No dia seguinte à operação contra desvio de recursos
públicos que atingiu um de seus vice-líderes no Senado, o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) marcou distância do senador Chico Rodrigues (DEM-RR) e
afirmou que seu governo combate a corrupção, não importa quem seja o suspeito.
Em paralelo, aliados de Bolsonaro no Congresso enviaram
mensagens a Rodrigues, que teve dinheiro vivo apreendido entre as nádegas pela
Polícia Federal na quarta-feira (14) em Roraima, pedindo que ele se afaste da
vice-liderança do governo no Senado, diante de uma situação que eles julgam
como insustentável.
Na avaliação de interlocutores ouvidos pela Folha de
S.Paulo, caso Rodrigues não tome a iniciativa de pedir sua saída da
vice-liderança, não restará ao Planalto alternativa a não ser tirá-lo do posto.
"Parte da imprensa [está] me acusando de o cara
[Rodrigues] ser meu amigo, [que] eu [o] coloquei como vice-líder, [que] em
consequência eu não combato a corrupção. Essa operação da PF [Polícia Federal]
de ontem [quarta-feira] foi em conjunto com a CGU [Controladoria-Geral da
União], cujo ministro é o capitão Wagner Rosário. Essa operação foi
desencadeada conjuntamente [entre] CGU e PF: ou seja, nós estamos combatendo a
corrupção, não interessa quem seja a pessoa suspeita", declarou o
presidente para um grupo de apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada.
"Essa investigação de ontem [quarta-feira] foi um
exemplo típico do meu governo, que não tem corrupção no meu governo e [que]
combate a corrução seja quem for", acrescentou.
Em outra fala para marcar distanciamento do senador,
Bolsonaro afirmou que se "um vereador faz algo de errado, não tenho nada
com isso".
Ele destacou ainda que seu governo é formado por ministros,
estatais e bancos públicos, para defender que o caso do senador não afeta sua
administração. "Alguns acham que toda corrupção tem a ver com o governo.
Não".
"Não isso que a imprensa está falando agora que eu
tenho a ver com essa corrupção, ou dizendo que meu governo faz corrupção. Se um
vereador faz algo de errado, não tenho nada a ver com isso. Ou melhor, eu tenho
a ver para ir para cima dele, com a Polícia Federal e, se for ocaso, com o
apoio da CGU", acrescentou.
A operação realizada em Roraima mirou desvio de recursos
públicos para o enfrentamento à Covid-19 no estado. Rodrigues é um dos
principais aliados de Bolsonaro no Legislativo e membro da tropa de choque do
Planalto.
Parte das notas apreendidas na operação, de acordo com
investigadores envolvidos no caso, estavam entre as nádegas de Rodrigues. Cerca
de R$ 30 mil foram encontrados na casa do parlamentar. A informação foi
divulgada pela revista Crusoé e confirmada pela Folha.
A permanência de Rodrigues na vice-liderança do governo no
Senado gera forte constrangimento para Bolsonaro, disseram interlocutores.
Desde a noite de quarta, aliados passaram a disparar
mensagens a Rodrigues sugerindo que ele saia da vice-liderança o quanto antes
para centrar esforços na sua defesa, tanto a jurídica quanto a do seu mandato.
Segundo um aliado do governo, Rodrigues no momento não tem
condições de defender nada, a não ser ele mesmo.
O coro foi engrossado pelo vice-presidente Hamilton Mourão,
que defendeu a saída de Rodrigues da vice-liderança. "Eu acho que seria
bom ele voluntariamente [sair], até para ele poder se defender das acusações
que tem de forma mais livre", declarou o vice na manhã desta quinta.
O senador disse, em nota publicada na quarta após a
operação, que confia na Justiça e que irá provar que não tem envolvimento com
qualquer ato ilícito.
Deflagrada pela PF e pela CGU, a Operação Desvid-19 tinha o
objetivo de coletar informações sobre o desvio de recursos públicos oriundos de
emendas parlamentares. Cada congressista tem direito a R$ 15 milhões por ano em
emendas ao Orçamento da União.
Os valores eram destinados ao combate à pandemia da Covid-19
-recursos administrados pela Secretaria de Saúde de Roraima.
Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão em Boa
Vista, expedidos pelo ministro Roberto Barroso, relator da investigação no STF
(Supremo Tribunal Federal). Rodrigues foi um dos alvos.
A reportagem ligou para o senador, mas não conseguiu
contato. Em um comunicado que fez sobre o caso, o senador disse acreditar
"na Justiça dos homens e na Justiça Divina".
"Estou tranquilo com o fato ocorrido hoje em minha residência
em Boa Vista, capital de Roraima. A Polícia Federal cumpriu sua parte em fazer
buscas em uma investigação na qual meu nome foi citado", afirmou
Rodrigues.
O senador disse que teve o "lar invadido" pelos
investigadores, por apenas ter feito o trabalho como parlamentar, levando
recursos para o combate à Covid-19 na saúde do estado.
"Tenho um passado limpo e uma vida decente. Nunca me
envolvi em escândalos de nenhum porte. Se houve processos contra minha pessoa
no passado, foram provados na Justiça que sou inocente."
"Na vida pública é assim, e, ao logo dos meus 30 anos
dentro da política, conheci muita gente mal intencionada com o intuito de
macular minha imagem, ainda mais em um período eleitoral conturbado, como está
sendo o pleito em nossa capital."
O parlamentar disse ainda que não trabalhou no Executivo,
não é ordenador de despesas e, como legislador, faz a parte dele,
"trazendo recursos para que Roraima se desenvolva". "Que a
Justiça seja feita e que, se houver algum culpado, que seja punido nos rigores
da lei", afirmou.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar