Galera da Laje. Passageiros da Nave, Galera da Golada,
Família PAAR, Equipe Tuba Gás. Se você se liga na cena do tecnobrega e das
festas de aparelhagem você provavelmente já ouviu falar de uma dessas músicas.
O que muita gente não sabe, no entanto, é que todas elas têm algo em comum: os
fã-clubes e equipes, grupos de frequentadores de festas de aparelhagem que,
durante muito tempo, foram um dos pilares da cena musical ultra-popular de
Belém do Pará.
O auge das equipes se deu entre os anos de 2005 e 2010. Independente de qual fosse a aparelhagem, elas estavam lá, com suas camisetas padronizadas, banners e gritos de guerra. Em territórios bem definidos, cada uma delas ocupava um espaço específico nas festas.
No final da década passada, a Gang do Eletro fez uma homenagem a uma das galeras mais famosas.
LAJE, LAJE, A GALERA DA LAJE
Viviane Batidão cantou a Galera da Golada.
Confira!
MORAL COM O DJ
Quanto maior e mais participante, mais a equipe ganhava
moral com o DJ da festa. O auge era ouvir o seu nome no PA da aparelhagem na
hora dos abraços. Ou melhor ainda: ouvir o DJ tocar uma música feita em sua homenagem.
Um dos nomes mais conhecidos dessa época é DJ David Sampler. Junto com o MC Marcos Maderito ele foi responsável por uma série de músicas para os fã-clubes e as equipes da Região Metropolitana de Belém. No auge do movimento chegou a fazer uma música por dia com preços que variavam de 250 a 400 reais.
Hoje o movimento dos fã-clubes e equipes não têm a mesma
força de outrora. Um pouco distantes das aparelhagens – por conta de mudanças no
perfil musical das festas, de sucessivas crises econômicas e até da violência
urbana - eles se retraíram. O que não significa que acabaram. Um bom exemplo
disso são Os Potentes do Brega. Tendo David como uma espécie de padrinho, ele é
presença marcante em todas as festas do grupo, os Potentes não só mantém viva a
chama do tecnobrega, mas também a da cultura da dança das festas de
aparelhagem, que andava em declínio depois que outros gêneros musicais passaram
a tomar conta dos salões da periferia de Belém.
A ideia por trás dos Potentes do Brega é simples: se não há
uma festa tocando o que a gente gosta, vamos fazer a nossa própria festa. O princípio
punk do “faça você mesmo” aplicado às batidas sinuosas do tecnobrega (ou
melody, com o gênero é conhecido em uma de suas inúmeras variações). Mas não se
engane: o negócio aqui é a dança.
POR MAIS ESPAÇOS
Líder e porta-voz dos Potentes do Brega, a cuidadora Kátia
Santos, 39 anos, explica que o fã-clube surgiu com a proposta não de cultuar
uma determinada aparelhagem, artista ou banda, mas sim de criar espaços onde a
cultura da dança paraense pudesse ser estimulada e preservada.
Até porque, segundo Kátia, Os Potentes do Brega é resultado
direto de um tempo que ela ouviu muito falar, mas que não viveu em sua plenitude:
o período entre 2005 e 2010 que é considerado, por muitos, o auge da cultura
tecnobrega paraense.
“Como comecei a frequentar as festas muito tarde”, explica
ela, “não peguei esse período. Já quase não tinha mais os ensaios e nem os
fã-clubes. Tava defasado. Muito defasado. E nos poucos que tinham eu não era
bem recebida. Aí eu resolvi montar um fã-clube pra mim, já que não era aceita
em nenhum”, disse.
Foi uma ideia que Kátia levou a sério. No início era somente um grupo de três pessoas – ela, o ex-marido e uma amiga – lutando por um movimento que - naquele momento, o final da década de 2010 – estava em franco declínio. Segundo Kátia, havia uma dificuldade em convencer as pessoas a participar de algo que já estava começado a ficar, digamos assim, fora de moda.
Mas a persistência valeu a pena. Hoje Os Potentes do Brega contam com 104 membros, que participam dos dois eventos produzidos pelo fã-clube: os ensaios, que acontecem toda quinta-feira, e o aniversário do grupo, realizado uma vez por ano em novembro. O ensaio começa sempre às 20:00, termina pontualmente à uma da manhã e é divido em dois momentos distintos: as aulas de dança, que duram das 20:00 às 21:30, e o baile propriamente dito, com discotecagem de David Sampler e um DJ convidado.
Em uma casa de recepções localizada na BR-316, pude
testemunhar um dos encontros dos Potentes do Brega. De fato, a dança vem em
primeiro lugar. Movimentos rápidos, sinuosos e acrobáticos que, a uma primeira vista,
parecem impossíveis de reproduzir para quem não é do ramo.
Talvez por isso o fã-clube tenha incluído aulas de dança em
sua programação semanal. Na discotecagem de David Sampler, tudo aquilo que foi
sucesso nas aparelhagens durante a segunda metade da década de 2000. Uma
espécie de baile da saudade 2.0, no qual os hits dos anos de 1970 e 1980
parecem produtos de um passado cada vez mais remoto.
Interessante ver que músicas de 10/15 anos atrás ganharam,
agora, o status de clássicos. A trilha sonora que dá sentido aquilo que Kátia define
como uma “conexão espiritual” através da dança.
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