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Pandemia deu status fashion às roupas de ficar em casa

"Loungewear" ou "comfy" foi uma das tendências da moda em 2020

Imagem ilustrativa da notícia Pandemia
deu status fashion às roupas de ficar em casa camera Reprodução

Se a moda já havia sido desafiada em 2019, que jogou na fogueira a elegância vinculada à nobreza espalhafatosa e os micos das marcas, em 2020 teve de lidar com o deserto das ruas, o mau humor das pessoas isoladas e a pergunta incômoda cuja resposta ainda tenta construir: para que ela serve mesmo?

O motor deste ano girou em torno dessa questão porque, de todas os produtos culturais, a moda é aquele que só faz sentido com a exposição pública, vetada pela pandemia - afinal, não nos arrumamos para a solitude e compramos novidades pela satisfação de algum dia as expor ao vento.

Foi pelas redes sociais que as tais tendências se mantiveram, requentadas por meio do passado festeiro dos anos 1980 e das estampas esfuziantes dos 1970, tudo misturado em doses homeopáticas de simplicidade noventista. É o velho repaginado, a segurança do que deu certo agora em embalagem bonitinha.

Ao espremer essa carga dramática da roupa dita fashion, o que sobrou foi funcionalidade, definidora dos lançamentos de êxito comercial e parte mais óbvia da resposta sobre a utilidade da moda.

Moletons, pijamas, calçados felpudos e a camisetinha confortável do dia dia guiaram o espírito novidadeiro. E ele foi ricamente adornado em nome gringo, o "loungewear", ou "comfy", para fashionistas já íntimos dessa "new trend" de cinco anos atrás e cuja validade permanecerá até quando as vacinas contra a Covid-19 surtirem efeito. Ainda que se tente manter o sorriso nos vídeos, com tie dye e algum sexy para ficar em casa, a moda conta com a imunização.

Isso não só porque brilhos, vestidos de festa, longos de casamentos e saltos altos geram mais lucros. Também depende da vacina a locomotiva de vendas das casas de costura poderosa com a sua máquina de apresentações.

O sumiço de turistas, principalmente os chineses, cortou o trânsito nos corredores europeus e americanos, levando as marcas a investir nos mercados domésticos. A Ásia virou destino de desfiles físicos logo após o afrouxamento das restrições de circulação.

Por aqui, uma nova leva de marcas internacionais veio para marcar território e depender menos dos aeroportos. Isabel Marant acaba de aportar em São Paulo, no CJ Shops, e a Balenciaga já tem tapumes anunciando sua chegada no JK Iguatemi, em março.

Mas a mítica dessa moda de cifras altas reside no hemisfério norte, mais uma vez fechado pela segunda onda do vírus e que correu para tentar mostrar relevância criativa. Atadas ao dilema de aglomerar ou não, as grifes fizeram desfiles concisos, como o da Chanel, ou filmes para semanas de moda criados por estetas.

A Dior chamou Matteo Garrone ("Gomorra") para filmar sua alta-costura, já a Gucci teve Gus Van Sant ("Garotos de Programa") por trás de sua série de curtas. Em São Paulo, a estreante Misci apostou alto num vídeo em cenário de destruição que reflete sobre a questão ambiental do país.

Aí reside um outro ponto crucial para entender a moda desenhada pelo ano. Fatores identitários entraram na pauta não como artifício marqueteiro, mas em atitudes práticas de inclusão.

Em decisão inédita e na esteira do movimento Black Lives Matter, a São Paulo Fashion Week cedeu ao coletivo de modelos Pretos Na Moda e instituiu que metade dos modelos de suas passarelas devem ser negros, indígenas, afrodescendentes ou asiáticos.

Tornou-se a primeira do mundo com um código racial definido em contrato, fruto de uma pressão social. A palavra-chave para definir os pilares da mudança é a sustentabilidade, a preocupação com as engrenagens ambiental, social e econômica do mundo que, a bem da verdade, vive mais por circunstância e cobrança de quem consome moda do que pela boa vontade dessa indústria.

O momento "upcycling" do mundo, aventado desde a década passada e agora vendido como revolução ao pôr na prateleira roupas feitas com estoques de matéria-prima ou peças de segunda mão, pode ser lido como preocupação sobre o descarte de lixo fashion.

Mas, à luz da crise global de insumos para a produção de roupas despertada pela pandemia, a tendência veio em boa hora, e esse outro lado da moeda não parece lá muito vinculado ao "propósito", ou ao "impacto positivo", para citar jargões difundidos.

Foram pílulas do paradoxo existencial duas despedidas emblemáticas. A de janeiro, quando Jean Paul Gaultier deixou as passarelas num desfile em Paris, fazendo a última festa opulenta da costura pré-pandemia, e a de outubro, de Kenzo Takada. Morto pela Covid-19, ele era o maior símbolo do ideal multiculturalista propagado pela indústria.

Ambos foram signos da irrealidade, da moda agarrada à fantasia, e a quem parte do público já acostumado ao fast fashion cobrava criações menos estapafúrdias –uma moda real. Sobre ela, a Saint Laurent encerrou o ano com o último desfile da safra 2020, transmitido online e filmado num deserto inominado.

Pelas dunas de areia, as modelos exibiram o sexy de boate da marca para o vazio, num embate na tela entre o que virou e o que a marca gostaria que virasse a moda em 2021.

Como se lembrasse o filósofo esloveno Slavoj Zizek e sua metáfora sobre o filme "Matrix", de 1999, usada em livro em que o autor destila a incongruência dos discursos ideológicos, a grife parece responder –e fazer mea culpa– a essa turma que vê a costura apenas sob o prisma capitalista. Gritou com eco: "Bem-vindo ao deserto do real".

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