Principal auxiliar de Tite na seleção brasileira, Cleber
Xavier, 55, é escalado pelo técnico para estar em todas as entrevistas
coletivas. Ouvir e responder perguntas de jornalistas têm incomodado o número
2, que vê grande parte da imprensa como rasa, pobre e que busca polêmica.
"[O comportamento] Ou é raso, ou é agressivo ou é
irônico. Ou é programa de palhaçada", afirma à reportagem.
Invariavelmente, ele e Tite são questionados sobre Neymar,
ex-capitão da seleção brasileira. A dupla nega que o atacante tenha
privilégios.
"Não importa onde o Neymar vai jogar, o que ele faz
fora de campo e o problema de indisciplina que ele teve no clube dele. Não
precisamos responder 30 vezes que o Neymar é um dos melhores do mundo",
diz.
Na seleção, Cleber é quase uma exceção quando o assunto é
política. Quem convive com ele sabe de sua posição contrária ao presidente Jair
Bolsonaro (PSL), que foi recebido com festa pela maioria dos atletas campeões
da Copa América e posou para foto com eles.
Tite e o auxiliar não aparecem na imagem. "Nem percebi
que eu não estava na foto", afirmou. "Quem convida ele [Bolsonaro]
para entrar lá é a direção da CBF".
Pergunta - Parte da sua rotina é acompanhar o Tite na
entrevista coletiva. Você gosta?
Cleber Xavier - É natural para mim, parece que estou
conversando. É um pedido do Tite. Ele gosta de valorizar o grupo, é uma coisa
dele, a gente acha legal. O que a gente não gosta é aquela coisa do
enfrentamento, da pergunta agressiva. A gente é treinador, a gente gosta de
falar de tática, de técnica. Sobre o jogo.
Mas que tipo de pergunta incomoda?
CX - Não é a pergunta, é a forma. A polêmica pela polêmica.
A gente trata pouco do jogo. Tem surgido uma nova geração, com mais
profundidade. Mas em grande pedaço, a imprensa é agressiva. Não se fala de
ideias. Ou é raso, ou é agressivo ou é irônico.
Fica a impressão de que você assume nas perguntas difíceis.
Isso é combinado?
CX - É a forma de ser. Eu gosto de falar, gosto de colocar
as coisas desse jeito. Quando vêm as perguntas, eu gosto de responder.
As perguntas sobre Neymar te incomodam?
CX - É um tipo de situação. 'Neymar vai pra cá, vai pra lá'.
A gente não sabe para onde ele vai. A gente não quer interferir, com Neymar ou
outro jogador, para aconselhar onde ele deve ir. Quando ele chegar [na
seleção], a gente vai conversar sobre o jogo, que posição vai atuar, que função
vai fazer, a condição que ele vai se apresentar. 'Ah, mas ele não jogou'. Se a
gente convocou, nós temos certeza que podemos colocar ele em campo.
Mas o comportamento do Neymar está aprovado?
CX - Faz três anos que a gente está na seleção e nunca teve
nenhum tipo de problema com ele.
Que time hoje você para para ver e observa alguma inovação?
CX - Não tem inovação, o que existe é conceito. Times que
jogam propondo um jogo agressivamente no campo do adversário, como o Fluminense
[agora treinado por Oswaldo de Oliveira] do Fernando Diniz, o Santos do (Jorge)
Sampaoli, o Manchester City do (Pep) Guardiola, o Bragantino. Falei times de vários
lugares. Há times que jogam futebol mais reativo, mais atrás. Eu prefiro o
equilíbrio. Prefiro o jeito que a gente joga.
Mas isso não quer dizer que isso é bom e outro é ruim. Entra
naquela coisa, 'ah, o Guardiola é o melhor do mundo, antes era o Mourinho'.
Não. Tem vários bons. Por que ele tem que ser o melhor do mundo? No Brasil é o
Sampaoli, é o Carille, o Odair, tem vários. E de repente um melhor vira o pior.
As análises são rasas.
Os jogadores tiraram foto com o presidente Jair Bolsonaro
após a vitória na Copa América. Você e o Tite não apareceram. Foi pensado?
CX - Eu nem percebi que eu não estava na foto. Meu foco era
ganhar a Copa América. Eu fiz minha foto e saí. Mas quem fez o convite foi a
diretoria da CBF.
Existia a possibilidade de Bolsonaro ir no vestiário.
Incomodaria?
CX - O pai do Neymar foi no vestiário, convidado pelo Edu
[Gaspar], e a gente concordou, porque o filho estava com problema, e virou
polêmica.
Se o presidente da CBF convida uma autoridade, é direito
dele. O pai do Neymar foi lá e aí falam: 'mas se todos os pais quisessem
entrar?'. Nessa situação, todos seriam convidados. Como funcionário, não posso
me manifestar e causar problema, dizer 'esse é o meu presidente e esse não é'.
Eu faço o meu trabalho.
Mas se eu gosto ou se não gosto, é outra coisa.
Mas você não se sente livre para falar sobre isso?
CX - Eu falo disso para a minha roda de amigos, de família.
É uma questão de não se expor para não virar uma polêmica.
Sobre o pai do Neymar, teve a situação da família dele ter
ficado no hotel na Copa, diferentemente do restante. Falei agora da questão do
pai do Neymar porque eu vi ele lá [no vestiário]. Na Copa, eu não vi, não sei
se alguém convidou. Não teve um momento que nos atrapalhasse. Essa polêmica, eu
não vi. O Tite também não viu.
Para nós, não houve essa situação. Se o cara que trabalha
comigo também não viu, eu acredito nele.
Eles estavam no mesmo hotel que a seleção. As outras
famílias ficaram em outro.
CX - Havia uma parte [do hotel] que tinha um segurança, por onde não passava ninguém. Se o pai do Neymar estava hospedado, eu não sei. Mas se isso atrapalhou? Não. Ele não estava no nosso campo de treino, no café da manhã, na academia, na sala de reunião. Ele não participou disso.
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