O PT está preocupado com a possibilidade de um ataque ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após sua provável soltura nos próximos
dias, e está providenciando um reforço em sua segurança tão logo deixe a sede
da Polícia Federal no Paraná, em Curitiba.
"É evidente que vamos tomar muito cuidado. Há muita
conversa entre nós sobre a necessidade de reforço da segurança pessoal dele
[Lula], sobretudo nesse momento que algumas reações são muito doidas. Temos uma
preocupação com essa questão", disse Gilberto Carvalho, que foi chefe de
gabinete de Lula na Presidência e é um dos dirigentes petistas mais próximos a
ele.
Nesta sexta-feira, após reunião com Lula na PF, o advogado
Cristiano Zanin anunciou que já deu entrada na Justiça Federal com um pedido de
soltura imediata do líder petista. A iniciativa da defesa do ex-presidente
ocorre após a decisão do Supremo Tribunal Federal desta quinta-feira (7).
O plenário decidiu, com placar apertado de 6 votos a 5, que
um condenado só pode ser preso após o trânsito em julgado (o fim dos recursos),
alterando a jurisprudência, que desde 2016 tem permitido a prisão logo após a
condenação em segunda instância.
O PT já tem um roteiro para os primeiros dias de Lula em
liberdade. Se confirmada sua saída da prisão, ele fará um breve discurso a seus
apoiadores que mantiveram vigília em frente à PF desde a prisão, em abril do
ano passado.
A visita aos petistas Delúbio Soares e João Vaccari na sede
da CUT paranaense, onde trabalham, é improvável, por questões logísticas. Lula
então viajaria a São Bernardo do Campo (SP), provavelmente em avião fretado
pelo PT.
A ideia é dar duas noites de sossego para ele, até a
realização de um ato neste domingo (10), em frente ao Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC. Seria um evento cheio de simbolismo, uma vez que foi lá
que ele falou pela última vez aos apoiadores antes de ser preso.
A atuação do ex-presidente nos próximos meses também está em
estudo. Há o planejamento de que Lula faça uma caravana pelo Nordeste, mas isso
deve ficar para o ano que vem.
Neste ano, o ex-presidente deve fazer alguma visita pontual
a uma ou mais capitais nordestinas, além de participar do congresso do PT, que
ocorrerá em São Paulo, de 22 a 24 de novembro.
De acordo com Gilberto Carvalho, Lula evitará responder a
provocações do presidente Jair Bolsonaro e de seu entorno. "Nesse jogo ele
não vai cair. Não vai facilitar a vida do Bolsonaro e fornecer elementos para o
presidente fortalecer a sua base", declarou o ex-chefe de gabinete da
Presidência (2003-2010).
O tom de suas falas, segundo o dirigente petista, será sobre
a necessidade de unir o país, e não de vingança. Uma exceção será a crítica à
Lava Jato, especialmente ao ministro da Justiça, Sergio Moro, ex-juiz federal
que o condenou à prisão no caso do tríplex de Guarujá. "Ele não vai deixar
de xingar o Moro, mas de maneira geral, não tem essa coisa de vingança, do
ódio", declarou.
A principal preocupação do ex-presidente, segundo seu
ex-chefe de gabinete, será de ter um discurso marcadamente de esquerda em
alguns temas.
"Mas não é mais à esquerda no sentido de ser leninista,
ou trotskista. É na linha de defender a inclusão dos mais pobres no Orçamento
federal, e de denunciar que querem vender o país. São essas duas bandeiras que
ele vai abraçar mais", disse.
A pena no processo do tríplex foi reduzida no STJ (Superior
Tribunal de Justiça) para 8 anos e 10 meses e 20 dias de prisão. O caso ainda
tem recursos finais pendentes nessa instância antes de ser remetido para o STF.
O Supremo, porém, pode anular todo o processo sob argumento
de que o juiz responsável pela condenação, Sergio Moro, não tinha a
imparcialidade necessária para julgar o petista naquela situação. Mas ainda não
há data marcada para que esse pedido seja analisado.
Além do caso tríplex, Lula foi condenado em primeira
instância a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem no caso do
sítio de Atibaia (SP). Essa condenação também pode ser anulada porque a defesa
apresentou suas considerações finais no processo no mesmo prazo de réus
delatores.
O ex-presidente ainda é réu em outros processos na Justiça Federal em São Paulo, Curitiba e Brasília. Com exceção de um dos casos, relativo à Odebrecht no Paraná, as demais ações não têm perspectiva de serem sentenciadas em breve.
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