No dia 18 de setembro de 1950, a TV Tupi era inaugurada em
São Paulo e se estabelecia como a primeira emissora de televisão da América
Latina. Para a estreia daquela novidade tecnológica, um programa de variedades
reuniu estrelas conhecidas, até então, pela voz que saía das rádios, como Hebe
Camargo, Lolita Rodrigues e Lima Duarte.
Aquela emissão inaugural foi marcada por imprevistos, mas
deu início a uma longa e íntima relação entre a televisão e o público
brasileiros, que nesta sexta-feira completa sete décadas.
Foi difícil unir os dois. O pai da noiva, o empresário Assis
Chateaubriand, precisou trazer equipamentos e aparelhos dos Estados Unidos para
que, então, pudesse ampliar seu império da comunicação para uma nova área. Ele
já era dono do conglomerado Diários Associados, além de ter sido fundador do Museu
de Arte de São Paulo, o Masp.
Poucos meses depois daquele setembro de 1950, o Rio de
Janeiro ganhou sua própria versão da TV Tupi, fazendo surgir pelo Brasil uma
série de outras empresas querendo surfar nas ondas de transmissão. Mas isso não
significa que a TV alcançou o grande público logo de cara.
Só algumas dezenas de televisores sintonizaram na estreia da
TV Tupi paulista. Importado, robusto e com programação não contínua -quando não
havia atrações no ar, o simpático indiozinho do canal sorria estático na tela-,
o aparelho não era acessível para o grosso da população. Foi preciso tempo para
que conquistasse prestígio.
Essa história é contada pela Ilustrada numa edição especial
que celebra as sete décadas da televisão no Brasil, em reportagens que refletem
sobre as diversas faces -ou telas- do meio.
Um dos assuntos onipresentes neles é a ascensão do
streaming. Como qualquer casamento, o relacionamento da TV com o público
brasileiro já passou por tensões, mas há quem diga que, hoje, ele está diante
de uma crise sem precedentes.
A sobrevivência da TV como a conhecemos provoca debates
acalorados no mundo inteiro. No Brasil, no entanto, a televisão fechada pode
até estar intimidada frente à nova concorrência, mas a aberta segue forte.
Falamos, afinal, de um país em que 96% dos domicílios têm
acesso à televisão, de acordo com dados do IBGE de 2018. A porcentagem já foi
maior e a internet vem ampliando seu sinal nos rincões do Brasil, mas o número
consolida os televisores como a principal fonte de informação e entretenimento
do brasileiro.
Grande parte desse entretenimento, inclusive, vem em forma
de telenovela, com tramas que se embaralham com a identidade do país e que
oferecem, há décadas, retratos do que já foi e do que é a sociedade brasileira.
Há quem diga que elas estão perdendo força diante das
gerações mais novas, habituadas ao imediatismo do streaming. A suposta
decadência estaria refletida, por exemplo, no fim de diversos contratos de
exclusividade que a Globo mantinha com artistas do tamanho de Tarcísio Meira e
Glória Menezes.
Mas quem argumenta contra o agouro destaca que sim, são
novos tempos, e é justamente para se adequar e continuar de pé que
reformulações são feitas.
Os anunciantes -eles também parte importante da trajetória
da TV no Brasil- engrossam o coro, já que continuam a se engalfinhar pelos
intervalos de uma das fatias mais nobres da programação, a faixa das nove.
Fazendo companhia ao gênero, estão formatos que nascem e renascem, como reality shows, que alimentam a artilharia da TV brasileira frente à ameaça estrangeira -já que, fora o Globoplay, as grandes peças do mercado de streaming vêm de fora.
Talvez já tenha havido tempos melhores para a televisão no
Brasil e no mundo, mas sua resiliência nesses 70 anos é prova de que ela
pretende continuar ligada por muito mais tempo.
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