Meghan Markle, a duquesa de Sussex, 39, revelou nesta quarta
(25) em um artigo escrito por ela e publicado no jornal New York Times que
sofreu um aborto espontâneo em julho. Ela é casada desde 2018 com o príncipe
Harry, duque de Sussex.
Definindo-se como "mãe, feminista e defensora" na
assinatura do texto, Meghan conta que, em uma manhã de julho, depois de trocar
as fraldas de seu filho, Archie, 1, sentiu fortes cólicas, caiu no chão com a
criança no colo e ficou cantando uma música de ninar para tentar manter os dois
calmos.
"Eu sabia, enquanto segurava meu primeiro filho, que
estava perdendo meu segundo", escreveu.
Meghan conta que, horas depois, estava deitada em uma cama
de hospital, segurando e beijando a mão de seu marido, molhada com as lágrimas
dos dois. "Imaginava como nós dois nos recuperaríamos."
No texto, intitulado "The losses we share" (As
perdas que compartilhamos), ela diz que a perda de um filho carrega uma mágoa
quase insuportável, vivida por muitos mas falada por poucos. E que ela e o
marido descobriram que, de cada cem mulheres, de 10 a 20 terão sofrido um
aborto. "Apesar de isso ser surpreendentemente comum, a conversa continua
sendo um tabu."
Ela diz ainda que algumas pessoas compartilharam suas
histórias de forma corajosa, sabendo que, quando uma pessoa fala a verdade,
isso dá permissão para que outras façam o mesmo.
De acordo com estudos, até 20% das gestações podem evoluir
para aborto antes de 20 semanas -dessas, 80% são interrompidas até a 12ª
semana. O abortamento espontâneo geralmente envolve sentimentos de perda e
culpa e pode trazer complicações para o sistema reprodutivo se não houver
assistência médica adequada.
Segundo dados do UNA-SUS (Universidade Aberta do Sistema de
Saúde Único), os principais fatores de risco para a perda são idade (o risco de
aborto aumenta com o avanço da idade; pode chegar a 40% aos 40 anos e 80% aos
45 anos), antecedente de aborto espontâneo, tabagismo (tanto materno como
paterno), consumo de álcool e drogas, uso de anti-inflamatórios não hormonais e
pesos extremos (índice de massa corporal menor do que 18 ou maior do que 25).
ANGELINA JOLIE
A publicação do texto de Meghan no New York Times, com a
intenção de trazer luz a esse assunto, lembra a do texto também escrito em
primeira pessoa pela atriz Angelina Jolie, no mesmo jornal, em 2013. Na época,
Jolie contou que havia realizado uma dupla mastectomia preventiva por causa de
seu elevado risco de desenvolver câncer de mama.
Sua mãe havia morrido da doença aos 59 anos. "A verdade
é que porto um gene 'defeituoso', o BRCA1, e isso eleva acentuadamente meu
risco de desenvolver câncer de mama e câncer de ovário. Meus médicos estimaram
que eu tinha risco de 87% de câncer de mama e de 50% de câncer de ovário, ainda
que os riscos sejam diferentes de mulher para mulher", escreveu então.
"Em 27 de abril, concluí os três meses de procedimentos
médicos que a mastectomia requeria. Ao longo do período, pude manter o sigilo
sobre o que estava acontecendo e continuar com meu trabalho. Mas agora decidi
escrever a respeito com a esperança de que outras mulheres possam se beneficiar
de minha experiência. Câncer continua a ser uma palavra que causa medo no coração
das pessoas, produzindo um profundo senso de impotência. Mas hoje é possível
determinar por meio de um exame de sangue se você é altamente suscetível a
câncer de mama e câncer de ovário, e agir a respeito."
O artigo, de fato, fez com que as alterações e os testes
genéticos ficassem mais conhecidos no mundo todo.
Em 2016, um estudo, publicado na revista médica britânica
BMJ analisou se houve aumento no número de testes que procuram mutações nos
genes BRCA1 e BRCA2 depois de 14 de maio de 2013, dia da publicação do texto de
Jolie.
O crescimento da procura pelos testes foi de 59% nos 15 dias
posteriores. Levados em conta os meses seguintes, houve aumento de 37%.
Não houve, porém, alta no número total de retirada de mamas.
Entre as mulheres que fizeram o teste depois do anúncio de Jolie, as cirurgias
até diminuíram, o que para os autores do estudo pode significar que os exames
foram feitos por quem não se enquadrava na população de maior risco.
Os testes que procuram essas mutações são indicados para
mulheres que apresentem na família muitos casos de câncer em pessoas jovens.
A mastectomia e a retirada dos ovários não são a única solução para quem tem maior risco de desenvolver esses cânceres. Mulheres nessa situação podem optar pelo rastreamento mais frequente para o câncer de mama, intercalando a cada seis meses exames de mamografia e ressonância magnética. Também é possível optar pela quimioterapia preventiva.
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