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NAS ÁGUAS DA MEMÓRIA

Gláfira lança clipe de 'Travessia do Marajó' que integra novo trabalho solo 

O vento forte do norte sopra e aponta o timão do barco rumo às encantarias caboclas. Gláfira faz da ancestralidade o seu guia nessa viagem mística à sua terra natal em “Travessia do Marajó”, clipe lançado nesta segunda-feira nas redes sociais.A faixa abre

Imagem ilustrativa da notícia Gláfira lança clipe de 'Travessia do Marajó' que integra novo trabalho solo  camera Gláfira buscou os ritmos e histórias de sua infância em Soure para compor “Travessia do Marajó” | GQ Studio/Divulgação

O vento forte do norte sopra e aponta o timão do barco rumo às encantarias caboclas. Gláfira faz da ancestralidade o seu guia nessa viagem mística à sua terra natal em “Travessia do Marajó”, clipe lançado nesta segunda-feira nas redes sociais.

A faixa abre “Mar de Odoyá”, o mais recente disco solo da artista. Na composição autoral, a artista paraense volta à infância em Soure, cidade onde nasceu, cria de uma família ribeirinha. Seu avô contava do medo que sentia ao atravessar para o Marajó, sobretudo em setembro, quando as águas ficam muito agitadas e viram os barcos. A escolha da toada acompanha o ritmo do balanço da maré. “Fiz a letra pautada na vivência, na minha raiz. Sou de uma família de pescadores. Então a conversa sobre a travessia era muito comum. Minha avó ficava na esquina de casa olhando pro céu, depois ela entrava, sisuda, e dizia: já tem dois dias que relampeia lá pras bandas do Marajó”, lembra.

O vídeo, gravado na praia do Pesqueiro e na comunidade Do Céu, é assinado pelos diretores Léo Platô e Tale Campos. As imagens revelam as belezas da areia branca das praias marajoaras, seus mangues e águas esverdeadas, que contrastam com o vestido azul profundo usado pela artista, uma criação da figurinista Rosângela Leite que remete a uma borboleta citada por indígenas como guardiã da natureza.

A travessia espiritual ao Marajó faz referência a entidades da região e mostra o mundo místico dos Caruanas. “A proposta foi do Tale. Eu comentava com ele que quando o mundo foi feito, o mundo espiritual se desenvolveu em sete mundos que ficam em cima da crosta terrestre. É o mundo dos Caruanas, que fica localizado no Marajó, o que faz com que a região tenha muita encantaria e misticismo”, conta.

O clipe destaca três encantados, que foram escolhidos por serem lendas características da região: o Pretinho da Bacabeira, a Mulher Cheirosa e o Vaqueiro Boaventura. Gláfira garante que histórias reais estão por trás de cada uma dessas lendas. “O Pretinho perdeu a mãe durante o parto e foi criado pela vizinha, chamada Iara, a Mãe D’Água. Ele foi encantado e passou a morar no reino das águas mais profundas do rio Paracauari. A criança era vista com a chegada da maré alta e sumia com a vazante. Ele era muito traquina e adorava pregar peças nas pessoas que passavam por ali”, conta.

A Mulher Cheirosa é uma moça que encanta os homens com seu cheiro forte de jasmim. Eles ficam mundiados e são levados para o mangue, onde sofrem com febre e dor, explica Gláfira.

Potência cultural marajoara é valorizada em letras e ritmos

“Essa mulher provavelmente é uma francesa que viveu em Soure. Ela era casada com um português que a abandonou para casar com uma mucama. Depois disso, ela morreu de tristeza. Mas antes, ela disse que iria se vingar de todos os homens.. O casal existiu e se conta que ela usava o perfume para tentar reconquistar o marido”, relata.

Ijexá, quadrilha, cantiga e toada estão presentes nas faixas de “Mar de Odoyá”.
📷 Ijexá, quadrilha, cantiga e toada estão presentes nas faixas de “Mar de Odoyá”. |GQ Studio/Divulgação

A outra entidade é o Vaqueiro Boaventura. Ele foi encantado na travessia de um lago na região do Arari. Embora fosse um vaqueiro experiente, acabou sumindo durante a travessia, junto com seu cavalo. Passaram dias procurando o corpo do vaqueiro e do cavalo e nunca acharam. Até que o vaqueiro começou a ser visto, ao longe, por alguns amigos. “E sempre que desaparece um novilho, as pessoas pedem ao Vaqueiro Boavetura que, por favor, ele faça reaparecer o animal, e o novilho é encontrado. As pessoas até hoje deixam oferendas para ele para agradecer”, conta a cantora.

O trabalho é uma celebração à potência cultural marajoara. Realizado de forma independente, o clipe é resultado de uma soma de esforços. Entre os parceiros centrais, as comunidades tradicionais Do Céu e do Pesqueiro, Prefeitura de Soure, GTM Cruzeirinho, Platô Filmes , Tale Agência Multimídia, Guamundo e Reator Cultural Socioambiental.

“Como comunitários, sempre apoiamos as pessoas que são conterrâneas. E Gláfira é neta de um amigo nosso, Ninito, uma pessoa que nos ajudou muito porque ele foi um dos fundadores da comunidade quando era prefeito se Soure. É lindo ver a nossa região reconhecida. Essa é a nossa casa, nossa história, e a valorização daqui é fundamental para o turismo, uma das bases de sobrevivência das famílias tradicionais, as mais antigas daqui”, diz Teófilo Neves, vice-presidente da associação de moradores da comunidade Do Céu, que reúne 58 famílias.

MAR DE ODOYÁ

Com mais de 20 anos de carreira, desde gigues em barzinhos até se tornar front woman do Álibi de Orfeu, uma das mais importantes bandas de rock da cidade, Gláfira tem se consolidado como uma artista versátil e que vem amadurecendo sua trajetória solo. Após “Jardim das Flores” (2011), marcado pela world music e música pop, Gláfira apresenta um segundo disco totalmente autoral e voltado para a sonoridade percussiva e minimalista do cancioneiro popular.

Lançado no final de 2019, “Mar de Odoyá”, uma saudação a Iemanjá, é uma reverência a toda potência, mistério e empoderamento feminino. Neste segundo disco solo, Gláfira mergulha em sua origem marajoara e evoca os batuques da mata cabocla. Num passeio sonoro que evoca ritmos de um Brasil profundo, a cantora e compositora traz ao álbum sons como o ijexá, a quadrilha, a toada e a cantiga.

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