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DESPEDIDA

Atorres: o traço eterno de um mestre

José Arnaldo Torres dos Santos, mais conhecido como Atorres, era exatamente como suas charges: divertido e genial. Essas eram as palavras mais ouvidas durante o velório do designer gráfico e chargista do DIÁRIO, na Capela dos Capuchinhos, onde familiares

Imagem ilustrativa da notícia Atorres: o traço eterno de um mestre camera Rigério Uchoa/Diário do Pará

José Arnaldo Torres dos Santos, mais conhecido como Atorres, era exatamente como suas charges: divertido e genial. Essas eram as palavras mais ouvidas durante o velório do designer gráfico e chargista do DIÁRIO, na Capela dos Capuchinhos, onde familiares e amigos se despediram do artista. Ele faleceu na madrugada de ontem (22), vítima de um provável AVC e foi sepultado no Cemitério de Santa Izabel no mesmo dia.

Ainda sem acreditar na morte prematura do marido, com o qual conviveu durante 26 anos, a esposa Selene Platilha estava muito abalada. “Ele era tão forte, tão alegre e tão cheio de vida. Estávamos sempre juntos, em casa e no trabalho. Tínhamos uma convivência maravilhosa. Ainda não estou acreditando que ele se foi”, disse. Emocionada com a perda repentina do pai, Luana Platilha, mal conseguia falar. “Ainda não acredito, ontem ele estava tão bem, cheio de vida”, lamentou.

O diagramador do Jornal, Ronaldo Torres, era irmão do chargista e lembrou do quanto ele era alegre e ligado a família. “Ele era um excelente pai, marido, irmão e filho. Era uma pessoa cheia de vida. Ia completar 56 anos no próximo dia 17 de dezembro. Estava fazendo planos para viajar nas férias. Era uma pessoa muito feliz”, destacou. Atorres era o filho mais velho dos cinco irmãos, por isso era tido como um “pai” para os mais novos. “Ele era alegria da nossa família. Era ele quem cuidava de todo mundo. Uma pessoa sempre muito divertida, cheia de vida. Ainda lembro das últimas brincadeiras dele no grupo de WhatsApp da família. Vai ser muito difícil sem ele”, ressaltou.

Se na família, Atorres era conhecido pela alegria, entre os amigos e colegas de trabalho, não era diferente. “Nas sextas-feiras geralmente já combinávamos para onde iríamos, geralmente para algum bar. Ele era uma pessoa muito divertida. Lembro de ter levado ele para conhecer Colares e ele nunca mais quis sair de lá”, recorda o editor de fotografia Rogério Uchôa.

É da alegria de viver que o também amigo e colega de trabalho, Omar Fonseca pretende lembrar sempre que a saudade bater. “Nos conhecemos em 2004, quando trabalhamos juntos em uma produtora. Depois viemos os dois trabalhar no DIÁRIO. Logo no início ele rascunhava a página do jornal e eu ia montando. Uma parceria que seguiu por anos. Ele acabou se tornando como um irmão para mim. Todos os anos no Círio me chamava para ir na casa dele. Eu levei ele para conhecer Ourém, para onde fomos algumas vezes”, contou.

O fotógrafo Marcelo Lélis trabalhou com o chargista no jornal DIÁRIO DO PARÁ por sete anos. A convivência diária rendeu muitos momentos de alegria e também de aprendizado. “Sentávamos próximos, na mesma bancada e sempre discutíamos sobre a melhor foto para se usar na edição. Ele sempre foi uma pessoa muito alegre e divertida. Chamava todo mundo de mestre, mas ele sempre foi o grande mestre de todos nós”, contou.

A professora Socorro Jucá passou a conviver mais com o amigo nos últimos dois anos, mas conta que antes disso sempre foi fã de seu trabalho. “Meu filho começou a namorar com a filha dele. Logo no início, eu não sabia que ele era pai dela, porque sempre admirei muito as suas charges e depois que o conheci pessoalmente passei a admirar ele também. Uma pessoa muito alegre e divertida”, destacou. “Ele estava muito feliz. Era apaixonado pela filha e pela esposa, eles eram um casal muito unido”, lamentou.

Genialidade a serviço do bom jornalismo diário

Poucos atingem o grau de unanimidade quando o assunto é trabalho e amizade. O designer gráfico Atorres, cartunista premiado nacional e internacionalmente, designer e editor de arte do jornal DIÁRIO DO PARÁ, é uma dessas pessoas. No início da manhã de ontem quando começou a circular a notícia inesperada e repentina de sua morte, a comoção tomou conta de inúmeras pessoas que conviviam, trabalhavam e tiveram o privilégio de conhecer esse profissional ímpar, com 30 anos de carreira, e que deixou o jornalismo e a arte paraense num luto que será difícil de superar. Na noite da última quinta-feira, ele, que tinha 55 anos estava jogando uma partida de futebol como costumeiramente faz. Chegou em casa reclamando de dores fortes na cabeça. A família o levou ao hospital, onde faleceu.

Jader Barbalho Filho, diretor presidente do grupo RBA, considerava Atorres como um amigo e estava bastante abalado com a perda de um dos maiores chargistas do Brasil, segundo Jader e que foi um dos pilares de sustentação do início da arrancada do sucesso do DIÁRIO. “O Arnaldo acreditou no projeto de que o DIÁRIO poderia um dia chegar a liderança do mercado de impressos paraense. E com a ajuda dele, chegamos lá. Ele, acima de tudo, era um cara de caráter, um amigo que eu perdi. Estou triste por não estar aí em Belém para fazer essa última homenagem a ele”, lamentou.

Camilo Centeno, diretor Geral do grupo RBA, considera Atorres um dos maiores talentos que o Pará produziu. “A capacidade dele de se expressar em uma charge era fantástica. As artes das capas do DIÁRIO sempre foram diferenciadas quando feitas por ele. Os trabalhos nos vários anuários, cadernos especiais etc. foram obras de arte deixadas por ele. Era um cara simples, tranquilo e atento aos fatos. Vai fazer uma enorme falta para todos nós. Que Deus o acolha em paz e dê conforto à família”.

Para Clayton Matos, diretor de redação do jornal, Atorres era mestre em tudo o que fazia. O considerava o rei das capas, das páginas estilosas e das charges engraçadas, ácidas e atuais. “É um irmão que o jornalismo me proporcionou. Nos brindou com seu talento, irreverência e ousadia. A única forma que temos de tentar manter seu legado é surpreender nosso leitor todo dia, não ter medo de ignorar padrões e mostrar que sua enorme colaboração conosco jamais foi em vão”.

William Silva, editor executivo do jornal, lembra que conheceu e se tornou amigo de Atorres em “A Província do Pará”. “Eu era editor e ele diagramador. De espírito irrequieto, logo cedo começou dar provas de sua genialidade. Um artista que consolidou seu trabalho para além da diagramação: era imbatível com suas charges criativas e cheias de humor crítico e às vezes letal contra as injustiças”

O também editor executivo Adaucto Couto lembra que ele era alguém cuja criatividade parecia não ter fim. “Tinha sacadas geniais, além de bolar belas capas e páginas temáticas. Estava sempre aberto a sugestões e ajudar quando fosse preciso. Que Deus o tenha em paz e console sua família nesse momento tão difícil”.

Ausência deixa uma lacuna insubstituível na redação

Quem estava acostumado ao dia a dia na labuta ao lado de Atorres sentirá muita falta do seu profissionalismo, além do bom humor e sagacidade que sempre foram sua marca registrada e alegravam as noites de fechamento do DIÁRIO, tornando o trabalho mais leve e prazeroso. Octávio Cardoso, editor de fotografia do jornal diz que, acima de tudo, Atorres foi um parceiro. “Não só pelo fato de nossas funções estarem muito ligadas, mas pela cordialidade e respeito com que sempre me tratou. Talentoso e criativo deixa um vazio muito grande na redação”.

Esperança Bessa, editora do Caderno Você lembra que, além de ser um colega querido de trabalho, teve a oportunidade de trabalhar mais profundamente com o designer quando criaram a revista ‘D Semanal’, que teve projeto gráfico criado pela designer Anna Leal sob supervisão direta do editor de arte. “Com seu olhar afiado ele dava os toques precisos para se chegar ao formato ideal. O resultado desse trabalho: a publicação do Diário foi eleita a melhor revista dominical de jornais impressos de todo o mundo, sendo premiada em Nova York”, lembra.

O diagramador D’Angelo Valente diz que teve o prazer de ter o cartunista não como um chefe, mas como um amigo e parceiro mesmo. Com ele afirma ter aprendido muita coisa do mundo do design gráfico, que levou ao seu crescimento profissional. “Devo muito a ele. Em 2013 me deu a oportunidade de ser instrutor no Atorres Cursos e desde então faço parte dessa equipe, pois sempre acreditou em mim junto com a Selene. Sem exagero, o mundo perde um grande profissional do cartum, design gráfico e nós, um amigão”, diz D’angelo, que trabalhava com Atorres desde 2009.

Jonas Fonseca, também diagramador e com 23 anos de DIÁRIO considera um privilégio ter conhecido e trabalhado com o “mestre”. Ele lembra que quando entrou no jornal o cartunista fazia apenas as charges da capa do jornal, e aos poucos se tornou o cérebro da criação e dos projetos gráficos. “Foi ele, que deu todo o suporte quando foi feita a junção do Diagramador/Paginador, pois deixamos de usar uma folha (chamada de diagrama) que a gente colocava ao lado do computador. Passamos a diagramar direto no programa. Vai deixar saudades pois acima de tudo era um amigo de todos na redação”.

Gérson Nogueira, ex-diretor de redação e atual membro consultivo do Grupo RBA, é um dos muitos amigos que Atorres deixou no trabalho. Ele lembra dos muitos anos de rotina diária, varando a madrugada, com muitos fechamentos, sempre buscando ideias e criando tantas capas, projetos e páginas, além dos cartuns inspirados de sempre. “Atorres era um profissional de altíssimo nível, que não devia a ninguém do eixo Sul-Sudeste em sua área. Um artista, acima de tudo, empenhado na criação e na construção de grandes projetos, além de uma pena afiada nos cartuns. Foi fundamental na formatação visual do DIÁRIO, pedra de toque da modernização que se consolidaria nos anos seguintes. Lamento não ter viabilizado com ele o projeto de um livro sobre futebol com ilustrações dele, mas fica pra próxima. Que Deus o tenha...”

A última contribuição de Atorres no impresso paraense saiu publicada na capa da edição do DIÁRIO de ontem (22): uma charge que ironiza o pênalti cobrado de forma deprimente pelo volante Caíque Oliveira, do Paysandu, diante do Cuiabá-MT na final da Copa Verde realizada na última quarta-feira (20).

“Vou sempre tentar ousar. Coragem. E nunca se acomodar”

Dizem que não há maior reconhecimento profissional do que ser admirado pelos próprios colegas de profissão. A morte tão repentina de Atorres deixou os amigos de traço com o papel em branco, sem ter o que rabiscar ou o que dizer. “São 36 anos de amizade, trabalhando junto, bebendo junto, jogando bola junto. Era um ilustrador que largou a faculdade de Física Nuclear porque se apaixonou pelo Jornalismo”, contou, emocionado, o cartunista J Bosco. Foi inclusive ele, Bosco, quem ensinou diagramação a Arnaldo, na década de 1980, quando ele ingressa n’A Província do Pará.

Morando em Blumenau (SC), o ilustrador Waldez Duarte foi outro pego de surpresa com a notícia da perda. “Ele sempre será lembrado por sua rapidez na criatividade da charge em cima do lance”, comentou. Os dois se conheceram já no DIÁRIO, por conta de uma publicação de Waldez em uma página que Atorres diagramava. “Acreditava em meu talento e quando ganhei o Salão de Piracicaba, em 1997, ele pessoalmente fez questão de fazer a matéria comigo em sua casa”, recordou.

Foi na Universidade Federal Pará (UFPA) que o cartunista Walter Pinto conheceu o ainda Arnaldo Torres. Só precisou ver um desenho para chamá-lo à Província. “Falei com [Euclides] Chembra [Bandeira], diretor de redação, que topou na hora. Começou aí uma carreira vitoriosa, construída com talento, criatividade, humor e muito trabalho. Mais que humorista gráfico, Atorres era também um grande designer gráfico, formador de muitos profissionais na área”, enalteceu.

LIÇÃO

Júnior Lopes, cartunista radicado em São Paulo, faz parte de um grupo de WhatsApp do qual Atorres também fazia parte, e fez questão de lembrar de uma espécie de lição deixada por ele. Autor da elogiadíssima capa do DIÁRIO de 9 de novembro, que noticiava a saída da prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, ganhou também muitos elogios no chat coletivo. À ocasião, disse que sempre “tentaria ousar”. “Mais tarde estamos todos mortos. Coragem. E nunca se acomodar”, enviou aos colegas.

TALENTO

PROFISSIONAL

l Reconhecido pela perspicácia em suas obras, quase sempre irônicas e muitas vezes polêmicas, Atorres trabalhou na extinta A Província do Pará como diagramador por 7 anos e iniciou como ilustrador no DIÁRIO DO PARÁ em 1994, assinando a charge da capa. Em 1997, assumiu o comando da editoria de arte do jornal chefiando a equipe de paginação e ilustração e assinando os projetos gráficos do jornal. Lançou os livros “Antes Charge do que Nunca” e “Leão, Papão e Outros Bichos”, ambos coletânea de charges publicadas no jornal Diário do Pará.

lAtorres também trabalhou em várias agências de publicidade no Pará. Possuía um centro de formação e ministrou inúmeros cursos e workshops, no Pará e pelo Brasil, ensinando a centenas de profissionais não somente técnicas de ilustração, mas também a aperfeiçoarem o olhar sagaz que transformou suas produções em obras singulares.

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