O dia 10 de janeiro com certeza ficará na história do futebol paraense. Foi neste domingo nublado e em clima de pandemia que o Remo viveu um dos dias mais especiais dos seus 105 anos de história. E quis o destino que fosse perante um Mangueirão vazio que o Leão garantisse o acesso à série B do Campeonato Brasileiro de 2021, algo que não acontecia há quase 14 anos (a última vez foi em 2007). A forma como foi não poderia ser mais especial: vencendo e complicando seu arquirrival Paysandu, que agora precisa de uma combinação de resultados na próxima rodada para também subir de divisão.
Contrastando com o ambiente fantasmagórico do Mangueirão e seus entornos, os bares e lojas de conveniência certamente também viveram um dia histórico. O torcedor precisou se virar para ver o clássico de número 749 e com isso lotou o que estivesse aberto pela cidade. Para os acostumados a ver os clássicos no estádio, o jeito foi acompanhar a partida em um ambiente que, pelo menos, fizesse lembrar a alegria do Mangueirão. Se o torcedor não pode ir ao Mangueirão, que o Mangueirão fosse até ele. E foi o que aconteceu. Os bandeirões tremulando, os cantos sendo entoados a todo vapor, a cerveja e o churrasco no ponto. Tudo isso afagou o torcedor que não pôde ir ao estádio. Protocolo de segurança contra covid-19 não estava nos planos dos adeptos, principalmente dos torcedores azulinos, que esticaram a noite um pouco mais.
Dentro de campo o jogo pegou fogo desde o apito inicial até o final. As equipes entraram em campo mostrando nervosismo. A partida parecia um jogo de xadrez. Um erro poderia ser o suficiente para estragar toda uma temporada e ainda entregar o acesso ao rival. Os jogadores estavam com medo de errar. Os times tocavam a bola rápido e sem arriscar muito até o meio do primeiro tempo. Os torcedores não descolavam os olhos da tela da televisão. Era o ReXPa do século de verdade, aquele que valia simplesmente a subida para a tão sonhada série B do Campeonato Brasileiro. A tensão estava em cada passe, cada jogada.
O Remo conseguiu ser mais contundente no jogo e conseguiu oferecer mais perigo aos zagueiros do Paysandu. Foi em uma jogada de bola parada que saiu o primeiro e único gol da partida. O goleiro Paulo Ricardo rebotou para frente uma cobrança de falta. O rebote fez o tempo parar para os torcedores. Remistas e bicolores, juntos e misturados pelos estabelecimentos da cidade, ficaram com o coração na mão nos milésimos de segundo que o lance durou. Enquanto a bola vagava sozinha pela área bicolor, o poder da mente dos torcedores azulinos falou mais alto. Salatiel se adiantou aos zagueiros e não perdoou. Foi o gol da vitória. O nome do atacante nordestino, contratado no final de 2020, entra para a história dos clássicos. Ele fez o gol que era aguardado pelos torcedores há 13 anos.
No final do jogo e com a vitória do Ypiranga sobre o Londrina (resultado que levava o Remo antecipadamente para a segunda divisão), os gritos que estavam reprimidos na garganta há anos saíram. Durante este período o calvário azulino foi grande. Os anos de série D e série C ficam para trás. As lágrimas vão descendo dos rostos de alguns remistas mais emocionados. Não estar na arquibancada doeu, mas o time treinado por Paulo Bonamigo honrou a todos, como se todos estivessem ali, nas arquibancadas onde a torcida azulina sempre fica. A noite é de festa para estes torcedores. Seja nos bares da periferia ou em avenidas das Doca, todos comemoraram esse dia, estranho, mas histórico. A próxima série B do Campeonato Brasileiro terá pelo menos um clube paraense, e este clube é o Remo.
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