençoou quem estava na Praça Frei Caetano Brandão. Apesar do ocorrido no dia da homenagem, Mízar Bonna acredita que o significado deixado pela passagem do Papa foi de grande valia. “Afinal, com tantas capitais, sermos uma das escolhidas”, considera. “Gente querida que merecia estar com ele e nunca havia ido ao Vaticano foi abençoada. E nossa Belém recebeu, ao vivo, as bênçãos de um Santo. Nosso Santo João Paulo II”.

Missa rezada pelo Papa na atual João Paulo II, assim rebatizada para relembrar a data
📷 Missa rezada pelo Papa na atual João Paulo II, assim rebatizada para relembrar a data |Reprodução

PARA RELEMBRAR - PASSOS

- O Papa João Paulo II desembarcou em Belém no dia 8 de julho de 1980, sendo recebido com honrarias de chefe de Estado.

- Do aeroporto o pontífice se dirigiu ao Seminário São Pio X, localizado na rodovia BR-316, no município de Ananindeua. No local, o Papa se alimentou e repousou em um quarto que hoje abriga a Capela de São João Paulo II.

- Do Seminário, João Paulo II seguiu para a então colônia de hansenianos localizada em Marituba, onde teve contato com a multidão que lhe aguardava e, durante a celebração, dirigiu palavras de encorajamento aos doentes que viviam um momento de incerteza diante da sinalização, por parte do governo brasileiro, de desativação das colônias de hansenianos no país.

- De Marituba, o pontífice seguiu em carreata pela BR-316 e avenida Almirante Barroso, onde uma multidão aguardava pela sua passagem. O destino era a então avenida 1º de Dezembro, onde ele celebrou uma Santa Missa.

- Após a celebração, o Papa seguiu em direção à Catedral Metropolitana de Belém, na Cidade Velha. No percurso, ao passar pela avenida Nazaré, uma parada estava prevista em frente à Basílica de Nazaré. Uma falsa suspeita de atentado, porém, fez com que os seguranças acelerassem o Papamóvel e não realizassem a parada prevista.

- Na manhã do dia seguinte, ao saber do ocorrido, João Paulo II recebeu a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré e, com ela em mãos, abençoou o povo presente na Praça Dom Frei Caetano Brandão, à época chamada de Largo da Sé. Após a bênção, o pontífice seguiu para o aeroporto.

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