Dia de caos, tumulto e porta fechada na UPA da Sacramenta

A Unidade de Pronto Atendimento da Sacramenta, em Belém, fechou as portas para os pacientes que precisavam de atendimento de Emergência, ontem (24). Homens, mulheres e idosos que já enfrentavam uma verdadeira ‘via-crúcis’ tiveram de voltar para casa ou continuar procurando outras unidades.

Aos usuários, os funcionários justificavam que não havia médicos para realizar os procedimentos. Pela manhã deputados que integram a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado do Pará fizeram uma inspeção na UPA e logo, na chegada se depararam com uma mulher convalescendo na entrada da unidade. Ela estava desmaiada no chão do estacionamento e precisou ser carregada até que o funcionário chegasse com uma cadeira de rodas.

Sem ter condições para se deslocar para outras unidades, alguns pacientes optaram por aguardar a possível chegada de um médico. Porém, no meio da tarde, foi constatado que tinha médicos, sim, na UPA, mas que estes estariam negando atendimento.

Houve tumulto e bate-boca. A equipe de profissionais tentou esclarecer que não havia mais leitos na unidade, nem respiradores para os doentes que precisavam de oxigênio.

Também não havia equipamentos de proteção individual para que todos pudessem trabalhar em segurança, por isso estavam orientando que a população buscasse outros locais onde poderiam conseguir um atendimento mais adequado.

ESTOPIM

O estopim da briga se deu depois que uma mulher chegou na unidade e foi imediatamente atendida, mesmo sem estar em situação grave. De acordo com os usuários, a paciente supostamente seria conhecida de um dos funcionários.

“Eu estou aqui há mais de três horas esperando para ser atendida. Vocês vão me consultar, sim”, exclamava uma paciente. “Ninguém aqui é melhor que ninguém”, enfatizava.

Dois profissionais de saúde, um deles médico, tentou acalmar os ânimos e explicar o que estava acontecendo, mas a confusão já estava generalizada.

O paciente Wagner Santos, 37, estava, há mais de duas horas, à espera de atendimento. Alegou que estava sentindo febre e falta de ar há quase uma semana. “Eu não vim aqui brincando, não. Se estamos aqui é porque precisamos”, contou, indignado.

“Estão dizendo que não tem oxigênio, não tem nada de medicamentos, não tem nada. Por isso não querem atender, mas como é que uma pessoa chegou aí e foi atendida. É por que é da família deles?”, questionou.

A acompanhante de um paciente confirmou a superlotação no interior da unidade. “Tem paciente sendo atendido em cadeiras porque não tem leito. Estão aguardando a transferência deles”, disse. A mulher não quis se identificar.

TERRA FIRME

Pacientes com sintomas semelhantes aos de Covid-19, chegavam a todo instante na UPA da Sacramenta, mas eram aconselhados à irem para a da Terra Firme, que também estava lotada.

No final da tarde, três corpos de pacientes estavam no necrotério da UPA da Terra Firme. Segundo os familiares, todos com suspeita de Covid-19.

OUTRO LADO

Em nota, Secretaria Municipal de Saúde informou que todas os Hospitais de Prontos Socorros e Unidades de Pronto Atendimento de Belém estão em funcionamento. E ressaltou que, devido à grande procura, algumas precisam suspender os atendimentos temporariamente.

A Sesma pontuou ainda que as UPAs da capital estão recebendo uma demanda expressiva de pacientes de outros municípios – e que poderiam ter seus problemas atendidos na cidade de origem.