plus
plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Edição do Dia
Previsão do Tempo 29°
cotação atual R$


home
CULTURA ESTÁ DE LUTO

Conheça a história da dramaturga paraense Maria Sylvia Nunes

Familiares e amigos se despediram da dramaturga paraense Maria Sylvia Nunes, que faleceu na madrugada de ontem, após uma crise metabólica, segundo informações de pessoas próximas. Maria Sylvia Nunes tinha 90 anos. Professora emérita da Universidade Federa

twitter Google News
Imagem ilustrativa da notícia Conheça a história da dramaturga paraense Maria Sylvia Nunes camera Mulher de vanguarda, Maria Sylvia Nunes faleceu ontem, aos 90 anos. | Elza Lima/Divulgação

Familiares e amigos se despediram da dramaturga paraense Maria Sylvia Nunes, que faleceu na madrugada de ontem, após uma crise metabólica, segundo informações de pessoas próximas. Maria Sylvia Nunes tinha 90 anos. Professora emérita da Universidade Federal do Pará (UFPA) e grande dama do teatro paraense, sendo uma das fundadoras da Escola de Teatro e Dança da UFPA, seu corpo foi velado no Museu da UFPA, que recebeu inúmeros amigos e admiradores de seu trabalho e história.

Emocionada, a sobrinha-neta Potira Nogueira conta que sua tia viveu para se doar aos outros e compartilhar conhecimento de uma forma muito generosa. “Ela se doava para as pessoas, doava o conhecimento dela com a maior naturalidade possível. Acho que no mundo em que a gente vive e que tem dado muitos passos para trás, ela foi uma mulher de vanguarda”, considera.

Potira lembra de alguns momentos marcantes de sua infância compartilhada com Maria Sylvia. “A minha infância foi muito rica por conta dessa família em que eu tive a sorte de nascer. Crescemos em volta daqueles livros, da música boa que escutávamos e também do incentivo que recebemos a vida toda para estudar. Por respirar cultura e arte, ela emanava tudo isso pra gente. É muito engraçado lembrar de que, quando iam para a casa dela, as crianças ficavam na mesa da cozinha, enquanto os adultos, os intelectuais, ficavam na sala conversando e a gente do outro lado tentava absorver um pouco de tudo”, lembra a sobrinha.

São muitas as recordações da tia, inclusive a paixão pela gastronomia. “Ela era aquela pessoa que parava com a gente, sentava e contava histórias, perguntava se a gente tinha alguma dúvida, se a gente queria saber de alguma coisa. Ela amava cozinhar também, então tínhamos essa paixão pela culinária. Ela era aquela que compartilhava as receitas, as escrevia e depois as entregava pra gente”, conta, com carinho.

Teatro

Junto com o esposo, o filósofo Benedito Nunes, Maria Sylvia fundou o Grupo Norte Teatro Escola do Pará (NTEP), que veio a originar, em 1962, o Serviço de Teatro da Universidade do Pará (STUP), atual Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA), celeiro de várias gerações de artistas e pesquisadores das artes cênicas na Amazônia. Professor da ETDUFPA, Marton Maués frisa a relação que tinha com Maria Sylvia Nunes.

“Ela era uma grande amiga minha e também foi uma grande mestra para mim. Fui aluno dela, não do curso regular da Escola, mas fiz muitos cursos com Maria Sylvia. Então, grande parte do meu aprendizado, sobretudo sobre a história do teatro, eu devo a ela, por ter me ensinando com as aulas e por ter me incentivado a pesquisar. Ela e o Benedito Nunes são de uma importância imensurável para a cultura, para o conhecimento e para a arte de um modo em geral, tanto para a cidade, para o estado, quanto para o país”, observa.

“Com mais de 50 anos, a Escola de Teatro é uma das primeiras do Brasil que forma artistas e professores de teatro, sendo referência até hoje. E mesmo depois de aposentados, tanto Benedito quanto Maria Sylvia sempre contribuíram com a escola, dando cursos, orientando professores e alunos. Para além disso tudo, é importantes destacar a dedicação que Maria Sylvia Nunes teve na arte do canto lírico, patrocinando, incentivando e dando todo o apoio de conhecimento, de acervo que ela tinha. Eles foram pessoas humanistas, uma geração que se vai e não vemos substitutos”, lamenta.

Personalidades lamentam a partida

Diversas personalidades lamentaram a morte de Maria Sylvia Nunes. O reitor da Universidade Federal do Pará, Emmanuel Tourinho, foi um deles. “A professora Maria Sylvia representou muito para a UFPA e para a cultura de todo o estado. Ela era uma pessoa que tinha um vasto conhecimento, era vocacionada também para a formação. Foi responsável pela formação de muitas gerações de acadêmicos e artistas muito talentosos. E teve uma atuação que se estendeu muito além dos muros da Universidade. Foi uma grande difusora da cultura no nosso estado, incentivadora de muitas pessoas que por lá passaram e se dedicaram”, enaltece.

Tourinho acredita que o falecimento dela representa uma enorme perda, dessas que fazem uma grande diferença. “É uma pessoa que fará muita falta para o nosso convívio, para o nosso trabalho, e que deixa como legado essa trajetória bonita que é uma inspiração para as novas gerações. Estamos todos muito tristes, mas ao mesmo tempo somos privilegiados por termos tido esse convívio e usufruído do seu talento, da sua dedicação”, diz.

Pelo Twitter, o governador do estado, Helder Barbalho, prestou homenagem à Maria Sylvia Nunes. “O Pará perde uma das grandes dramaturgas do Estado. Meus sentimentos a todos os familiares e amigos da professora Maria Sylvia Nunes. Nosso eterno agradecimento pela intensa colaboração na difusão da arte e da cultura paraense”, diz o governador. A Deputada Federal Elcione Barbalho (MDB-PA) também usou as redes sociais para prestar solidariedade à família enlutada: “Meus sentimentos aos familiares e amigos da professora de teatro Maria Sylvia Nunes. Sylvia foi muito importante na história da dramaturgia paraense. Seu legado está registrado para sempre. Que Deus conforte a todos nesse momento de grande dor”.

Assim como eles, a diretora do Museu da UFPA, Jussara Derenji, afirma que Maria Sylvia Nunes cumpriu seu papel com a arte. “A Maria Sylvia foi fundadora da Associação de Amigos do Museu da UFPA, e foi também sócia-fundadora da Associação de Amigos do Theatro da Paz, que eu fazia parte da primeira direção. A Maria Sylvia participou e fomentou a cultura desse estado em toda a sua vida. Ela foi uma das pioneiras do teatro, uma pessoa que promovia sessões de poesia, as reuniões na casa dela com grupos de pessoas ligados à cultura, seja na música, teatro ou dança, são conhecidas de todos e foram ações extremamente importantes para a manutenção de uma cultura de elite – não no sentido segregacionista, muito pelo contrário, eram ações para que todas as pessoas tivessem acesso a uma cultura de nível superior, como ópera, a grandes peças de teatro, de atores e tudo o que Maria Sylvia sempre prestigiou como a alta cultura”, descreve a professora.

Derenji destaca ainda a figura feminina de Maria Sylvia Nunes, marcada pelo pioneirismo para uma mulher dos anos de 1950. “Maria Sylvia foi pioneira nessa cultura da mulher independente, da mulher que tem as suas próprias ações, as próprias iniciativas. Era uma pessoa de grande personalidade e a par disso manteve um casamento de uma vida inteira muito bem-sucedido, muito amoroso, de companheirismo. Tanto ela quanto o Benedito Nunes sabiam viver em simplicidade, sem se expor, sem ostentação de nada do que sabiam, do que conheciam, só do que podiam compartilhar. Essa foi a grande lição dos dois e eles cumpriram muito bem”, analisa.

Cinema

O cinema é outro segmento que deve muito à trajetória de Maria Sylvia Nunes, conforme aponta o crítico Marco Antônio Moreira. “Ela participou do primeiro cineclube de Belém, chamado Espectadores, com Fernando Costa, Benedito Nunes, acho que o professor Paulo Mendes também participava. Depois, em 1962, a mesma turma criou o Centro de Estudos Cinematográficos, que inclusive voltou à ativa em 2015, quando eu pedi a bênção dela para retomar seu projeto e ela me deu permissão. O legado da professora foi fundamental para o cinema, o teatro e a dança, e também ao cinema. Então, ela estava sempre envolvida com a expressão artística”, destaca.

Também amiga de Maria Sylvia Nunes, a escritora e pesquisadora Lilia Silvestre Chaves conta que sentirá falta da forma acolhedora com que foi abraçada pela mestra. “Ela adotou a mim e a outras três amigas como irmãs. Ela era muito boa, acolhia as pessoas, sabia fazer e cultivar os amigos. Ela era alguém para quem as pessoas gostavam de abrir o coração. Ela era uma pessoa muito presente, com a casa sempre aberta. Nas sessões de música ou de filmes que ela promovia na casa dela, depois ela comemorava, porque gostava de festejar. A vida era uma alegria, ela gostava de viver. Maria Sylvia deixa muitos exemplos para a gente de como ajudar as pessoas, além de ser uma mulher de uma simplicidade e uma sofisticação ímpares”, elogia.

Nome dado ao Teatro da Estação foi uma justa homenagem

Maria Sylvia Nunes também está na origem da Escola de Teatro e Dança da UFPA
📷 Maria Sylvia Nunes também está na origem da Escola de Teatro e Dança da UFPA |Divulgação

Com uma vida dedicada às artes cênicas, Maria Sylvia emprestou seu nome ao teatro do complexo da Estação das Docas -o mais moderno da época de sua inauguração, em 2002 -, uma decisão muito justa para o escritor e poeta João de Jesus Paes Loureiro. “O maior legado que ela deixou foi seu amor ao teatro. Também foi a vivência, a consciência e um verdadeiro incentivo para que se cultivasse as artes num nível maior, sempre preocupada com a perfeição artística e que tanto as artes quanto os artistas fossem igualmente valorizados, respeitados e reconhecidos”, descreve.

O próprio Paes Loureiro teve o privilégio de ter Maria Sylvia como mestra e amiga. “Eu fui aluno do Colégio do Carmo, quando participei de um grupo de teatro criado pela Maria Sylvia e Benedito Nunes, e que já reunia um número grande de atores. Durante muitos anos, convivi com eles, na casa deles, e pude acompanhar essa dedicação e celebração do teatro que havia ao longo da vida da Maria Sylvia, que está na origem da criação da Escola de Teatro da Universidade e como toda essa vivência foi dedicada à valorização do teatro. Eu achei absolutamente justo que fosse dado o seu nome para ser perpetuado em teatro, que é a sua casa intelectual, emotiva e artística também. O teatro sempre foi para ela uma fascinação”, analisa Paes Loureiro.

Ursula Vidal, secretária de Estado de Cultura, diz que Maria Sylvia deixa uma “digital de talento, criatividade e dedicação em vários momentos importantes da história da cultura paraense”. “É um momento de entristecimento para todos nós porque, até esse final de vida, a professora Maria Sylvia Nunes estava muito ativa, muito presente, continuava recebendo homenagens pelo conjunto dessa vida tão intensa dedicada ao teatro, às artes de maneira geral. O Teatro Maria Sylvia Nunes fica nessa memória cotidiana dos paraenses como um teatro que homenageia essa grande personalidade da nossa cultura”, destaca. E conclama que a militância de Maria Sylvia permaneça como um exemplo a ser seguido.

“É um momento das pessoas se unirem e valorizarem ainda mais as nossas expressões e manifestações culturais numa resistência não só dos grupos, dos movimentos, dos artistas, dos diretores e dos produtores culturais. Que Maria Sylvia seja essa estrela que brilha nesse nosso firmamento cultural que nos inspira e nos dá coragem pra continuar lutando pelo fortalecimento da nossa cultura”, exalta a secretária de cultura.

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

tags

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

    Mais em Cultura

    Leia mais notícias de Cultura. Clique aqui!

    Últimas Notícias