O governo colombiano pediu reunião de emergência do Conselho
Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) por causa da situação de
caos institucional na Bolívia. Além de Evo Morales, também renunciaram o
vice-presidente, Alvaro García Linera, o presidente da Câmara, Victor Borda, e
a presidente do Senado boliviano, Adriana Salvatierra.
Com a renúncia de Salvatierra, a Bolívia caiu num vácuo de
poder. Segundo a Constituição boliviana, em caso de renúncia do presidente,
assume o vice. Na ausência do vice, quem fica em seu lugar é o presidente do
Senado. Caso esse também esteja ausente, a atribuição cabe ao presidente da
Câmara. E aí devem ser convocadas as eleições em prazo máximo de 90 dias.
Mas no caso da Bolívia, todos esses renunciaram.
Em entrevista para uma TV boliviana, Jeanine Añez,
vice-presidente do Senado, afirmou que vai convocar uma reunião na
segunda-feira (11) e assumirá a presidência com o único objetivo de convocar
novas eleições.
O objetivo da reunião de emergência na OEA, segundo fonte do
Planalto é o estabelecimento imediato de condições para eleições limpas e
transparentes, com monitoramento internacional.
A iniciativa teve apoio do Brasil, que chegou a avaliar
convocar a reunião, mas preferiu apenas endossá-la, para não alimentar as
teorias que estão viralizando na Bolívia, de que o o presidente Jair Bolsonaro
e a igreja evangélica apoiaram um golpe de Estado no país.
Embora Evo tenha afirmado que renunciou à presidência da
Bolívia diante de um "golpe cívico-político-policial", o presidente
Bolsonaro afirmou ao Globo que "a palavra golpe é usada muito quando a
esquerda perde".
O governo brasileiro não compra a tese do golpe e sustenta
que a renúncia de Evo resultou da pressão da população e que o exército apenas
se negou a cumprir ordem de agir contra o povo.
Da mesma maneira, segundo fonte do Planalto, o Brasil se
negou a autorizar venda de armamentos não letais requisitados por Evo. Na visão
do governo, a venda de US$ 5 milhões em armamentos não letais de uma empresa
brasileira, como bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, seria usada
para "reprimir o próprio povo boliviano" e, por isso, Evo não mereceu
a cooperação do Brasil.
Mais cedo, o Itamaraty havia soltado uma nota sobre a
análise de Integridade Eleitoral feita pela OEA, que detectou graves
irregularidades no pleito, e pedindo realização de novas eleições.
"Estamos acompanhando de perto, com cautela, tentando
ver como as forças políticas domésticas se posicionam", disse uma fonte do
Planalto.
Evo renunciou à Presidência da Bolívia em pronunciamento na
televisão às 18h (horário de Brasília), da cidade de Cochabamba, após pressão
das Forças Armadas e protestos intensos nas grandes cidades do país.
"Me dói muito que nos tenham levado ao enfrentamento.
Enviei minha renúncia para a Assembleia Legislativa Plurinacional",
afirmou.
Ele havia anunciado a convocação de novas eleições na manhã
do domingo, depois que o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados
Americanos), Luis Almagro, pediu a anulação das eleições na Bolívia, após
auditoria realizada na apuração dos votos.
A tensão na Bolívia vinha escalando nas últimas semanas por
conta de enfrentamentos entre apoiadores e críticos de Evo, que o acusavam de
fraude. Houve levantes de policiais e militares que se recusaram a tomar ações
de repressão contra opositores, enquanto Evo acusava uma "tentativa de
golpe de Estado".
A Bolívia viveu um agravamento da tensão nas ruas por conta
dos resultados contraditórios divulgados após as eleições do último dia 20 de
outubro, que conferia um quarto mandato a Evo.
O órgão eleitoral iniciou uma contagem rápida, que dava um
resultado de segundo turno até os 80% das atas apuradas. Três horas depois,
porém, essa contagem foi interrompida por 24 horas, enquanto se acelerou a
contagem "voto a voto".
Quando por fim foram anunciados os resultados das urnas, Evo
estava na frente por pouco mais de dez pontos percentuais de vantagem, o que o
levaria a conquistar seu quarto mandato já em um primeiro turno.
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