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GERSON NOGUEIRA

Leia a coluna de Gerson Nogueira deste domingo (02): Salamaleques traiçoeiros

A conquista do título brasileiro, sacramentada na penúltima rodada do campeonato, dá a Luís Felipe Scolari a condição de mais idoso técnico a levantar a taça da Série A. Tem 70 anos e uma carreira invejável quanto a resultados. Ganhou quase tudo no futebo

A conquista do título brasileiro, sacramentada na penúltima rodada do campeonato, dá a Luís Felipe Scolari a condição de mais idoso técnico a levantar a taça da Série A. Tem 70 anos e uma carreira invejável quanto a resultados. Ganhou quase tudo no futebol, inclusive uma Copa do Mundo. Como nem tudo é perfeito, perdeu (feio, muito feio) a única Copa que não podia perder, a de 2014, no Brasil.

Felipão acumula ao longo da caminhada muitos méritos e virtudes, além de exibir a invejável capacidade de formar bons times e extrair o melhor de cada jogador. Em suma, por todos os quesitos e itens de avaliação, é um bom técnico. Merece todos os elogios pela conquista do Brasileiro após a campanha quase entediante do Palmeiras, fazendo parecer fácil o que normalmente seria uma jornada cheia de obstáculos.

Ainda assim, me surpreendo repetindo mentalmente uma pergunta insistente e chata: por que é ruim, para o futebol, que Felipão tenha conquistado o título brasileiro de 2018?

A resposta para pergunta tão instigante quanto provocadora não pode ser – e não é – fácil. Tentarei explicar, em minúcias.

Em primeiro lugar, Felipão representa um retrocesso quanto ao planejamento de jogo, com seu esquema à moda dos pampas, rico em trombadas no meio-campo e cruzamentos em direção à área. Era assim com Jardel e Oséias, lembram? Agora é exatamente a mesma coisa, só que o camisa 9 é Deyverson.

Tudo bem, até dá certo no Brasil, mas não funciona mais em competições de bom nível lá fora. É, portanto, nocivo ao desenvolvimento de clubes e jogadores que a principal competição nacional seja vencida por um treinador da velha guarda com noções táticas igualmente barrocas.

Aspas: preciso dizer, para evitar interpretações errôneas, que o conceito mencionado não é etário, mas de ideias, práticas e ambições.

Felipão passa a impressão de já ter nascido envelhecido, não só quanto a conceitos futebolísticos. É turrão, inflexível na defesa de alguns princípios e pouco dado a assimilar as mudanças que o mundo – não só da bola – sofreu nessas quatro décadas de sua carreira como treinador.

Na entrevista que concedeu após ter assegurado o título, fez questão de ressaltar os valores castrenses da disciplina, sinalizando profunda identificação com as ideias defendidas pelo presidente eleito. Nada contra. Afinal, muita gente crê firmemente que disciplina é começo, meio e fim de tudo. Ledo (ivo) engano.

Disciplina é apenas parte do ferramental de coisas que se pode exigir de atletas e, de maneira geral, de qualquer outro trabalhador. Existem aspectos muito mais relevantes a serem aplicados sem que um grupo de boleiros possa ser confundido com um pelotão de soldados.

Em segundo lugar, é deletéria a onda de salamaleques em torno de Felipão porque o veterano técnico não demonstra um pingo de autocrítica em relação à pífia campanha do Brasil na Copa de 2014, que culminou com a trágica goleada frente à Alemanha, naquela que é a pior das humilhações já sofridas por uma seleção mandante e integrante do chamado primeiro mundo da bola.
Pior ainda, para nós, é que não há a menor perspectiva de que o constrangimento seja devolvido, agora ou nunca.

Para Felipão, porém, aquela goleada de 7 a 1 é algo como um acidente da natureza, um sinistro, um tsunami. Algo que não podia ser previsto, o que, obviamente, não é verdade.
Por isso, quem convocou mal e escalou pior ainda jogadores de segunda linha, demorando uma semana e meia para tomar atitude em relação a uma tragédia que se desenhava à sua frente, não pode servir de exemplo para nenhum outro treinador nascido neste país inzoneiro e tropical.

Por fim, como terceiro item de minha desaprovação, vem a pouco verdadeira imagem de um treinador paizão de todos, amigo dos amigos e jeitão de titio em férias. O Brasil da Copa de 2018 lembrou perigosamente esse perfil “familiar” tão caro a Scolari.

Apóstolo da teologia gaúcha de compreender futebol, Tite parece rezar pela cartilha scolariana. Chegou ao cúmulo de evitar substituir o errático Fernandinho no intervalo daquele Brasil x Bélgica, com falhas nos dois gols que tiraram a Seleção do mundial, por entender que estaria agindo de “maneira desumana” com o atleta – como se a insistência em mantê-lo não fosse uma crueldade com o resto do país.

Felipão talvez não chegasse a tanto, mas foi permissivo em excesso com as falhas grotescas de Dante, Davi Luiz, Fred e do próprio Fernandinho em 2014. Quero dizer, sem a pretensão de ser original, que exemplos negativos são mais tentadores e assimiláveis do que propostas inovadoras.

Boleiros adoram treinadores que cultuam a tese da família como primado máximo da hierarquia interna. É conveniente e seguro, mas a glória só é possível se o grupo contar com alguns craques fora-de-série, como em 2002 – Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho. Em resumo: família de perna-de-pau jamais encontra a felicidade.

O Palmeiras campeão representa a culminância de um projeto robusto de investimento em contratações. Ao substituir Roger, Felipão teve a sabedoria de não inventar moda. Seus méritos são esses. Daí a entender o feito como um marco histórico já significa um brutal desserviço ao já ultrapassado futebol que se pratica por aqui há algum tempo.

Bola na Torre

O programa começa às 21h, na RBATV, com apresentação de Guilherme Guerreiro e participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. O torcedor-telespectador pode participar com perguntas dirigidas à mesa e ainda concorre a brindes ofertados pelo programa.

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