Reviravolta no resultado do Festival do Tapajós

O nome não poderia ser mais oportuno. “Sorte no Azar”, do compositor Joseph Pierre, é a canção vencedora do “Festival de Música do Tapajós - Femut”, mas só conquistou a tão desejada premiação após uma reviravolta inesperada no concurso. A música “Banzeiro”, de Pedrinho Cavalléro, que chegou a ser anunciada como vitoriosa, foi desclassificada porque não atenderiaao critério de ineditismo.

O “Femut”, que este ano ocorreu de forma virtual, foi realizado no último domingo, 28, com a divulgação dos vídeos das canções nas redes sociais da produtora do evento. A iniciativa foi da cantora e compositora Maria Lidia e contou com o apoio institucional da Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Semc).

Maria Lídia diz que a confusão toda ocorreu por uma falha na interpretação do regulamento. “Infelizmente tiveram alguns acidentes de percurso, como eu os chamo, porque no regulamento simplificado constava que a música tinha que ser autoral e inédita. Não tinha exceções entre parênteses. Eu já participei de festivais e normalmente têm algumas exceções em relação ao ineditismo, por exemplo: ‘entende-se por inédita, a música que nunca foi gravada ou gravada comercialmente’, ou que ‘nunca tenha sido premiada em festivais’”, explica.

“Mas quando você coloca a palavra ‘inédita’, seguida de ponto final, significa ao pé da letra, literalmente inédita. No dia do festival, algumas denúncias com prova foram apresentadas, tanto que dois vídeos foram tirados na hora da apresentação. E depois do festival, outras denúncias chegaram. Daí, consultamos o setor jurídico e vimos que estávamos de acordo com o regulamento. Inédito significa nunca ter sido divulgado, no caso do regulamento, sem exceções. Infelizmente, as músicas das primeiras colocações foram de outros lugares, não de Santarém, e nós recebemos pressão, claro. É injusto, desleal e tivemos que desclassificar mesmo depois de ter divulgado o resultado final. Foi uma tristeza, porque são colegas da área musical, competentíssimos, maravilhosos, mas legalmente estavam furando o regulamento”, completa a organizadora.

DESABAFO

Com mais de 40 anos de carreira musical, o cantor, compositor e produtor cultural Pedrinho Cavalléro fez um desabafo no Facebook se justificando sobre a canção desclassificada. “Eu talvez tenha errado na minha interpretação sobre o critério ‘ineditismo’. Errei na semântica. Não estou reivindicando o prêmio, só quero deixar claro que não usei de má-fé ao me inscrever para o festival”, justificou o artista. “Liguei para a Maria Lídia para saber exatamente o que tinha acontecido, já que a música nunca tinha sido gravada, nem tocada nas rádios comerciais, o que na minha concepção, aí sim, teria quebra de ineditismo. Conversando com ela, concluímos que houve uma má interpretação do que era ineditismo, e no parecer da coordenação a música nunca poderia ter sido interpretada em público. No caso de ‘Banzeiro’, a música participou e foi finalista de um festival em 2014 em Ribeirão Preto (SP), sem ganhar nenhuma premiação (...) Como o regulamento foi feito de forma simplificada, deu margem pra outras interpretações do que seria ineditismo”, lamentouCavalléro na rede social.

A organizadora do Femut diz que, mesmo com o imbróglio no resultado, o festival foi positivo, no geral. “O festival foi todo bem planejado, apesar de acharem que não. A gente sempre conta com o fator imprevisibilidade, com a questão da internet, essas coisas, mas tivemos uma conexão boa. Nós, jurados, fizemos uma pontuação justa. A galera de Santarém se inscreveu e inclusive a pessoa que ganhou mais likes é de Santarém”, analisa.

PRÊMIO EXTRA

O compositor Joseph Pierre, conhecido como Jow Pierre, acabou sendo beneficiado com toda essa “confusão de semântica”. “Acho que a ficha de ter conseguido o primeiro lugar da nossa região ainda não caiu de fato. Para mim, foi muito especial esse momento, voltar a participar do festival e sair com a premiação”, conta o vencedor, que tinha participado do “Femut” em 2017, quando ficou entreas 24 melhores canções.

Ele ganhou ainda uma premiação extra, com o maior número de likes gerados após a divulgação de sua música. “A minha estratégia era correr atrás dos likes, que era uma coisa que eu poderia pedir ajuda aos fãs, para a galera que curte meu trabalho correr atrás desse resultado. Acabou que os jurados também curtiram a minha música. Eu não estava confiante, porque no meu julgamento essa não era a minha melhor composição. Essa foi a minha surpresa maior”, comemora o compositor, que conquistou460 curtidas em 24h.

A música “Sorte no Azar”, segundo o autor, conta a história de uma pessoa que não tem muita experiência no amor. “Tem uma parte em japonês que fala que ‘sou novato nessa parada’. É um cara que se apaixona e que, se for pelo amor, vale tudo. Remete também ao ditado popular sobre quem não tem sorte no jogo, tem no amor. Depois de toda essa reviravolta, acabou que o título ficou sugestivo, sorte no azar, em que tudo ao redor conspira para isso”, explica, com bom humor.

Natural de Itaituba, Jow se encantou pela música depois de ter uma experiência em 2009 em Salvador, mas somente há seis anos passou a se apresentar em público. “A composição, para mim, é uma forma de tentar fazer com que a pessoa veja o cotidiano de outra forma, até mesmo mais amorosa. É uma maneira de transformar a concepção de vida da pessoa”, acredita.

VENCEDORES

Após a mudança no resultado, a premiação ficou assim: Jow Pierre ganhou R$ 1,5 mil com o primeiro lugar para “Sorte no Azar”, que ele mesmo defendeu, e ainda levou R$ 500 com o prêmio extra pelas curtidas; em segundo lugar, também de Santarém, ficou “Cantador do Rio-Mar”, de autoria de Edmárcio Paixão e interpretação de Ivo Silva, conquistando R$ 1 mil; enquanto em terceiro, com R$ 750, ficou Adilson Alcântara, de Belém, com a música “Para Todo Sentimento”. O “Femut” concedeu ainda um prêmio simbólico “Hors Concour” de R$ 100 para “Preservação à Vida”, do compositor e intérprete JuvenalImbiriba, de Santarém.