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GERSON NOGUEIRA

Gerson Nogueira analisa nova linguagem do futebol e drama dos times do interior paraense

Quando a linguagem estraga o jogo A comunicação boleira atravessa momento desafiador no Brasil, com mudanças que sinalizam um retrocesso. Quem já não se deparou com esquisitices do tipo “marcação alta”, “duas linhas de quatro”, “último terço do campo” e

Quando a linguagem estraga o jogo

A comunicação boleira atravessa momento desafiador no Brasil, com mudanças que sinalizam um retrocesso. Quem já não se deparou com esquisitices do tipo “marcação alta”, “duas linhas de quatro”, “último terço do campo” e “não entregou o prometido”, usadas à tripa forra em entrevistas que pretendem ser sérias e eruditas?

Pior é quando jornalistas e comentaristas repetem bovinamente esses termos, acrescentando bizarrices como “atacante que pisa na área”, com aquele ar solene de quem imagina estar reinventando a roda.

A não ser que os tempos sejam de celebração do óbvio, as supostas inovações denotam apenas empobrecimento do vocabulário, o que é moléstia letal para a atividade jornalística. O problema é mais grave porque o distinto público passa ao largo de tudo, sem assimilar direito o que os iluminados tentam dizer.

Por essas e outras, começa a bater saudade do tempo em que a prática comum era a apropriação pelo rádio e a TV de ditos populares, com a intenção deliberada de simplificar a comunicação, tornando-a maravilhosamente coloquial.

Sagrada tradição do rádio, os bordões nasceram para gerar empatia, estabelecer o diálogo fácil. Eram tão grudentos e criativos que passaram a ser usados no humor e na dramaturgia.

Eu sei, a nostalgia é um fardo meio amargo, envelhecido e frequentemente injusto. Fãs empedernidos de cinema e música, por exemplo, sempre acham que a produção contemporânea é infinitamente inferior a de eras passadas.

Eu mesmo já me flagrei incontáveis vezes espinafrando bandinhas modernosas que macaqueiam riffs e solos de guitarra dos supergrupos dos anos 70. O mesmo acontece em relação a filmes iranianos ou a franquias intermináveis do cinemão americano.

Para compreensível impaciência de meus filhos, faço frequentes imersões no passado, resmungando sobre discaços da era de ouro do rock e obras-primas de Peckinpah, Fellini e Kubrick.

Para atacar o problema do saudosismo crônico, criei mentalmente um espaço de tolerância para entender e assimilar as novidades. Até já consigo aturar Greta Van Fleet sem ficar replicando que é cópia descarada do velho Led Zeppelin.

No futebol, porém, a repetição mecânica de frases feitas busca revestir o esporte de um verniz falsamente acadêmico, reproduzido por uma mídia preguiçosa e em crise aguda de criatividade.

A coisa resulta em situações estranhas, pois a essência do jogo está na linguagem descomplicada. A comunicação tem tudo a ver com a popularização do esporte, mas em sua versão corente erra ao confundir modismo com avanço.

A mudança de embocadura aconteceu quando técnicos vindos de escolas de educação física passaram a verbalizar conceitos científicos, embalados por um discurso tecnicista e moderno, mas que, em geral, se revela apenas traiçoeiramente vazio.

Como quase tudo no Brasil de hoje, inverte-se a lógica natural das coisas. Despreza-se a sabedoria popular, o conhecimento comprovado, para abraçar a boçalidade arrogante como verdade absoluta. Impossível resultar em algo realmente bom e perene.

O drama dos clubes interioranos no Parazão

A crise vivida pelo Paragominas, que apela a colaboradores e organiza vaquinha em busca e grana para pagar o salário dos jogadores, evidencia a falência do modelo adotado pelos clubes interioranos que disputam hoje a primeira divisão estadual. Todos se esmeram em despesas com contratações sem se preocupar muito com a receita prevista.

Não há suporte financeiro no futebol do interior para bancar folhas salariais acima de R$ 100 mil, como a do próprio Paragominas. Além do dinheiro repassado pelo governo do Estado, os clubes conseguem pequenos patrocínios locais, que mal cobrem as despesas menores. A esperança fica por conta da bilheteria dos jogos, mas isso depende de vitórias, o que nem sempre ocorre.

Nem o exemplo recente do Águia de Marabá, que entrou em parafuso há quatro anos, após ter apostado na contratação de Dario Pereyra para treinador, serviu de alerta para os demais clubes. De volta ao Estadual, a gestão do Águia mostra-se bem mais contida desta vez.

O Castanhal trouxe comissão técnica de fora, gastando bem mais do que seria aconselhável num campeonato deficitário como o Parazão. Assolado pelas dívidas que se acumulam, o clube já admite partir para medidas extremas, como fazer a partida contra o PSC no Mangueirão.

Dos santarenos, o S. Raimundo é o que mais pratica a política de imitar os grandes da capital no que eles têm de mais errático: a prioridade a técnicos importados. O problema é que tanto o Pantera quanto o rival São Francisco cumprem campanhas pífias. O Tapajós é a exceção entre os tapajônicos, mas a torcida não tem apoiado como se esperava.

Até mesmo o Independente, cujas finanças são mais sólidas que a de seus concorrentes diretos, já decidiu enfrentar o Remo em Belém, de olho na possibilidade de uma arrecadação que permita conter os prejuízos acumulados em apenas duas rodadas de campeonato.

As dificuldades não impedem, porém, que pratique extravagâncias como a tentativa de trazer o veterano atacante uruguaio Acosta, a um custo que deve se igualar ao dos principais reforços trazidos pela dupla Re-Pa, sem nenhuma garantia de sucesso.

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