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SÉRIE C

"Canastrice boleira", Gerson Nogueira analisa o Re-Pa de sábado

O Colunista do Diário do Pará faz análise do último clássico Re-Pa

Imagem ilustrativa da notícia "Canastrice boleira", Gerson Nogueira analisa o Re-Pa de sábado camera Para muitos, a partida foi apenas um "jogo de compadres" | Divulgação/ Clube do Remo

A torcida jamais permitiria

A pandemia transfigurou o mundo em pouco mais de nove meses. Modificou também a face do futebol. No Mangueirão, sábado à tarde, essa nova realidade veio à tona em cores muito vivas. No Re-Pa mais fake de todos os tempos, os times se comportaram de maneira inteiramente descomprometida, e isso só foi possível porque as torcidas estão longe dos estádios, por força da necessária prevenção à covid-19. Com torcedores presentes, o bizarro espetáculo jamais teria acontecido, mesmo que técnicos e jogadores quisessem confraternizar ao invés de jogar.

Arrisco dizer que a torcida iniciaria vaiando os primeiros sinais de congraçamento entre os rivais centenários. Em pouco tempo, caso as jogadas marotas se repetissem, com atacantes, meias e zagueiros tocando bola para trás, o estádio logo iria virar um caldeirão incendiário de revolta da parte das torcidas – das duas torcidas.

É óbvio que, nessas circunstâncias inusitadas, os times iriam rapidinho entender que não poderiam conspirar contra mais de 100 anos da rica história de duas das bandeiras mais gloriosas do futebol brasileiro. Compreenderiam que todos – atletas, técnicos e dirigentes – são anões diante da grandeza das agremiações. Mais que isso: são meramente temporários.

Comento isso a partir do que se viu ontem no Mangueirão, principal palco do nosso futebol, ao longo de melancólicos 90 minutos. Foram 90 minutos mesmo, pois o árbitro paranaense percebeu a farsa e não deu acréscimos nos dois tempos. Uma exibição da mais grosseira canastrice boleira, com chutes a esmo, corridas para não chegar, desânimo até na cobrança de arremessos, tiros de meta trocados entre os goleiros.

O que os filósofos definem como distopia, que ao pé da letra é o contrário de utopia, pode ser facilmente atribuído ao teatro encenado por Remo e PSC na 18ª rodada da Série C. A partida já não valia nada para influir na classificação do grupo A, mas era determinante para o posicionamento nas chaves da segunda fase da competição.

Independentemente do fato de não causar prejuízos a terceiros, o arranjo é algo moralmente reprovável, daí a reação furiosa da maioria dos torcedores. No pós-jogo da Rádio Clube, com audiência maciça, a totalidade das opiniões foi de total rejeição à marmelada.

Os defensores do artifício de construir um empate na marra argumentam que foi uma atitude “inteligente” e “pragmática”. Usei aspas para realçar a excepcionalidade desses adjetivos, inaceitáveis diante do que ocorreu.

Seria até compreensível se, ao longo da partida, os times ficassem sabendo de outro resultado (no caso, do jogo Vila Nova x Jacuipense) e adotassem postura mais cautelosa. Uma reação instintiva de autoproteção, absolutamente normal.

Que fique claro: o que se reprova é a intenção deliberada (e consensual) de empatar. O que houve no gramado do Mangueirão é indigno da tradição do próprio clássico.

O único momento de intenção verdadeira foi o drible seguido de chute seco de Vítor Feijão, por volta dos 30 minutos do 1º tempo. Foi um lance normal, que quase surpreendeu Vinícius. O goleiro, em excelente fase, foi na bola e desviou a trajetória. Em seguida, a bola bateu na trave e atravessou de volta toda a extensão do gol, quase sobre a linha fatal.

Coincidência ou não, o “rebelde” Feijão foi substituído no intervalo. Onde já se viu o cidadão contrariar o acordo de cavalheiros mandando um torpedo daqueles em direção à trave adversária? Antes e depois desse chute, o clássico não teve rigorosamente nada digno de registro.

Do lado bicolor, Paulo Ricardo nem sujou a farda. O Re-Pa não registrou nenhum cartão, até porque as faltas foram pouquíssimas e nem escanteio aconteceu para gerar aquele empurra-empurra na área.

Como nada houve, nada há a analisar. É importante, porém, registrar o irônico malogro da iniciativa. A 15 minutos do final, chegou a notícia do gol do Vila Nova, obrigando a dupla Re-Pa a ficar no mesmo grupo da próxima fase. Nem isso alterou a toada da prosa.

Remo e PSC não cometeram, a rigor, nenhuma ilegalidade. Ninguém pode provar que combinaram o que seria feito em campo. Ocorre que o futebol, que não é ciência exata, tem regras e nuances que permitem observar quando algo foge à ordem natural das coisas.

Que ambos tenham saído satisfeitos de campo, como evidenciado no caloroso abraço entre os técnicos ao final, é outro sintoma do que havia sido pré-agendado. O problema é que ações do tipo podem quebrar a tênue linha de confiança que envolve o futebol no Brasil.

Quem combina por “boas intenções” em tese pode também combinar por outras razões ou interesses. É preciso ter cuidado para que o torcedor não desacredite da verdade dos homens e do jogo.

Rivais perdem preciosa oportunidade de preparação

No aspecto técnico, Leão e Papão perderam excelente oportunidade de jogar seriamente e colocar seus times em atividade, como preparação para a etapa mais importante do campeonato, que vai definir o acesso. Se lucraram no aspecto do pouco desgaste físico, os times não tiveram qualquer ganho técnico.

O Remo, por exemplo, perdeu a chance de testar uma formação alternativa de ataque, com Hélio, Salatiel e Eron ou com Eron, Augusto e Ronald – ponta esquecido por Bonamigo, apesar de ser o único velocista do elenco.

Seria uma oportunidade preciosa também para exercitar um meio-campo inteiramente diferente, com Júlio Rusch, Warley e Carlos Alberto, ou ainda com Djalma, Gelson e Felipe Gedoz.

No Papão, são incontáveis as variações que Brigatti poderia fazer aproveitando o fato de encarar um adversário na briga pelo acesso, sem receio ou risco, visto que ambos já estavam classificados.

Brigatti optou por uma formação inicial mesclada, com Willyam, Calbergue e Vítor Diniz, mas sem qualquer efeito prático quanto ao rendimento, visto que ninguém queria jogar. Jefinho, Diego Matos e Alex Maranhão entraram na etapa final, apenas para fazer figuração.

No fim de tudo, o grupo D ficou com Ypiranga, Remo, Londrina e PSC. Não é a formação ideal para os representantes paraenses, que se enfrentam duas vezes em partidas de vida ou morte. Matematicamente, a possibilidade de duplo acesso ficou menor. Caso empatem os dois jogos, as chances ficarão ainda mais reduzidas.

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