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PATRIMÔNIO TOMBADO

Palacete Pinho: memória de Belém caindo aos pedaços

Uma reforma que custou R$ 3,8 milhões, foi inaugurada somente em 2011 e não foi utilizada e hoje apodrece sem uso. Um dos maiores exemplares da arquitetura residencial da Belém da Borracha é esquecida pela Prefeitura”, denuncia o pesquisador e historiador

Imagem ilustrativa da notícia Palacete Pinho: memória de Belém caindo aos pedaços camera "É revoltante saber que o dinheiro público gasto foi tratado assim, nenhum uso foi dado ao patrimônio”", Michel Pinho, historiador | Michel Pinho/Divulgação

Uma reforma que custou R$ 3,8 milhões, foi inaugurada somente em 2011 e não foi utilizada e hoje apodrece sem uso. Um dos maiores exemplares da arquitetura residencial da Belém da Borracha é esquecida pela Prefeitura”, denuncia o pesquisador e historiador Michel Pinho, em rede social, sobre a atual situação de abandono em que se encontra o Palacete Pinho, patrimônio histórico, símbolo da Belle Époque, construído em 1897.

A denúncia vem acompanhada de um vídeo e várias fotos tiradas pelo próprio historiador durante uma visita ao palacete no mês passado. Em entrevista ao DIÁRIO, ele conta que foi convidado por uma diretora de um canal de TV francês para gravar uma entrevista no local, para um documentário sobre a história de Belém, previsto para o segundo semestre de 2020, com circulação pela TV em vários países da Europa.

O local, segundo ele, foi escolhido e solicitado como locação pela própria produção do documentário à Prefeitura de Belém - a quem cabe a guarda do prédio. “Quando entrei no palacete, o que vi foi um cenário de destruição. Achei estranho porque sabia que ele tinha sido reformado. E é uma vergonha. Como mostrar na TV da Europa inteira a história de Belém e ela está completamente destruída e largada?”, indigna-se o historiador.

ABANDONO

Palacete Pinho: memória de Belém caindo aos pedaços
📷 |Michel Pinho/Divulgação
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📷 |Michel Pinho/Divulgação
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📷 |Michel Pinho/Divulgação
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📷 |Michel Pinho/Divulgação
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📷 |Michel Pinho/Divulgação
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📷 |Michel Pinho/Divulgação
Palacete Pinho: memória de Belém caindo aos pedaços
📷 |Michel Pinho/Divulgação

Ele relata que na entrada do palacete o mato toma conta de tudo. “E o mais assustador: vidro pendurado podendo cair e machucar seriamente uma pessoa. Aquele vidro está para a rua, não está para dentro, está para cair na rua!”, alerta.

Do lado de dentro, a fiação elétrica está ausente ou exposta em alguns cômodos, como também é mostrado nas fotos. E as esquadrias das portas e janelas apodrecem, com algumas delas jogadas pelo chão.

“No primeiro piso, as paredes infiltradas e a pintura já descascando; e parte do forro já desabou. É revoltante saber que o dinheiro público gasto foi tratado assim, nenhum uso foi dado ao patrimônio. Aquilo que deveria nos orgulhar, nos envergonha”, continuou ele em seu relato nas redes sociais. E que foi seguido de vários comentários de indignação por parte de outros internautas.

Foi o caso de Sandra Eliane Oliveira, que lembrou o rastro que esse descaso tem deixado pela cidade. “Professor, também acho um absurdo pela falta de zelo. Além desse (Palacete Pinho), o mesmo ocorre com o Palacete Bolonha. Eu já cheguei a conhecer no passado e hoje me corta o coração de passar e ver a chuva entrando pelas janelas e destruindo o piso, paredes e o teto que em algumas salas são feitos de gesso todo trabalhado”, escreveu.

Sem uso, histórico de degradação

CAPA

O historiador Michel Pinho conta que “havia por parte da diretora do documentário francês, um perceptível incômodo” com a situação encontrada no local. “Como falar de um período de riqueza na história de Belém em um espaço abandonado? Ela teve que afastar alguns entulhos, gravar na parte inferior, não mostrar alguns detalhes”, relata. “O meu sentimento é de profunda revolta como cidadão e historiador. Como cidadão, por contribuir com impostos. E como historiador, por ser alguém que conta a história da cidade”. Procurada pela reportagem do DIÁRIO, a Prefeitura não se pronunciou sobre a situação do prédio histórico ou quaisquer planos futuros de uso e nova reforma do local.

SEM USO

O futuro que aguardava o Palacete, no entanto, foi facilmente previsto, oito anos atrás, época da reforma, pelo professor e artista visual Ramiro Quaresma, em sua página na internet, chamada “Xumucuis”. “Quanto ao uso é imprescindível que a instituição que ocupe o prédio tenha um projeto de sustentabilidade, não se pode depender de trâmites burocráticos intermináveis para desentupir uma calha ou trocar uma telha. (...) já vimos várias ações parecidas que pela falta de manutenção e recursos, os prédios precisaram ser restaurados poucos anos depois (ou nunca)”, escreveu, em janeiro de 2011.

O Palacete Pinho pertencia à família do comendador Antônio José de Pinho até final da década de 1970, quando foi vendido. Chegou a ser comprado por uma rede de supermercados uma década depois, sob alegação de que seria transformado em fundação cultural, mas na verdade foi utilizado como depósito. Até que, em 1986, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 1992, ele foi desapropriado e passou a ser de responsabilidade da Prefeitura de Belém.

Sem iniciativas de conservação, o local foi se degradando, passou por vários saques de azulejos, balaústres e outros bens, e, inclusive, ocupado por moradores de rua. Apenas em 2003, com captação de recursos aprovada via Lei Rouanet, foi dado início a um projeto de reforma e restauro. A inauguração só ocorreu sete anos depois, no aniversário de 395 anos de Belém, quando, em entrevista coletiva, o então prefeito Duciomar Costa admitiu que ainda não sabia o que seria feito do espaço.

Entre as alternativas da época, foram apontados um centro cultural, uma escola de artes e/ou música ou ainda sede de alguma secretaria municipal. E assim como os seis anos (período da gestão Duciomar) não foram suficientes para se pensar um projeto de uso do local, os oito seguintes de Zenaldo parecem também não ter sido. A última vez que se ouviu uma proposta foi em março de 2018 - o palacete seria entregue para gerência do Consulado Português para ser transformado em “Casa de Portugal”, mas também não houve avanços.

Em entrevista ao DIÁRIO, na época da entrega do Palacete, em 2011, George Venturieri, arquiteto da Fumbel, responsável pelo projeto inicial de restauro, contou que o Palacete Pinho seria transformado em escola de música. Segundo Venturieri, existia uma sala projetada para concertos musicais, com palco e preparo acústico para esta atividade, assim como o porão também teria isolamento acústico.

O grande problema teria sido a falta de um corpo técnico para a implantação de um estabelecimento público de ensino musical. “É claro que foi preciso justificar a reforma para um uso. Mas se não tiver um corpo funcional para administrar e gerir, nada se institui. Foi o que aconteceu”, declarou Venturieri à época. A obra custou aproximadamente R$ 7,8 milhões, sendo mais de R$ 4 milhões captados com as empresas Vale e Eletrobras, via Lei Rouanet, e R$ 3,8 milhões de contrapartida da prefeitura.

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