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PUREZA

Filme rodado no Pará é selecionado para festival do Rio

Filmado em grande parte em Marabá, no sudeste do Pará, e protagonizado pela paraense Dira Paes, o filme “Pureza” está entre os nove selecionados da categoria ficção para competir na mostra de cinema Première Brasil do Festival do Rio, com duas sessões

Imagem ilustrativa da notícia Filme rodado no Pará é selecionado para festival do Rio camera Divulgação

Filmado em grande parte em Marabá, no sudeste do Pará, e protagonizado pela paraense Dira Paes, o filme “Pureza” está entre os nove selecionados da categoria ficção para competir na mostra de cinema Première Brasil do Festival do Rio, com duas sessões de exibições, nos dias 14 e 15 de dezembro deste ano. Além de Dira, o elenco conta com outros paraenses entre os atores, como Alberto Silva Neto, e também na equipe técnica. O filme está entre as cerca de 90 produções – entre curtas e longas - selecionadas este ano para o festival.

“Desde o primeiro momento em que fui chamada para fazer a Pureza, me senti convocada, não era nem um convite, era quase uma intimação. Eu já conhecia a história dela, porque faço parte de uma organização não-governamental que privilegia o combate ao trabalho escravo. Então, ela [Pureza] era um dos ícones, uma mulher abolicionista. Isso me tocou de uma maneira tão forte que, quando eu li o roteiro, já fui vivenciando todas aquelas histórias que eu conhecia de ouvido. Então, isso me trouxe, acho, uma intimidade com a Pureza”, conta a atriz no vídeo de making of, sobre a personagem que ela interpretou no longa que dá nome ao filme.

Dirigido pelo cineasta Renato Barbieri, o filme é baseado na história real de Pureza, uma mulher simples que sai do meio da olaria de Bacabal (MA), no Nordeste brasileiro em busca do filho Abel em vários municípios paraenses. No meio de sua jornada, ela começa a descobrir a existência do trabalho escravo contemporâneo, que foi uma surpresa para ela naquele momento.

De acordo com o Ministério do Trabalho existem 300 mil pessoas trabalhando em regime análogo à escravidão no Brasil, e 40 milhões no mundo inteiro. “O trabalho escravo contemporâneo é uma das questões mais graves que existem no mundo e deve ser discutido amplamente. A Amazônia ainda é tomada por essa prática criminosa, que é uma forma engenhosa de escravidão porque as pessoas estão sempre devendo em um ciclo que a torna escrava sempre. A sociedade coloca um véu sobre isso que é cruel. Mas é uma realidade que ainda assola boa parte da Amazônia. Um filme que coloca isso em discussão e que deve ser exibido em salas de todo o país, se faz totalmente necessário”, considera o diretor.

Com uma trajetória de mais de 30 anos no teatro, o ator Alberto Silva Neto é um dos grandes nomes da produção cênica paraense. No filme, ele interpreta um aliciador de trabalhadores chamado João Leal, conhecido vulgarmente como “Gato”. Ele conta que está muito feliz com o anúncio. “Esse é um dos mais importantes festivais do país, então foi uma alegria imensa quando recebi a notícia de que tínhamos conseguido, porque quando a gente faz cinema, tem um processo de espera que é natural, que é muitas vezes longo. No meu caso, enquanto ator ligado ao teatro, é um tempo que gera uma expectativa muito grande, porque você fica interessado em ver como ficou o resultado no final da montagem do filme e quando você recebe a notícia de que ele estará disponível, a emoção toma conta da gente”, diz.

Alberto opina que houve um grande acerto por parte da produção por ter escolhido artistas locais. “Somos oito paraenses no filme, que não é uma equipe pequena. Noventa por cento do filme foi rodado no Pará e uma pequena parte numa cidade perto do Distrito Federal. Isso foi coerente da parte da produção que eles investissem também na mão-de-obra paraense, não apenas os atores e atrizes, mas também produtores de elenco, assistente de figuração, assistente na área técnica, iluminação, maquinário. Inclusive tem um artista paraense chamado Zé Luca que fez a direção de arte, que é o responsável pela construção de todos os cenários do filme, de todos os ambientes, o uso dos objetos, a visualidade do filme, tudo isso foi feito por ele”, destaca.

CINEMA NA INTENSIDADE CERTA

Filme rodado no Pará é selecionado para festival do Rio
📷 |Divulgação

Alberto conta que fez teste após receber um texto de um dos personagens, em que os atores faziam teste para a mesma cena. “Eu gravei com a ajuda da minha sobrinha por meio de um celular, foi bem simples. Na época, a produtora gostou muito da minha atuação”, recorda. Para ele, o maior desafio foi a construção da personalidade desse personagem. “Um dos requisitos era que ele soubesse dirigir caminhão de pequeno porte, o que eu sei, e nesse ponto foi tranquilo. Eu acabei dirigindo em todas as cenas, o que não é comum em outros filmes, mas neste caso, o caminhão acabou sendo meu amigo”, brinca ele. “Mas João Leal é um personagem muito distante da minha realidade, é um cara truculento, ameaçador, capaz de qualquer coisa, mesmo sem cenas explícitas de violência, como matar alguém. Tive que construir o personagem a ponto de o espectador sentir medo dele, e ao mesmo tempo, fazê-lo carismático para não cair no estereótipo do mal. No campo, quem está ligado a esse trabalho escravagista, muitas vezes são pessoas que parecem cordiais e leais”, explica ele.

“Pureza” teve locações em três lugares do Pará, na Vila do Brejo e no centro da cidade de Marabá, e ainda em Itupiranga. Para Alberto Silva Neto, foi um presente ter um contato bem próximo com trabalhadores rurais, inclusive com pessoas que passaram por relações como as que o filme retrata. “Tive um tempo de preparação e construção muito legal. Em Marabá, tive contato com onze trabalhadores rurais, a maioria deles foram escravos na vida real. No dia a dia com eles consegui extrair muitas informações para minha construção, inclusive em termos de vocabulário, que não estavam no roteiro”, ressalta.

Que a estética do cinema é bem diferente da do teatro, isso não é novidade. Autonomia, expressão corporal e vocal ganham outro sentido no universo do cinema, explica o artista. “A primeira diferença é a autonomia, a gente observa que o trabalho toma forma independente de sua interferência. Embora na essência, a atuação faça diferença, a linguagem do cinema coloca o ator em desafios diferentes do palco do teatro, sendo uma delas, a contenção”, analisa.

No teatro, por outro lado, ele diz que o ator precisa ser mais intenso. “Nesse palco, os espectadores estão a algumas dezenas de metros distantes na plateia de você, então, é preciso que o ator dilate sua presença, seus gestos, sua emissão vocal para que consiga expressar sua atuação. Enquanto que no cinema acontece o contrário em muitos aspectos: tem uma câmera que captura uma ação muito detalhista, a um metro de mim e esse olho é muito sensível a qualquer excesso, requer do ator um domínio, uma capacidade muito mais interna do que externada. No uso da voz, por exemplo, sem que percamos a intensidade que a emoção na cena pede. Precisa de um equilíbrio entre ser intenso e ao mesmo tempo ser contido”, continua.

“Outro ponto é que no teatro, se constrói o trabalho no dia a dia e a atuação é feita numa sequência cronológica em que uma coisa vai sendo consequência da outra. Então existe uma linearidade no que diz respeito a continuidade da emoção. Nós ensaiamos e apresentamos nessa lógica. Já no cinema não existe essa lógica porque levam-se em consideração os custos da produção, tal como a logística. Isso é muito desafiador, pois requer um estudo minucioso do roteiro, da curva do roteiro de cada personagem e cada momento dele, então, o desafio é ainda o de fazer bem o personagem sem seguir essa sequência cronológica”, pontua.

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