A polonesa Olga Tokarczuk e o austríaco Peter Handke foram
anunciados na manhã desta quinta-feira (10), no horário de Brasília, como os
vencedores do prêmio Nobel de Literatura de 2018 e de 2019, respectivamente.
Neste ano, dois prêmios foram concedidos porque a Academia
Sueca, responsável pela escolha, não entregou a medalha no ano passado por
discordâncias internas do júri.
Laureada com a medalha correspondente a 2018, Tokarczuk era uma das mais cotadas pelas bolsas de apostas. Romancista, ensaísta, roteirista e celebridade literária em seu país, a polonesa nasceu em 1962 e é autora de "Flights", livro pelo qual ficou conhecida mundialmente após ganhar a versão internacional do Man Booker Prize em 2018, prêmio para o melhor trabalho traduzido para o inglês e publicado no Reino Unido.
No Brasil, o livro foi publicado com o título "Os
Vagantes" (ed. Tinta Negra), mas está atualmente esgotado -a editora
Todavia irá republicar a história com uma nova tradução e novo título,
"Viagens". Fragmentado, romance costura histórias de diferentes
séculos. Em uma, por exemplo, a autora conta a biografia imaginada de um
anatomista holandês que descobriu o tendão de Aquiles, no século 17. Em outra,
traz a história do coração de Chopin, carregado em um recipiente com álcool por
sua irmã.
A Todavia anunciou que irá editar a obra da escritora no
Brasil. O primeiro título será "Sobre os Ossos dos Mortos", com
previsão de publicação em novembro.
Para Leandro Sarmatz, que editou o livro, a polonesa tem uma
voz inquieta e crítica sobre a política e a cultura de seu país. "O
hibridismo formal e a visão sobre temas de hoje -autoritarismo, especismo,
envelhecimento-, aliados a uma escrita que sempre toma o partido do prazer do
texto, fazem dela um nome incontornável", avalia o editor. "É uma
autora que, falando do Leste Europeu, conversa com leitores do mundo
todo."
Segundo o anúncio do Nobel, Tokarczuk foi escolhida por sua
"imaginação narrativa que, com paixão enciclopédica, representa o
cruzamento de fronteiras como uma forma de vida". Para o júri, ela
"nunca vê a realidade como algo estável ou eterno, mas constrói seus
romances em uma tensão entre opostos culturais".
Isso faz com que suas narrativas sejam costuradas pela
fragmentação e pela diversidade, com uma consciência de que a Polônia não é uma
nação homogênea.
Algo que, em certo sentido, pode ser visto no que foi
chamado pelo Nobel como sua principal obra: o romance histórico "The Books
of Jacob", para o qual a autora passou anos pesquisando em arquivos e
bibliotecas até criar o protagonista, Jacob Frank, líder de uma seita do século
18, proclamado por seus seguidores como o novo messias.
Já o vencedor de 2019, também anunciado nesta quinta (10),
Peter Handke é dramaturgo, romancista e roteirista -e muito lembrado pela
parceria com o diretor Wim Wenders na roteirização do filme "Asas do
Desejo" (1987), clássico com anjos que pairam sobre Berlim e observam a
cidade e seus habitantes.
O austríaco figurava há anos entre os favoritos para o
prêmio por sua obra que tem um quê de kafkiana, mas que é geralmente construída
em um universo silencioso, com almas vagando por percepções existenciais do
mundo.
Nascido em 1942 em uma família de minoria eslovena, Handke é
mais traduzido e publicado no Brasil do que Tokarczuk. Aqui, foi lançada em 2015
a coletânea "Peças Faladas" (ed. Perspectiva), com textos escritos
pelo autor entre 1966 e 1967 que não trazem um enredo nem personagens
delineados.
A Estação Liberdade também publicou "A Perda da Imagem:
ou Através da Sierra de Gredos" e "Don Juan (Narrado por Ele
Mesmo)". A editora prevê ainda para novembro o lançamento de "Ensaio
Sobre o Maníaco dos Cogumelos", publicado originalmente em 2013.
Ganhador do prêmio Ibsen de 2014, que homenageia
personalidades e instituições vinculadas à dramaturgia, Handke tem mais de 50
anos de carreira literária, com um grande número de obras em diferentes
gêneros. Segundo a organização do Nobel, ele foi escolhido por ser "um dos
mais influentes escritores europeus pós-Segunda Guerra" e por ter uma
"extraordinária atenção às paisagens, o que fez do cinema e da pintura
duas de suas maiores fontes de inspiração".
Os dois europeus receberão como prêmio 9 milhões de coroas
suecas (cerca de R$ 3,7 milhões).
De certa forma, o anúncio frustra a expectativa criada de
que o Nobel de Literatura neste ano acentuaria o seu verniz de diversidade. Em
outubro, o membro da Academia Sueca Anders Olsson afirmou que a diversidade era
uma das prioridades do comitê.
"Precisamos ampliar nossa perspectiva", disse.
"Temos uma visão eurocêntrica da literatura e agora estamos olhando para
todo o mundo. Antes, estávamos observando mais os homens. Agora, existem muitas
mulheres que são realmente excelentes."
Com o prêmio, Olga Tokarczuk se torna a 15ª mulher a receber
a honraria entre 116 escritores premiados até hoje. Mas na questão geográfica
não houve mudanças -tanto ela quanto Handke são europeus, continente mais
lembrado pelo Nobel.
NOBEL CANCELADO EM 2018
A entrega do Nobel de Literatura foi cancelada no ano
passado após o fotógrafo franco-sueco Jean-Claude Arnault, que administrava uma
fundação cultural que recebia fundos da Academia, ter sido acusado de estupro.
Ele era casado com a poeta Katarina Frostenson, que é membro da academia.
O fotógrafo também foi acusado de vazar nomes de vencedores
do Nobel de Literatura. A fundação Nobel cancelou a premiação do troféu
literário em 2018 e anunciou, em março deste ano, que a premiação de 2019 seria
em dobro.
A Academia Sueca, criada em 1786 para salvaguardar a língua
sueca, escolhe somente o vencedor do Nobel de Literatura. Outras instituições
acadêmicas do país selecionam os vencedores de campos da ciência. Um comitê
norueguês escolhe o vencedor do Nobel da Paz.
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