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CÍRIO DE NAZARÉ

Fiéis relatam lembranças do Círio de Nazaré

Quando o relógio apontava as 6h, todos já deveriam estar acordados, de banho tomado e pés descalços. Impreterivelmente às 7h do segundo domingo de outubro do ano de 1963, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré sairia da Igreja da Sé em direção à multidão que

Quando o relógio apontava as 6h, todos já deveriam estar acordados, de banho tomado e pés descalços. Impreterivelmente às 7h do segundo domingo de outubro do ano de 1963, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré sairia da Igreja da Sé em direção à multidão que lhe aguardava. A tradição era mantida pela família antes do nascimento dos filhos: nada poderia atrasar o primeiro encontro de Maria Ferreira da Silva, na época com apenas oito anos de idade, com o Círio de Nazaré.

Acomodada da melhor forma possível na Praça Padre Champagnat, na Cidade Velha, o contato visual mais próximo da menina com a santa chegou rápido. Pelos braços do pai, a criança foi erguida do chão e, por alguns instantes, pôde entender a força que reunia tantas pessoas em um mesmo lugar, tão cedo e em pleno domingo. Apresentada à fé destinada à padroeira dos paraenses desde a infância, até hoje as lembranças do primeiro Círio não saem da memória da hoje enfermeira Maria Ferreira, 60 anos. “Fomos meu pai, minha mãe e meus dois irmãos. Era muito diferente do que é hoje”.

No lugar dos cânticos transmitidos hoje por autofalantes instalados em todo o percurso, o som ouvido por Maria Ferreira 52 anos atrás vinha da banda de música que tocava ao vivo. A berlinda que abrigava a imagem era carregada por pessoas criteriosamente escolhidas e as embarcações aguardavam no Ver-o-Peso repletas de enfeites em homenagem a Nossa Senhora. “Fiquei muito emocionada, como fico até hoje, de ver aquela fé.”

Dentre os elementos que mais chamaram a atenção da enfermeira no primeiro contato com a procissão, a corda puxada pelos promesseiros ainda hoje é motivo de comoção. Sem que na época fosse cortada em nenhum momento até que se chegasse ao fim da romaria, o espaço era dividido por homens e mulheres ao mesmo tempo. “A maioria do povo acompanhava descalço e, quando ela chegava à curva da avenida Nazaré com a Presidente Vargas, era o momento de maior aperto.”

MOMENTO MÁGICO

Decorridos 48 anos desde que Maria Ferreira iniciou na tradição de acompanhar a romaria nazarena, o primeiro Círio da universitária Ravenna Frisso, 19 anos, também ficou marcado pelo delicado momento em que a santa, acompanhada pelos inúmeros fiéis, passou da Nazaré para a Presidente Vargas.

Em meio ao aperto provocado pela grande quantidade de gente que tenta ao máximo se aproximar da berlinda, Ravenna teve a demonstração mais clara do sentimento que envolve a todos que vivenciam o Círio. “O sufoco foi muito grande, mas foi aí que eu percebi o quanto é grande a fé e a força que o Círio tem. Todo mundo se ajuda e, mesmo que às vezes falte o ar, tudo é compensado quando se vê a passagem da santa.”

Até que, em 2001, a estudante tivesse a oportunidade de presenciar tais experiências, ela só tinha sido apresentada à procissão através da televisão. Com a família reunida, os adultos seguiam para a romaria, enquanto as crianças faziam companhia para a avó em casa. Mesmo que todos os elementos já fossem conhecidos através das imagens, a energia que invadiu Ravenna em meio à multidão lhe fez comparecer a todos os outros Círios que seguiram. “Pela televisão tu vês a emoção das pessoas, mas pessoalmente tu sentes tudo aquilo. Tu encontras uma paz muito boa ali na hora e não tem como não chorar.”

EM LÁGRIMAS

O choro invadiu o rosto da secretária, Rita de Cássia, 58 anos, assim que ela se viu pela primeira vez envolta nos elementos que compõem o Círio. Vinda do Estado do Amazonas aos 18 anos para morar em Belém, nada parecido com a festa de Nazaré havia chegado à sua visão até então. “A primeira vez que eu vi tudo aquilo foi fantástico, meu Deus! Eu nunca mais deixei de ir”.

Sem que qualquer explicação lhe chegasse, à medida que a corda puxada pelos promesseiros se aproximou, os instintos levaram a jovem até um dos maiores símbolos de fé dos paraenses por Nossa Senhora. Com uma quantidade bem menor de pessoas no ano de 1976, Rita conseguiu segurar a corda e acompanhar o resto da procissão como promesseira. “Eu fui na corda, mesmo sem fazer promessa. Eu fiquei tão encantada com aquela emoção das pessoas que quis sentir
o mesmo. Naquela hora, eu me tornei promesseira”.

REENCONTRO

Filho do Pará, o biólogo Ailton Santa Brígida, 35 anos, foi apresentado à tradição ainda na primeira década de vida, em meados de 1990. Ainda que, à época, ele não tivesse ciência da real proporção do Círio, a emoção foi sentida. “A berlinda e a corda saltam aos olhos. Quando eu vi todo aquele povo com a fé que eles têm, eu vivi o que para muitos é o Natal dos paraenses”.

De volta a Belém depois de morar quatro anos no Rio de Janeiro, Ailton espera vivenciar o Círio de Nazaré neste ano como na primeira vez. Desta vez, ele mesmo será o responsável por introduzir o filho de apenas cinco meses na procissão que é considerada a maior manifestação de fé dos paraenses. “Vai ser como uma reestreia minha no Círio. Com certeza mudou muita coisa nesses quatro anos que eu fiquei sem participar.”

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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