Apesar do discurso inicial conciliatório e de respeito a
todas as forças políticas que o deputado Arthur Lira (PP-AL) adotou na noite
desta segunda-feira (1º) assim que foi eleito à presidência da Câmara, seu
primeiro ato no posto exclui praticamente todos os adversários de cargos do
comando da Casa, trocando-os por aliados.
Além do cargo de presidente, a cúpula da Câmara é formada
por outros seis postos -1ª e 2ª vice-presidências, 1ª, 2ª, 3ª e 4ª
secretarias. Esse colegiado de sete deputados é responsável por todas as
decisões administrativas da Câmara e também por algumas políticas, como o
encaminhamento de representações contra deputados.
Em sua decisão, Lira adotou entendimento que, se mantido,
rebaixa o PT do terceiro posto mais importante, a primeira-secretaria, para o
último, a quarta-secretaria. Já PSDB e Rede, que também integravam bloco
adversário a Lira, perdem os postos a que teriam direito (segunda e quarta
secretarias).
"Primeiro ato de Arthur Lira foi dar um golpe na
oposição para mandar na Mesa da Câmara. Violência contra a democracia. Mostrou
que será um ditador a serviço de Bolsonaro", escreveu em suas redes
sociais a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
A retirada de adversários em prol de partidos aliados se deu
porque Lira indeferiu o registro de candidatura do bloco adversário, de Baleia
Rossi (MDB-SP), sob alegação de que o PT perdeu por seis minutos o prazo
estipulado para registrar no sistema seu apoio a Baleia.
O PT contesta, afirmando que uma deficiência no sistema o
impediu de cumprir o prazo.
Os seis cargos da Mesa são distribuídos de acordo com o
tamanho de cada bloco. Sem o PT, o bloco de Baleia só terá direito à última
vaga. O de Lira, às cinco primeiras -que devem ser distribuídas a partidos de
seu bloco, formado majoritariamente pelo centrão.
Partidos da oposição e outros políticos prometem recorrer
nesta terça-feira (2) ao STF (Supremo Tribunal Federal). A possibilidade de
judicialização foi discutida em reunião na presidência do MDB, no início desta
madrugada.
"Nós não aceitamos esse ato. Os partidos irão,
conjuntamente, ao Supremo Tribunal Federal", disse o líder do PSB na
Câmara, Alessandro Molon (RJ), após o encontro dos deputados.
Segundo ele, os partidos que apoiaram a candidatura de
Baleia Rossi ficaram sobressaltados com o ato "autoritário,
antirregimental e ilegal" de Lira. "Se continuar neste caminho,
[Lira] comprometerá a governabilidade da Casa e perderá qualquer condição de
presidir esta Casa", disse.
Líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL) afirmou que Lira fez um
discurso exaltando a voz do Parlamento e, "em um ato autoritário",
anulou um bloco parlamentar e parte de uma eleição que foi acordada e discutida
pelo colégio de líderes. "Isso é inadmissível."
Após a confirmação da vitória, Lira fez um primeiro discurso
pregando conciliação com adversários na disputa, mas com indiretas ao agora
ex-presidente da Casa Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O deputado do PP disse que iniciava a presidência com
humildade e prometeu absoluta dedicação ao cargo.
"Estou aqui de pé ao lado desta cadeira do presidente
ainda vazia, fazendo esse discurso de pé em homenagem a todos os partidos dos
que votaram e os que não votaram em mim", disse. "Prometo respeitar
como presidente as forças vivas desta Casa Legislativa."
Lira afirmou que não se confunde com a cadeira de presidente
e que jamais irá se confundir. "Sou um deputado igual a todos, não sou nem
serei a cadeira que irei ocupar", disse.
Ao longo da campanha, Lira acusou Maia de personalizar a
presidência da Câmara.
No discurso, o novo presidente da Câmara pediu um minuto de
silêncio às vítimas de Covid-19 no país e defendeu a democracia como uma
construção política. "A Câmara é e sempre foi a espinha dorsal do regime
democrático."
Lira afirmou que o presidente deve ter neutralidade no cargo
e olhar para todos os lados do plenário.
"A arquitetura desta Casa é clara. Tudo aqui deve ser
coletivo, a direção deve ser coletiva", ressaltou o novo presidente, que
destacou que os Poderes devem atuar com harmonia sem abrir mão da
independência.
Ele disse ainda que não cabe ao presidente estabelecer as
prioridades dos projetos, e sim aos deputados e à sociedade. "Tenho
opiniões, mas, como presidente da Câmara, minha opinião deve refletir a dos
demais."
O novo presidente também fez um aceno ao rival derrotado
Baleia, a quem chamou de amigo talentoso e líder habilidoso, e afirmou que,
encerrada a disputa, todos voltam a ser representantes do povo brasileiro.
Também fez elogios a Maia, sobre quem disse ter
discordâncias, mas também pontos em comum.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar