Bruno Fagundes, 31, não para quieto. O ator, que pode ser
visto na série "3%" (Netflix) e no canal de humor que lançou no
YouTube, prepara uma peça para 2021 (sobre a qual ainda não revela detalhes) e
nem esperou a pandemia passar para acrescentar um filme no currículo. Ele
gravou recentemente o longa "Moscow", no qual interpreta o assassino
de aluguel Wally, que sofre de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo).
As gravações tiveram de ser adaptadas para a ocasião, mas
nem por isso foram menos intensas. "Já era um filme de baixo orçamento,
mas a pandemia fez tudo diminuir, o elenco, as locações", explicou.
"O isolamento foi rigorosíssimo. Foi uma experiência nova, que adicionou
mais um desafio ao filme."
Na trama, Wally é parceiro de Val, personagem de Thaila
Ayala, 34. "Eu só vi a Thaila e todos os meus colegas de cena na hora que
gritaram 'ação'. Tivemos que criar uma intimidade imediata porque a gente não
se encontrou durante a criação dos personagens", contou. "Nessa hora
a gente tem que apostar na fé cênica e na criatividade, mas foi uma confirmação
de como ser ator é um trabalho mágico e bem maluco."
Outra faceta de Bruno é a que pode ser vista na primeira
temporada de "Amigo É Bom, Mas Dura Muito", uma websérie de humor que
ele criou ao lado do amigo e também ator Felipe Hintze, 27. Os dois se
conheceram quando fizeram a peça "O Senhor das Moscas" (2017-2018) e
nunca mais se desgrudaram.
"É meu mais novo amigo de infância", brinca Bruno.
"As pessoas acham que a gente se conhece desde que eu nasci porque a nossa
conexão foi muito grande. Tudo começou porque a gente postava muito stories
[ferramenta do Instagram] e os nossos seguidores começaram a pedir mais. Aí eu
pensei: 'Vamos capitalizar essa amizade' (risos)."
Nos vídeos, os dois aparecem em esquetes semibiográficos, em
que mostram um pouco do dia a dia, mas com pitadas de humor ácido. "A
gente tem a liberdade de falar a besteira que quiser, tudo vem da nossa
cabeça", explica. "Tem uma metalinguagem, já que a gente fala o tempo
todo sobre a própria ferramenta, mas também mostramos muito do trabalho de
ator. E é bacana poder mostrar esse outro lado, porque nem todo mundo sabe que
eu tenho tempo de comédia."
Ele diz que a dupla já tinha uma segunda temporada
planejada, mas que estão adaptando o material para as condições atuais.
"Estamos pensando em como fazer para não perder a identidade, mas à
distância", contou.
Por outro lado, Bruno se despediu de vez de outro personagem
que o tornou conhecido até fora do Brasil, o André de "3%". Ele se
disse agradecido pelo protagonismo que o papel ganhou na última temporada da
série da Netflix.
"Foi totalmente inesperado", garantiu. "Eu
entrei na segunda temporada e tive seis cenas. Era um personagem importante
porque mexia muito na trama, mas era um volume muito menor."
Ele disse que sugeriu alguns caminhos que André poderia
tomar para os criadores da série. E foi plenamente atendido. "Me senti
muito ouvido como criador", elogiou. "Foi um voto de confiança e, ao
mesmo tempo, um presente poder construir um personagem tão complexo. Eu
agradeço aos roteiristas diariamente, eles até me acham muito meloso
(risos)."
Sobre o desfecho da trama, ele diz que descobriu na sala de
leitura, junto com os demais atores da série. "A gente não
acreditava", revelou. Ele diz também que a cena em que esfaqueia a própria
irmã, Michele (Bianca Comparato), foi uma das mais difíceis que já gravou na
vida.
"Fizemos toda a sequência toda em uma diária",
revelou. "Foram 12 horas e eu tinha que estar à flor da pele o tempo todo.
E ainda tinha muitas preocupações técnicas, como o sangue."
Ele analisa que não poderia ter outra forma melhor de
encerrar esse ciclo. "É perfeito dentro da lógica do André, ele é tão cego
na forma autoritária de ver o mundo, que a única coisa que resta para ele é
matar a irmã, pra ele é um ato de amor", explicou. "É uma visão
completamente torta, mas muito complexa em termos de personagem."
Apesar de animado com a repercussão, inclusive internacional
("recebo mensagens da Turquia, da França e da Coreia me agradecendo pela
construção do personagem"), ele diz que ainda não tem novos projetos com a
Netflix. "Acho que a gente está vivendo um ano atípico, com certeza não
está em força total", lamenta. "É uma pena porque o mercado poderia
estar muito aquecido."
Após ter feito uma única novela, "Meu Pedacinho de
Chão" (2014), ele também diz que não entende muito bem por que nunca mais
foi chamado pela Globo. "Eu não sei porque só fiz uma novela",
afirmou. "Nunca fechei portas com a Globo, mas me parece que não fui muito
bem aproveitado."
"Não vejo isso com rancor", garante. "Se eu
tivesse emendando uma novela na outra, não conseguiria ter feito a série da
Netflix. Mas estou muito aberto, sim, a fazer novas novelas, é uma oportunidade
incrível de ampliar sua forma de trabalhar."
Filho de um dos maiores galãs da televisão brasileira,
Antônio Fagundes, ele diz que espera trilhar o próprio caminho. "Nunca
usei a carta Antônio Fagundes para nada", afirmou. "Isso foi um pouco
embutido através das pessoas, que olhavam para mim com olhos redutivos. Me
machucava um pouco, mas não a ponto de me paralisar. Eu consegui ressignificar
dentro de mim. Sempre usei como força motriz."
Ele agradece, no entanto, que as escolhas artísticas do pai
tenham levado a uma imagem mais realista do galã de telenovelas. "Ele
corroborou com a figura do galã humanizado, graças a trabalhos como o dele e
dessa geração anterior à minha é possível ver outros tipos nas telas",
avaliou.
Mesmo em papéis que poderiam ter uma pegada mais bruta, como
o próprio André ou o Zorro que ele interpretou nos palcos, Bruno diz tentar
emprestar um pouco da própria doçura. "Eu não tenho interesse em fazer uma
representação tóxica da masculinidade", explicou. "Como artista e
como homem, faço questão de não reforçar a prisão desse estereótipo do macho
alfa que coça o saco. Essa é a minha contribuição."
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar