Fotojornalista Ary Souza morre aos 63 anos

Eis uma notícia que eu nunca quis escrever, mas faz parte desta vida complexa e, muitas vezes, dolorida, de repórter. E Ary Souza, muito mais do que um fotógrafo de olhar privilegiado, era um repórter nato e natural. Um senhor repórter e um mestre da fotografia, inegavelmente. Daqueles que acordavam de madrugada depois de receber um telefonema do chefe de reportagem ou de uma fonte para se embrenhar para onde a notícia lhe enviasse, seja um cafofo de bandido no subúrbio de Belém ou para cobrir a queda de um avião no meio Floresta Amazônica.

Era um repórter, no sentido mais stricto sesun da palavra, antes de ser fotógrafo. Mas quando clicava tinha uma visão que poucos têm. Visão quase mágica, pura perfeição que bamboleava entre a perfeição da luz e o rigor da informação. Coisa rara hoje em dia e quem teve o privilégio de trabalhar com ele, como eu e o jornalista Dilson Pimentel (seu melhor amigo), sabe muito bem da capacidade do Ary Souza transformar imagens simples como, por exemplo, um navio amarrado no cais do porto em fotografia premiada e que virou referência aos fotógrafos mais jovens.

Era meu amigo há mais de 30 anos. Daqueles amigos a quem ele confiava seu imposto de renda. Ary Souza, construiu sua carreira no jornal O LIBERAL, no qual trabalhou por toda sua vida. É um dos nomes mais importantes do fotojornalismo do País.

Seria perda de tempo alencar aqui as grandes reportagens que fez e os inúmeros prêmios que conquistou. Até porque Ary Souza era de uma simplicidade ímpar: convivia com os “figurões”, mas preferia mesmo o peixe frito do Ver-o-Peso. Apesar de abaetetubense de nascença, lá do rio Arumanduba, era de fato um belenense que conhecia toda Região Metropolitana da capital paraense. Conhecia cada palma desta cidade como poucos e em cada um pedaço dela sempre tinha uma história para contar.

Reza a lenda que "lendas não morrem". As histórias de meu amigo Ary Souza, e não são poucas, ficarão na minha memória e na memória do jornalismo paraense. Mas que icônico, era um dos mais competentes profissionais do fotojornalismo do Brasil. Mal consigo escrever, já que as lembranças invadem minha mente e o coração. 30 anos juntos seja no Bar do Pinheiro lá na esquina da 14 de Março com Mundurucus, seja nos rincões desta Amazônia, onde produzimos boas reportagens sempre regadas de alegria e brigas. Sim, era impossível não brigar com Ary. Mas tudo passava em dez minutos.

Só me resta tomar uma no Bar do Parque para engolir esta mágoa.

Fica com Deus amigo, pois ele vai acalentar a querida Bernadete Tavares, sua companheira e o moleque Matheus, seu filho.

Ao Thomás de Souza, meu chapa e companheiro de trabalho no DOL, digo que pode contar comigo sempre. Teu pai foi um dos caras mais fantásticos que conheci.

Por isso, ele virou lenda no fotojornalismo e na vida.

Mauro Neto é editor Executivo do DOL.