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Gerson Nogueira: em tempos de pandemia torcedores são os mais sensatos do futebol

Jogo da vida é mais importanteTorcedores são mais sensatos e lúcidos que a cartolagem brasileira. A constatação, visível há tempos, é reforçada a cada nova pesquisa. Enquanto o país avançava com perdas humanas e infectados pela covid-19, os dirigentes do

Imagem ilustrativa da notícia Gerson Nogueira: em tempos de pandemia torcedores são os mais sensatos do futebol camera Mailson Santana/Fluminense FC

Jogo da vida é mais importante

Torcedores são mais sensatos e lúcidos que a cartolagem brasileira. A constatação, visível há tempos, é reforçada a cada nova pesquisa. Enquanto o país avançava com perdas humanas e infectados pela covid-19, os dirigentes do futebol – Flamengo à frente – iniciaram em junho uma cruzada pela volta imediata das competições.

O objetivo foi alcançado e o Campeonato Carioca retomado no dia 18 de junho, apenas 15 dias depois do pico da pandemia no Estado do Rio de Janeiro, em afronta inaceitável a todos os critérios e protocolos de prevenção contra a doença definidos pela OMS.

Apesar da grita isolada de Botafogo e Fluminense, ficou tudo por isso mesmo, o Flamengo impôs sua força na federação do Rio e levou a cabo a temerária e apressada volta do futebol, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte, motivado pela preocupação com faturamento e publicidade.

Pode ter ficado a impressão de que a atitude dos dirigentes não teve consequências, mas uma pesquisa divulgada ontem mostra que 77% da população considera que a volta do futebol aconteceu muito cedo e reflete descuido e pouco caso com a saúde da população. Em resumo, o jogo da vida é muito mais importante que o futebol.

O estudo, realizado entre os dias 7 a 10 de julho, foi feito pela Toluna, empresa que trabalha com insights do consumidor sob demanda. Foram entrevistadas 634 pessoas de todo o Brasil. A maioria avalia que os organizadores deveriam esperar mais tempo para a volta das atividades.

Com relação ao Campeonato Paulista, que reestreia hoje, a reprovação é de 68%. A ideia de realizar de jogos com torcida nos estádios sofre rejeição ainda mais pesada: 86% dos entrevistados é contra a medida, ideia tresloucada que chegou a ser defendida pela Ferj e Prefeitura do Rio.

A pesquisa revela um ponto importante: entre os torcedores que costumam frequentar estádios 58% responderam que não irão a campo este ano, nem que a medida seja considerada segura pelas autoridades.

A própria agenda dos campeonatos também desperta preocupação entre os entrevistados, visto que alguns estaduais ainda estarão em andamento quando o Brasileirão e a Copa do Brasil voltarem – o Parazão é um exemplo. Para 51% dos entrevistados, os estaduais deveriam ser cancelados para priorizar competições nacionais.

Quanto a medidas de prevenção contra a transmissão do novo coronavírus, o apoio mais forte vai para jogos sem torcidas nos estádios (79%), seguido da realização de testes e isolamento de atletas (52%), testes em todos os profissionais envolvidos nos eventos (46%) e proibição de contato físico na comemoração de gols (44%).

O levantamento seguiu o critério de classificação de classes utilizado pela Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), com pessoas acima de 18 anos, de todas as regiões, com 3 pontos percentuais de margem de erro e 95% de margem de confiança.

É um dos primeiros estudos sobre os humores do torcedor quanto à volta do futebol e revela aspectos que deveriam preocupar os dirigentes. O item mais sério, sem dúvida, inclusive para a dupla Re-Pa, é o forte sentimento de resistência a voltar a frequentar estádios ainda neste ano.

Schürrle ou a fria brutalidade do meganegócio chamado futebol

A aposentadoria precoce do atacante André Schürrle, anunciada no fim de semana, expõe os cruéis mecanismos que regem o futebol profissional. Em artigo, na Deutsche Welle, o craque Gerd Wenzel esmiúça com maestria a surpreendente decisão do jogador, que parou aos 29 anos, aparentemente em plenas condições atléticas de jogar por mais uns quatro anos.

Schürrle marcou duas vezes contra o Brasil na goleada de 7 a 1 da semifinal de 2014, e foi autor do passe açucarado para Mario Götze fazer de voleio o golaço contra a Argentina na decisão daquela Copa, no Maracanã, no dia 13 de julho de 2014.

“No grande negócio chamado futebol profissional, os jogadores muitas vezes são considerados meras máquinas que precisam funcionar sempre. A sociedade esquece que esportistas são seres humanos como todos nós. Não é porque recebem vultuosos salários que estão imunes ao que leem na mídia, ao que ouvem dos torcedores e às pressões que sofrem para serem cada vez mais eficientes”, escreve Gerd.

Schürrle tinha naquela Copa apenas 23 anos e foi glorificado pelas boas atuações na semifinal e final, coroando um começo de carreira auspicioso, sempre muito vinculado ao amigo Mario Götze. Desde a glória conquistada no Brasil, a dupla entrou em surpreendente decadência técnica. Schürrle pulou fora e Götze procura clube.

Em entrevista recente, Schürrle soltou pistas sobre a decisão de abandonar os gramados: “Fui perdendo o prazer de jogar. Faz anos que a pressão da opinião pública se tornou um fardo para mim. Durante um jogo, o medo de errar me assaltava. As reações da mídia em geral eram extremas demais”.

“Depois de um mau desempenho numa partida, tive receio de sair na rua e de ser execrado por torcedores exaltados. Preferi puxar o freio de mão agora enquanto ainda posso refazer minha vida”, acrescentou.

Na Alemanha, relata Gerd, são raros os casos de aposentadorias precoces. Em 2015, Marcell Jansen, do Hamburgo, também com 29 anos, pendurou as chuteiras. Antes, Sebastian Deisler, meia do Bayern, despediu-se em 2007, aos 27 anos, após várias lesões e crises de depressão.

Robert Enke, goleiro do Hannover e que foi titular da seleção alemã, sofria de depressão crônica. Seria convocado para a Copa 2010, na África do Sul, mas se suicidou em novembro de 2009, aos 32 anos.

O alemão Schürrle, que chegou ao cume da carreira tão cedo, teve a sorte e o discernimento de perceber que o meganegócio do futebol pode fazer muito mal à sanidade mental. Corajoso, deixa mensagem indireta sobre o crivo imposto aos boleiros, que não podem expor fraquezas, como se fossem máquinas capazes de resistir a tudo e todos. É claro que não dá para sustentar essa armadura por tanto tempo.

Em tempo: leiam Gerd Wenzel, um alemão que entende mais de Brasil do que muita gente por aí.

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