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TRAÇO DO TEMPO

Isolamento em meio a tintas e telas tem sido muito produtivo para artistas visuais

Quarantime”, uma série de desenhos que versam ou dialogam com textos oriundos de canções e poemas, é a nova série que está sendo produzida pelo artista plástico e arquiteto Jorge Eiró, recluso em isolamento social mas com a produção a todo vapor. “A agend

Imagem ilustrativa da notícia Isolamento em meio a tintas e telas tem sido muito produtivo para artistas visuais camera Obra da série “Quarantime”, de Jorge Eiró | Reprodução

Quarantime”, uma série de desenhos que versam ou dialogam com textos oriundos de canções e poemas, é a nova série que está sendo produzida pelo artista plástico e arquiteto Jorge Eiró, recluso em isolamento social mas com a produção a todo vapor. “A agenda está intensa. Além das atividades acadêmicas, reservo meus finais de tarde e noite para desenhar, e tem sido muito prazeroso. É uma forma de arte-terapia e essa fase, que eu chamei de ‘Quarantime’, essa apropriação da quarentena, é para ver se a gente torna isso um pouco mais produtivo, positivo e generoso”, define o artista.

Vivendo neste tempo em suspensão, recluso em meio a suas produções, Eiró acaba por refletir sobre o passar dos dias. E, como em outras séries, a relação do desenho com a poesia e com a literatura está muito na essência do artista, convergindo para estabelecer essa conexão e diálogo .

“Eu iniciei essa série procurando traçar um diálogo com o tempo, tempo-rei, senhor tempo que rege as nossas vidas e, como no geral o meu trabalho está sempre muito associado à literatura, a um texto, trago fragmentos de canções ou de poemas que versam sobre essa questão do tempo, como uma forma de subescrever ou de ilustrar os desenhos. Eu parto muitas vezes de um desses fragmentos e estabeleço com o desenho esse diálogo, esse traço com o tempo”, descreve o artista.

PROJETOS

Antes da pandemia, mais precisamente no início do ano, o artista plástico estava separando material e trabalhando para fazer uma mostra em setembro, de celebração de 40 anos de carreira e 60 anos de vida. O projeto foi parcialmente interrompido.

“E aí nessa reclusão eu continuei trabalhando, desenhando, pintando, esboçando e escrevendo algumas coisas. Mas semana passada resolvi fazer uma série mais específica sobre isso quando um amigo, o artista plástico Raimundo Calandrini, me desafiou no Facebook a postar um desenho a cada dia durante quatro dias. Eu já estava com a série na cabeça e resolvi dar início à minha ‘Quarantime’ e aí, a partir dos desenhos que fiz nesse momento, tenho feito um a cada dia”, explica. “A gente vai produzindo e trocando ideia com outros artistas amigos que estão no mesmo pique, na mesma vibe, produzindo bastante e de tal maneira que tem sido muito salutar”, pontua.

A repercussão nas redes sociais tem sido boa, alguns dos trabalhos já foram até comercializados e o público cobra do artista uma exposição dessa produção no pós-pandemia. “Algumas pessoas que estão curtindo já cobraram por isso e espero que seja o mais breve possível, mas enquanto não acontece as redes sociais de toda maneira têm funcionado bem para esse tipo de divulgação”, diz Eiró, que acha que esse ambiente virtual veio para ficar.

“Estou certo que vamos sair dessa renovados e restaurados, alguns com muita dor pelas perdas, mas daqui para frente acho que a gente vai conviver cada vez mais intensamente, divididos de uma forma híbrida entre o mundo real e o virtual. O mundo virtual tem contribuindo muito, a gente tem que aprender a explorar de forma mais intensa e procurar humanizar mais esse universo. De qualquer maneira, assim que houver a possibilidade de apresentar o trabalho ao vivo, vai ser muito prazeroso”, projeta o artista.

Momento de duras críticas

Uma das obras que Éder Oliveira vem trabalhando durante a quarentena.
📷 Uma das obras que Éder Oliveira vem trabalhando durante a quarentena. |Reprodução/Instagram

Para o artista plástico Éder Oliveira, a situação atual não é de muita inspiração, por causa da preocupação com amigos e parentes em geral por conta da pandemia, mas o momento de ficar em casa pode ser de criação e resgate de projetos.

“Isso permite não só criar muita coisa, mas também recuperar projetos que estavam parados e aproveitar esse tempo ocioso para colocar em prática telas que estavam inacabadas, enquanto faço novos projetos para a cabeça não desanimar”, diz. “Tenho coisas sendo criadas e estou repensando numa série que é de resgate de personagens históricos, mas ainda está bem embrionário”, anuncia.

Éder lamenta a falta de um maior apoio a artistas que estão prejudicados com a paralisação de toda a cadeia cultural. “Faltam incentivos. infelizmente o nosso país tem essa percepção de que cultura é gasto, e vai acabar sendo o último setor a voltar a ter incentivo. Não sou tão otimista, a ideia é continuar e torcer para que as pessoas não só voltem, mas que haja motivo de melhoras. Mas isso é uma torcida”, diz, esperançoso.

Quem também tem feito muitas críticas políticas e sociais nesses tempos de pandemia é a artista plástica e performer Lúcia Gomes, que só esse mês traduziu sua indignação em duas séries, sendo uma colaborativa e outra nada politicamente correta em tempos de isolamento social.

Um corpo estendido no chão no meio de um mercado de carne. A descrição é da performance Intitulada “‘Churrasco de Dez Mil’, ’Churrasco de Gente’ ou ainda ‘A Nefasta Tática de Hitler de Ocultar Cadáveres nos Campos de Concentração...’”. Nela a artista propõe uma reflexão sobre os casos do novo coronavírus no país e os pronunciamentos do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, sobre os números de infectados.

PRÓPRIA CARNE

A performance de Lúcia ocorreu dentro do mercado de carne no município de Quatipuru, onde ela mora. “Coloquei um vestido de festa e, ao final do expediente do mercado, chamei uma pessoa que estava lá para fazer o registro da performance e outro para que segurasse a peça de carne e ficasse de costas para não ser identificado. Em cima do meu corpo coloquei umas três folhas de taioba, que são itens de uso da minha alimentação. Foram apenas alguns minutos de performance que não puderam se estender mais por questão de saúde”, descreve.

No espaço, havia quatro ou cinco pessoas. “Na vida real, naturalmente, quando se faz algum trabalho artístico se chama a atenção das pessoas. Mas na performance fica mais forte o descaso delas, o que é muito parecido ao descaso do presidente. A provocação não é gratuita, mas a questão é propor uma reflexão, fazer pensar no que está acontecendo para que as pessoas não caiam no canto da sereia, ou ‘sereio’. E também fazer uma autocrítica sobre o que o eleitor fez com seu voto”, provoca.

Sempre com um olhar atento a tudo o que se passa no cenário político-social brasileiro e amazônico em especial, Lúcia se inspira em diversas situações reais para expressar sua crítica por meio da arte. “O artista é como uma pessoa comum que observa as coisas que acontecem no mundo e, a partir disso, transforma em arte. Eu leio as notícias pela internet como qualquer cidadão e fico horrorizada. Me sinto atravessada por essa gama de sentimentos que qualquer cidadão com senso crítico tende a ter ao ver tudo o que está acontecendo”, argumenta.

Trabalhos colaborativos viram protesto virtual em isolamento

Imagens de “Caretas Contra a Pedofilia”, de Lúcia Gomes.
📷 Imagens de “Caretas Contra a Pedofilia”, de Lúcia Gomes. |Divulgação

Em “Caretas contra a Pedofilia-2014”, obra colaborativa assinada por Lúcia Gomes e produzida neste mês, para marcar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, no último dia 18, a artista busca contribuir para o direito de crianças e adolescentes. “Nesse trabalho quero gritar um ‘não’ bem alto com o público contra a pedofilia. Quero refletir e rememorar a história da humanidade à luz dos direitos humanos. Contribuir para a reflexão. No artigo 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que é dever da sociedade e da família colaborar com o desenvolvimento psicossocial da criança e do adolescente”, afirma a artista, que nesta interferência virtual precisou da assessoria de uma pedagoga chamada Eliana Ecila, que a apoiou de imediato.

Lúcia atuou durante anos como educadora social de rua no projeto República de Emaús, na década de 1990. Lá, ela ministrava oficina de desenho, arte e colagem, assim que ingressou na universidade como estudante de Artes. Depois disso, se candidatou para trabalhar de forma voluntária no Lar de Maria. Até que passou em concurso público para o Emaús e lá seguiu carreira por um tempo como educadora, até se afastar por motivo de saúde.

Lúcia conta que naquela época alguns casos de grande repercussão no Pará lhe provocaram uma inquietação para pensar em sua expressão artística. “Na década de 1990 morei na Suíça, onde fiquei por mais setes anos, e vi reportages sobre o Pará que ganharam repercussão internacional. Isso me chocou. A gente tem de abrir bastante os olhos para o fato de que a pedofilia não é uma questão de terceiro mundo, mas é um crime hediondo que acontece em tudo quanto é lugar do mundo. E eu me manifesto assim, criando arte”, ressalta.

A obra ainda está em aberto e convida as pessoas a contribuírem com sua interferência virtual. “Eu faço um textinho e envio para as pessoas, pedindo voluntários para fazerem fotos com caretas contra a pedofilia. Essa é uma forma de dizer ‘não’”, convida.

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