O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro,
deverá manter sua exposição pública mesmo diante de um processo explícito de
fritura de Jair Bolsonaro.
Nos bastidores, o presidente já demonstrou incômodo com a
popularidade do ex-juiz da Operação Lava Jato.
Moro não se deixou convencer, por exemplo, pelos
aconselhamentos do Palácio do Planalto para que ele não participasse do
programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido na segunda-feira (20).
Mesmo com a pressão de aliados de Bolsonaro para que se
recolha dos holofotes da imprensa e das redes sociais, ele deverá conceder nova
entrevista nesta segunda-feira (27), desta vez ao programa Pânico, da rádio
Jovem Pan.
Moro segue ainda com o ritmo de publicações nas redes
sociais em meio ao bombardeio mais recente de Bolsonaro, quando o presidente
disse publicamente que poderia desmembrar o ministério da Justiça e recriar a
pasta da Segurança Pública.
Além da participação em entrevistas, outros gestos de Moro
nos últimos dias causaram desconforto os assessores mais próximos de Bolsonaro.
Na quarta-feira (22), por exemplo, Moro cumprimentou
publicamente o ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), pela
decisão de suspender a criação da figura do juiz das garantias, que havia sido
validado por Bolsonaro no fim de 2019.
Além de sua conta no Twitter, o ministro criou na quinta
(23) um perfil no Instagram, um sinal de que pretende ampliar a presença nas
redes sociais –arena do debate político cara ao bolsonarismo.
O movimento foi feito durante uma enxurrada de apoios ao
ex-juiz nas redes, combinada de críticas a Bolsonaro por tentar enfraquecê-lo.
Pessoas próximas de Moro dizem que ele tem consciência de
que Bolsonaro seguirá no processo gradual de queimá-lo e tentará conter sua
popularidade por ver no ministro uma potencial ameaça para seu projeto de se
reeleger presidente em 2022.
Por outro lado, continuam esses aliados do ministro, Moro
avalia que sua popularidade independe de vínculo com o governo e que, em alguns
casos, ele pode até se beneficiar se for alvo de ataques.
A força do ex-juiz junto à opinião pública se refletiu na
formação de uma bancada informal de congressistas que hoje consideram a pauta
tocada por Moro prioritária.
Esse grupo também reagiu à tentativa de desidratação.
"Acho que o Ministério da Justiça está funcionando. O
ministro Moro adquiriu muita experiência sobre segurança pública neste ano e
conheceu de perto a situação. O Brasil hoje exige uma situação mais enxuta na
Esplanada", afirmou o deputado João Campos (Republicanos-GO).
"Falo muito com os líderes do Congresso. Eles não têm
preocupação nenhuma com a reeleição do Bolsonaro. Mas têm verdadeira paúra da
possibilidade de o ministro Moro ser candidato. Eles consideram ele
imbatível", disse o deputado Capitão Augusto (PL-SP), um dos principais
aliados de Moro no Congresso.
A fritura fez Moro dizer a aliados que deixaria o governo
caso o Ministério de Segurança Pública fosse recriado.
O passo atrás dado pelo presidente mostra, na avaliação de
pessoas próximas ao ex-juiz, que ele está em uma posição confortável: a de quem
pode calcular o melhor momento político para eventualmente deixar o governo.
Moro resistiu bem à operação para tentar enfraquecê-lo.
A reação das redes sociais e conversas com os principais
aliados levaram Bolsonaro a recuar publicamente.
Ao desembarcar em Déli, na Índia, na sexta-feira (24), ele
foi enfático ao descartar, por ora, a possibilidade de desidratar o auxiliar
mais popular.
O episódio mais recente da animosidade entre presidente e
ministro teve como principal pivô o desempenho de Moro no Roda Viva.
Bolsonaro se mostrou irritado com a participação do
ministro, avaliada por ele como a de alguém que tem pretensões políticas para
além da função que ocupa.
Incomodou ainda o presidente a forma como Moro respondeu a
críticas feitas ao governo, pois esperava uma defesa mais contundente.
Apesar de manter a agenda pública e não se dobrar à vontade
presidencial, Moro não deverá polemizar com Bolsonaro. Ele seguirá fazendo um
discurso de combate à corrupção e de exaltação dos feitos à frente da Justiça.
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