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Denise Fraga encena peça que questiona os valores humanos quando há dinheiro em jogo

Com uma voz calma, sorriso solto e dona de uma simpatia que encanta quem está por perto, a atriz Denise Fraga, que estará em cartaz em Belém de hoje a domingo, com o espetáculo “A Visita da Velha Senhora”, no Teatro do Sesi, recebeu a equipe do Caderno Vo

Com uma voz calma, sorriso solto e dona de uma simpatia que encanta quem está por perto, a atriz Denise Fraga, que estará em cartaz em Belém de hoje a domingo, com o espetáculo “A Visita da Velha Senhora”, no Teatro do Sesi, recebeu a equipe do Caderno Você para um bate-papo sobre a apresentação, a vontade de se apresentar aqui e seus novos trabalhos.

Com texto do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), a peça expõe a fragilidade de nossos valores morais e de nossa noção de justiça quando a palavra é dinheiro. “Eu queria muito fazer essa peça, que sempre será atual. Esse dilema de até onde a gente vai com o dinheiro é o dilema da humanidade”, contou.

Em cena, Denise faz a bilionária Claire Zahanassian, que faz uma proposta indecente aos moradores de Güllen: ela doará um bilhão para a cidade, que está arruinada, se alguém matar Alfred Krank, homem por quem ela foi apaixonada e que a abandonou grávida na juventude.

O texto é de 1955, mas a atriz conta que parece que o espetáculo foi encomendado agora, de tão atual que é, e acredita que a peça abre um leque de possibilidades para a reflexão a respeito de duas questões: sobre omissão e justiça.

“A peça foi ficando com uma atualidade assustadora até, só que é uma comédia. Esse autor é genial e conseguiu escrever uma questão muito profunda fazendo as pessoas se divertirem. Eu me identifico muito com isso”, disse.

Das peças que já montou - “Alma Boa de Setsuan”, “Galileu”, “Chorinho”, “Sem Pensar”, a atriz diz que essa nova montagem é muito certeira. “É uma deliciosa facada... (gargalhou), porque ao mesmo tempo em que as pessoas se divertem muito, a história funciona quase como uma fábula para fazer a gente pensar até onde a gente vai, até onde a gente se vende para poder comprar, até onde a gente justifica”, explicou.

No meio da entrevista, ela interrompe para falar da vontade de vir a Belém. “É preciso falar de uma coisa antes de tudo isso, da minha felicidade de estar aqui. Porque eu sempre quis vir para Belém. Um caminhão cruzou noite para chegar de Belo Horizonte, onde estávamos na última parada, pra cá. Não é fácil, mas eu queria muito vir pra cá. É uma terra que eu tenho uma simpatia imensa”, disse animada, citando duas pessoas da equipe que são da cidade.

Mas voltando ao assunto, como é afinal essa Claire Zahanassian? Denise explica que é uma personagem que tem muitas camadas. “Ela é terrível, horrorosa, mas tem toda uma história por trás. Ela também foi um produto do vil metal, do dinheiro, porque foi abandonada grávida por esse namorado que queria casar com a mocinha rica, filha do dono do armazém, e fingiu que o filho não era dele”, revela. Claire sai da cidade mal falada, expulsa, e volta com essa proposta indecente, que a princípio a cidade rejeita. Mas ela fala que pode esperar e se hospeda no hotel da praça da cidade. “O autor vai desfilando cenas dessa cidade que são hilárias, irônicas e que são um show de boa dramaturgia. Todo mundo que vai ver a peça fala sempre duas coisas: ‘que texto’ e ‘que autores’, porque é um elenco de 13 autores”, relata.

Plateia é incluída na encenação

A peça tem no elenco Tuca Andrade, Fábio Herford, Romis Ferreira, Eduardo Estrela, Maristela Chelala, Renato Caldas, Beto Matos, David Taiyu, Luiz Ramalho, Fernando Neves, Fábio Nassar e Rafaek Faustino, com direção de Luiz Vilaça. “Eu fico muito feliz de contar uma história que queria tanto contar, com um elenco dessa categoria, com um espetáculo dessa categoria e uma direção linda do Luiz Vilaça, que inclui a plateia como cidadãos de Güillen. Não é teatro interativo, a gente não fica pegando ninguém para levar para o palco, mas a encenação do Luiz propõe essa inclusão. Então, todo mundo se sente parte dessa cidade, o que ajuda mais a reflexão”, diz Denise Fraga. E o humor não podia faltar, claro. “Eu acho o humor uma coisa revolucionária. Você falar qualquer coisa de forma bem-humorada, você tem uma garantia de que aquilo chegou ao seu interlocutor, porque ninguém ri daquilo que não entende. O humor chama a inteligência, chama o cérebro da pessoa. Quando você fala alguma coisa com humor e você tem resposta, você está com atestado de que aquela ideia foi assimilada”.

Opção pelo teatro após 32 anos de televisão

O elenco da peça repetirá em Belém o ritual de receber o público na porta do teatro. (Foto: Divulgação)

Com 32 anos de carreira na TV, Denise fez “TV Pirata”, “Retrato Falado”, “Queridos Amigos”, “Barriga de Aluguel”, “Bambolê” e muitos outros trabalhos. Mas, por enquanto, não pensa em voltar à telinha. “Por enquanto não. Tudo o que a gente quer é um bom papel, uma boa história para contar e estar dentro de alguma coisa que você quer dizer e confie. O problema é que recebi convites quando já estava com o teatro, e a televisão hoje não comporta o ator ficar em temporada e fazendo novela. Tô fazendo a turnê e junto com dois filmes: ‘45 do Segundo Tempo’, do Luiz, o filme do Rafael Gomes, ‘Música Para Cortar os Pulsos’, que é um filme com uma galera jovem muito talentosa”, conta.

No teatro, ela conta que tem mais liberdade, além de ser um momento de reflexão coletiva. “Eu escolhi ganhar menos para fazer o teatro que eu quero fazer, mas também é uma coisa que me toca e quando eu li essa peça, falei ‘caramba, eu tenho de montar essa peça, como ela faz a gente pensar junto!’. Uma das maiores funções do teatro é dar palavras, é ritual de reflexão. Imagina duas horas todo mundo com o celular desligado, juntos ali, conectados, em presença na mesma história? Se alguém tossir, alguém escuta. Nesses dias virtuais, o teatro ficou ainda mais precioso”.

E quem for assistir ao espetáculo, já vai poder ter um contato com a atriz logo na entrada. Há 10 anos já é um ritual dela receber o público na porta do teatro e aqui não será diferente. “O elenco inteiro, estaremos lá esperando todo mundo. É uma maneira da gente grifar que o teatro é esse ritual, estamos todos presentes. O público tem uma glamourização do artista. Para mim, hoje receber o público na porta é um ritual de concentração, porque me dá uma responsabilidade muito grande olhar na cara das pessoas e falar ‘boa noite’, tocar, abraçar. Eles vieram ver a gente, caramba! Agora eu tenho que dar conta disso aí”.

Denise também acredita que tem uma responsabilidade em fazer a diferença com seu trabalho. “A gente tem que se responsabilizar pela nossa parte na história da humanidade. A gente está aqui para fazer rodar essa roda e, mais que tudo, fazer rodar bem, fazer a nossa parte. Então, eu como uma atriz, que tive uma projeção na televisão, as pessoas mais ou menos me conhecem. Eu preciso fazer alguma coisa com esse poder de comunicação.

Não é nada político não, não tenho nenhum partido político e nada. Não sou de esquerda ou de direita, sou humanista, o que eu quero de verdade é que a gente pense nessa vida maluca que a gente inventou viver e que ela pode ser diferente, pode ser melhor”, concluiu. E o balanço que faz de tantas experiências? É a felicidade, garante. “Eu fui feliz, ainda tem muita coisa pra ser feliz, mas eu já fui feliz a bessa, porque acho que tive a sorte de fazer projetos muito pessoais, que eu tinha uma voz ali. O ‘Retrato Falado’ é um deles, uma ideia do Luiz, uma ideia nossa que a gente ia atrás das histórias e corria atrás das locações. Nós fizemos muito artesanalmente, gravando em São Paulo com uma câmera por 9 anos, dentro do ‘Fantástico’, fazendo o projeto que a gente queria fazer, histórias que a gente queria contar e que a gente escolhia. Então, eu acho que tive uma trajetória, até na televisão, que é mais industrial, de felicidade”.

(Aline Rodrigues/Diário do Pará)

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