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ARTE

Cultura, cenas e costumes de Belém viram inspiração para marcas criativas locais

Artistas criam suas marcas para exaltar cultura local.

Imagem ilustrativa da notícia Cultura, cenas e costumes de Belém viram inspiração para marcas criativas locais camera Camisaria da Caboquisse, Olha Mana! e Boto Psicodélico | Divulgação

Foi em uma brincadeira, trabalhando em uma agência de publicidade, que Andrey Rodrigues notou. “Belém é engraçada. Se tu estás vindo do Combu, parece Manhattan. Tem aquela baía, aqueles prédios e comecei a fazer várias associações e brincadeiras de coisas que parecem com Nova York, tipo a Presidente Vargas quando chove, no Natal, e tu estás passando de táxi”. Os editores de arte da agência embarcaram, fazendo os desenhos que casavam com tais ideias, e que logo Andrey percebeu que poderiam estampar camisas.

Assim surgiu a Caboquisse (@caboquisse), marca que tem dado certo assim pelos últimos onze anos. “O próprio nome tem disso, o pessoal perguntava ‘vais colocar esse nome?’. E eu pensava ‘por que caboquisse tem que ser algo pejorativo?’. Se a gente for ver, o que foi a arte pop, com Elton John, Michael Jackson, como seria se não tivesse toda essa pavulagem de enfeitar pavão, de querer se destacar? E por que o nosso, a gente deprecia?”, questiona Andrey.

Com suas camisetas, em que Mestre Laurentino se torna o “Senhor dos Anéis” e o filme “Kill Bill”, sobre uma mulher que mata para punir inimigos do passado, bem pode ser traduzido por Leona Vingativa, ele mostra que em seus 405 anos de pavulagem e caboquisse, Belém criou ícones, imagens, histórias e personagens que são muito próprios dela e não deixam a desejar em nada quando comparados ao que vem de fora, com o que é pop. Para ele, é uma questão de resgatar o que faz parte da memória coletiva de quem nasceu em Belém.

Na camisaria da Caboquisse, desde o nome até os personagens que estampam as peças vêm da memória afetiva sobre a cidade, mesclada a muitas referências pop.
📷 Na camisaria da Caboquisse, desde o nome até os personagens que estampam as peças vêm da memória afetiva sobre a cidade, mesclada a muitas referências pop. |Divulgação
Cultura, cenas e costumes de Belém viram inspiração para marcas criativas locais
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“A ideia vem, às vezes, como um insight, quase ‘um santo baixando’. Um dia eu estava na agência e ia sair a segunda temporada de ‘Stranger Things’ [série da Netflix]. Os colegas falaram: ‘olha, saiu o cartaz!’. Eram os quatro meninos na bicicleta, em uma estrada. Quando eu vi, virei pro Kassio [Galdino, colega de trabalho na época] e falei ‘põe o pórtico de Mosqueiro nessa estrada’. E ele falou: ‘Égua, pior!’. Quando eu vi, ele tinha largado o serviço de lado e estava recortando o pórtico (risos). Ficou perfeito! Eu, pessoalmente, fico muito feliz que as pessoas estão valorizando coisas que são daqui”, diz ele.

E realmente parecem estar, com o número crescente de pessoas que usam cada vez mais os elementos que lembram a cidade e a sua cultura como uma referência. Mesmo postos em diferentes técnicas, causam igual sensação de reconhecimento, de uma “memória coletiva”, como pôs Andrey. Outros dois exemplos bem claros disso são das artesãs Marta Cardoso, criadora da marca Olha Mana! (@olhamana), e Larissa Souza, criadora da Boto Psicodélico (@botopsicodélico), ambas com lojas virtuais.

Mundos feitos de papel

De início, Marta Cardoso já tinha uma identificação com sua matéria-prima para as peças da Olha Mana!, o papel. “É um material tão cotidiano, que você acaba não valorizando”, diz. O que pode servir de metáfora para a sua escolha seguinte, que foi inspirar-se nas fachadas dos casarões antigos de Belém, no patrimônio histórico da cidade. “Achei algo democrático porque atinge muita gente: quem gosta de fotografia, de arquitetura, quem mora em uma rua de casarões, quem já morou. A ideia nunca foi criar suvenir para turistas; é lidar com as emoções”, afirma.

A arte em papel da Olha Mana!, criada por Marta Cardoso, surgiu da pesquisa dos casarões antigos da cidade e foi absorvendo outros “patrimônios” afetivos.
📷 A arte em papel da Olha Mana!, criada por Marta Cardoso, surgiu da pesquisa dos casarões antigos da cidade e foi absorvendo outros “patrimônios” afetivos. |Divulgação

Ela busca agora outros formatos e temas, ainda tendo essas relações como referência, começando a trabalhar pequenas cenas do cotidiano. “Um soldadinho é o maior sucesso de rede social que eu tive. Não sei que botão eu apertei no coração das pessoas, não imaginei que meu sentimento de saudade de ver um soldadinho ia gerar o mesmo nelas”, diz a artista, ao citar o minúsculo objeto de papel que fez imitando o inseto comum em Belém. “Minha mentalidade é que tudo que está na cidade é um patrimônio. Quando você tira um casarão, você está tirando muito das pessoas, quando tira uma árvore, está tirando o som da cigarra, um soldadinho…”.

MEMÓRIAS BORDADAS

Mesmo com aspectos que estejam na imaginação, mais do que fisicamente na cidade, Belém tem muito a oferecer como inspiração. Nas linhas do bordado da Boto Psicodélico, Larissa Souza traz traços antropológicos e da cultura popular lado a lado com o que há de místico em uma cidade que cresceu na fronteira com a floresta. Uma Dona Onete é tão evocativa, quando se pensa na cidade de Belém, quanto uma Matinta Perêra jamais vista, ou uma Mulher do Táxi, que virou lenda e - dizem - algumas testemunhas oculares.

Nos bordados do Boto Psicodélico, Larissa Souza une pesquisa antropológica à arte com o registro de lendas e outras cenas paraenses
📷 Nos bordados do Boto Psicodélico, Larissa Souza une pesquisa antropológica à arte com o registro de lendas e outras cenas paraenses |Divulgação
Boto Psicodélico
📷 Boto Psicodélico |

“Eu fui para o mestrado em antropologia e não consegui me manter por causa de dinheiro. Uma amiga comentou que estava em alta peça em bordado. Aprendi a fazer os bordados com aulas on-line, no YouTube, e pensei que seria interessante começar falando do que aprendi na antropologia. Por isso as primeiras peças foram com as nossas lendas, desenhos da Matinta. Pegava referência teórica daquele período acadêmico e fazia a descrição, o que a gente sabia por trás daquela história”, conta.

Durante esse processo, ela percebeu a força que tinha o bordado para compartilhar esses temas tão próprios do lugar onde nasceu. “Comecei em 2019 e já me rendeu bons frutos, as pessoas também começaram a mandar mensagens contando histórias de outros cantos do estado, de um avô que foi levado pela sereia, de artefatos que tinham no quintal e não sabiam”, diz ela com bom-humor e já trabalhando em um novo projeto.

Ela iniciou esta semana uma pesquisa de fotos antigas de monumentos históricos de Belém para fazer novos bordados. “É a minha próxima temática e, através do bordado, quero contar um pouco das histórias desses lugares. Às vezes, a gente acha que conhece o monumento porque sempre esteve lá, mas não sabe realmente a sua história”, diz ela. “Comecei a fazer por uma questão econômica, porque estava desempregada, uni o útil ao agradável. Percebi que não era uma peça para decorar apenas, mas com uma história por trás, um significado especial pra gente que mora aqui”, diz ela.

CONHEÇA

- Caboquisse

Onde encontrar: Instagram (@caboquisse) e Espaço Vem (Tv. Capitão Pedro Albuquerque, 300, Cidade Velha), de terça a sexta, das 10h às 18h, e sábado, das 10h às 15h.

- Olha Mana

Onde encontrar: Instagram (@olhamana) e Espaço Beirando a Moda (Avenida Magalhães Barata, 62, Vila Container), de terça a sábado, das 16h às 21h.

- Boto Psicodélico

Onde encontrar: Instagram (@botopsicodelico)

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