Professor de filosofia e história, Rafael Nogueira, 36, será
um dos principais debatedores da CPAC (Conferência de Ação Política
Conservadora), evento conservador que ocorrerá em São Paulo nesta sexta (11) e
sábado (12).
Muito ligado ao filósofo Olavo de Carvalho, de quem é aluno,
vai falar sobre a história do conservadorismo no Brasil e o estado dessa linha
de pensamento atualmente no país.
Ligado a grupos de direita como Avança Brasil, Brasil
Paralelo e Movimento Conservador, Nogueira diz que não há partido conservador
no país e que é preciso criar um do zero. Segundo ele, o PSL, de quem o
presidente Jair Bolsonaro está se afastando, foi apenas um arranjo emergencial
para a eleição de 2018.
Pergunta - Qual a situação do conservadorismo brasileiro
hoje?
Rafael Nogueira - Na história brasileira, com exceção do
período do Império, nunca houve um conservadorismo estabelecido. Não há uma
doutrina bem formada, à moda brasileira. Ela é em grande parte importada.
Também não é algo bem elaborado do ponto de vista partidário. Não existe bom
treinamento para candidatos conservadores, por exemplo. E também não temos um
partido realmente conservador.
Na sua opinião, como o conservadorismo é percebido de forma
geral pela sociedade brasileira?
RN - Existe ainda uma discussão no Brasil do que é ser
conservador. A gente está num período de reinício. O termo conservador sempre
foi aplicado às pessoas que queriam manter uma vantagem, manter sua condição
elitista. Muitas pessoas, entre jornalistas, políticos e acadêmicos, usam muito
mal a palavra conservador. Por muito tempo, conservador era xingamento.
E qual deveria ser a definição correta de conservador?
RN - Ser conservador é querer lutar politicamente para
preservar conquistas civilizacionais e valores que têm sido atacados, por
exemplo os ligados à família, a uma política que seja honesta, que tenha
cérebro, que seja previdente. As pessoas interpretam que apenas os
progressistas querem o progresso, mas o conservador também quer, apenas
preservando as conquistas milenares da civilização. Não mudar abruptamente, mas
de forma responsável.
O sr. citou o Império como uma época conservadora, mas há
algum outro exemplo? O regime militar?
RN - Não. Havia algumas ideias conservadoras no período
militar, mas não correspondiam ao regime. Correspondiam a algumas pessoas que
estavam reagindo a uma revolução comunista. Mas nenhum dos generais presidentes
era conservador, eram mais nacional-desenvolvimentistas.
A Cpac é um evento americano, que agora chega ao Brasil.
Quais as diferenças entre o conservadorismo brasileiro e o dos EUA e como é
feito o diálogo com os americanos?
RN - O diálogo não acontece ainda. É natural que seja
difícil, embora existam princípios conservadores com que todos conversam. O
conservadorismo não tem uma plataforma internacional como tem o comunismo e
tinha até o nazismo. Estamos descobrindo como vai ser esse diálogo.
Não é estranho que seja necessário haver um evento americano
para reunir conservadores brasileiros?
RN - A CPAC está chamando a atenção porque é americano,
talvez. Mas há diversos eventos que ocorrem no Brasil. Tivemos um agora em
Ribeirão Preto (SP), por exemplo. Talvez seja o jornalismo que esteja falhando.
Está faltando cobertura.
O sr. diz que não há partido conservador no Brasil. Nem o
PSL?
RN - O PSL não, de jeito nenhum. O PSL reuniu de improviso a
direita desamparada. Foi um arranjo de momento. Naquele momento, era preciso
trocar o pneu com o carro andando. Temos que definir agora nossa visão própria.
É preciso criar um novo partido conservador.
O sr. é muito ligado ao filósofo Olavo de Carvalho. Acha que
ele se engajaria nesse projeto?
RN - Não diretamente. O professor Olavo incentivou a
existência de uma direita, de um conservadorismo, porque não havia direita no
Brasil. Incentivou para que a democracia se aperfeiçoasse. Não existe
organização nenhuma na direita hoje, é uma bagunça total. A esquerda sempre
soube se organizar muito melhor.
Como o sr. vê as recentes brigas na direita, inclusive com
dissidências entre apoiadores de Bolsonaro?
RN - Não vejo com preocupação as discussões em si, elas não
são ruins. Só acho que deveriam ser mais discretas. As pessoas estão brigando
em público, não deveria ser assim.
Como avalia o conservadorismo do governo Bolsonaro?
RN - Eu confio muito no presidente. Vejo que ele está
fazendo o melhor dentro das possibilidades. Nós conservadores não sabíamos o
que é governar. Houve um momento de aprendizado, de tomar medidas emergenciais.
O presidente está aprendendo com seus erros. Vejo que está mantendo algumas
preocupações que eu entendo que são de campanha. Ele poderia se concentrar mais
no trabalho e ter menos preocupação com o que estão falando dele, o que
jornalismo está falando. Mas no geral, tenho poucas críticas.
E como o sr. vê o casamento entre conservadores e liberais
neste governo?
RN - Essa harmonia com os liberais faz sentido, porque eles também nunca tiveram muito lugar na política. Estou ainda na expectativa, porque o [Paulo] Guedes [ministro da Economia] também se deparou com uma circunstância inédita. Os liberais são os campeões da economia.
(Rafael Nogueira)
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