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CÍRIO DE NAZARÉ

A devoção chegou no balanço das águas do mar

A devoção a Nossa Senhora de Nazaré se desenvolveu secularmente no entorno das águas, dos navegantes e dos náufragos, como ocorria em Portugal, nos séculos 15, 16 e 17. “Não é à toa que essa devoção chega ao Pará em Vigia, região de pesca do Salgado parae

A devoção a Nossa Senhora de Nazaré se desenvolveu secularmente no entorno das águas, dos navegantes e dos náufragos, como ocorria em Portugal, nos séculos 15, 16 e 17. “Não é à toa que essa devoção chega ao Pará em Vigia, região de pesca do Salgado paraense, trazida muito provavelmente por marinheiros ou oriundos as região dos Algarves, no Sul de Portugal, ou do arquipélago dos Açores, no Atlântico”, destaca o historiador Geraldo Mártires Coelho, da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Ele lembra que, no século 16, o navegador espanhol Francisco Orelana percorreu todo o rio Amazonas, do Peru até o Atlântico, e utilizou o termo “mar Dulce” (mar de água doce). “Muito do avanço da devoção mariana se deve ao domínio desses aventureiros nas águas da região”, diz o historiador. “Tanto que, na grande procissão do Círio do domingo, vemos na multidão milhares de homens e mulheres levando pequenos barcos na cabeça, pagando promessas da compra de uma embarcação ou em agradecimento pela salvação de um naufrágio”, lembra.

Mártires diz que essa devoção das águas em torno de Maria se repete em outras regiões do País e do mundo, tendo em vista que a água é um elemento de purificação. “Se olharmos a história, veremos que Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, também foi achada nas águas. O mesmo acontece com Nossa Senhora de Lourdes, na França, e Nossa Senhora das Fontes, em Portugal”. No caso de Nossa Senhora de Nazaré, a história diz que o caboclo Plácido teria achado a imagem da virgem nas margens do Murucutu, onde hoje foi erguida a Basílica Santuário, em Belém. “Esse caboclo teria levado a imagem para sua cabana, mas a mesma teria voltado para o seu lugar de origem várias vezes”, conta. “Até que, mais tarde, decidiu-se pela construção do templo”.

Pintura representando a história do caboclo Plácido, que teria encontrado a imagem às margens de um riacho

O INÍCIO

O historiador lembra que o primeiro Círio em Belém ocorreu em 1793, época em que o Pará era governado por Francisco de Souza Coutinho, um oficial da marinha portuguesa que conhecia a fundo os últimos Círios que haviam acontecido no Santuário de Nazaré, em Lisboa, em Portugal. “Esse Santuário fica numa área de águas profundas, de muita pesca e naufrágios. Isso reforça essa relação de Nossa Senhora de Nazaré com as águas e a intercessão dos devotos em seu nome nos momentos de perigo”, destaca Mártires. Ele lembra que, no Brasil, o mesmo acontece, até hoje, com a forte influência dos rios na vida e na cultura amazônica, sobretudo no Pará.

Esse aspecto da devoção mariana sob a ótica das águas é considerado o mais significativo por Geraldo Mártires, que esteve em Portugal em 1997, realizando pesquisas para o livro “Uma crônica do maravilhoso; legenda, tempo e memória no culto da Virgem de Nazaré”. Publicada em 1998, a obra narra os primórdios da devoção mariana e do Círio até os dias atuais. “A cultura paraense merece que essa memória seja resgatada”, afirma Mártires.

Presença portuguesa era visível em todos os espaços

A Belém de 1793, ano em que ocorreu o primeiro Círio, era uma cidade amazônica que sentiu os efeitos da política civilizatória pombalina. A economia paraense seguia fundada no extrativismo vegetal, cujos produtos eram comercializados para Lisboa. A cidade abrigava o aparato político da administração colonial e as elites locais eram formadas por titulares da burocracia estatal, figuras do clero, oficiais militares e comerciantes de peso.

Para falar de uma cultura local, entendida em termos intelectuais, essa era essencialmente portuguesa, com base em uma literatura oficialmente consentida. “A cultura popular mesclava fundamentalmente elementos indígenas e lusitanos, visível nas feiras e outros espaços públicos”, conta o historiador Geraldo Mártires, da UFPA. “Lembremos que, desde as reformas pombalinas, o português era a língua oficial, confrontando a chamada língua geral, fundada nos falares tribais.”

(Diário do Pará)

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