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Poeta carioca lança livro em Belém

A poesia é um mistério, carne trêmula, descontrole. Para a poeta carioca Maria Rezende, a escrita é, então, esse desvelar da sua natureza. E tem o tempo dela: vem quando germina, de forma orgânica. Assim nasceu mais um livro, “Carne do Umbigo”, que será l

A poesia é um mistério, carne trêmula, descontrole. Para a poeta carioca Maria Rezende, a escrita é, então, esse desvelar da sua natureza. E tem o tempo dela: vem quando germina, de forma orgânica. Assim nasceu mais um livro, “Carne do Umbigo”, que será lançado nesta quinta-feira, 12, a partir das 19h, no Gotazkaen, e no próximo dia 17, no Sesc Boulevard, em Belém. A entrada é gratuita.

A obra compila seus mais recentes poemas, que de acordo com a autora, se alinham conceitualmente com o título do livro e falam de forma mais íntima de si mesma, como a revelação de seu desejo em tornar-se mãe, parir. Também possui poemas inspirados na reflexão sobre as pesquisas científicas com células-tronco e a cura para certas doenças da humanidade estar justamente nessas células embrionárias, do umbigo. Maria conclui, com isso, que nascemos com a nossa própria cura.

A autora do Rio do Janeiro mantém uma relação de amor com a capital paraense e por isso quis lançar sua obra aqui também. Veio a primeira vez em 2003, para um trabalho de pesquisa para um documentário e resultou em um verso de um poema “ninguém disse que Belém é linda. Alguém sabe”.

Também já participou de recitais na cidade e desenvolveu amizades com o público leitor, o que a incentivou ainda mais a realizar o lançamento. Maria Rezende também é autora de “Substantivo Feminino” (2003) e “Bendita Palavra” (2008) e em momentos sublimes, recebeu elogios do escritor português José Saramago e do poeta mato-grossense Manoel de Barros. Confira entrevista com a autora, na qual ela fala sobre seus processos e experiências.

Suas poesias trazem uma verdade, é como a palavra que se sente. Como é teu processo de criação?

Sempre misterioso, incontrolável. Eu passo longos períodos sem escrever, outros escrevendo muito, há assuntos que me mobilizam e demoram meses germinando dentro até virar poema, e outros que chegam como um furacão e me fazem parar tudo para escrever. Eu já me angustiei com os períodos de seca, mas com os anos fiz as pazes com eles. Como a poesia não é meu ganha pão, posso deixar ela livre para brotar quando quiser, orgânica.

“Carne do Umbigo” fala de um processo? De uma regeneração? O que sentia quando escreveu e porque este virou título do livro

Carne do umbigo era um verso de um poema sem título. Quando comecei a pensar no nome falei algumas ideias para um amigo que não gostou de nenhuma, aí ele me ouviu dizer esse poema e pescou esse verso. Curioso porque é como se o livro todo tivesse se construído sobre esse conceito, que é muito forte para mim. “Carne do Umbigo” tem muitas camadas: é falar de si mesmo, “olhar pro próprio umbigo”, e minha poesia sempre teve essa característica muito pessoal e muito despudorada. É também um reflexo do meu desejo de maternidade, que ainda não realizei, mas mais do que tudo fala de uma percepção de que as pesquisas de célula tronco estão descobrindo que a cura pra doenças que a gente porventura venha a ter no futuro podem estar no sangue do cordão umbilical. Quer dizer: a gente nasce com a nossa própria cura. Isso é uma coisa que eu aprendi em termos emocionais, que não adianta buscar as respostas no outro, ninguém além da gente é capaz de nos salvar ou nos curar, e esse livro está permeado dessa descoberta. São poemas escritos entre 2009 e 2014, poemas dos meus 30 anos, morando sozinha depois de morar junto, lidando com a dor da separação e com a redescoberta da mulher que eu sou, e tudo isso está impresso nos poemas.

Você também faz vídeos dos poemas. De que forma a poesia dialoga com esse tipo de linguagem?

Eu sou montadora de cinema e TV, é assim que ganho meu dinheiro de forma regular. Sou freelancer, aprendi fazendo porque meus pais trabalham com cinema e tinham uma ilha de edição na produtora. Comecei a fazer vídeos para passar num evento chamado “Te vejo na Laura”, que produzi e dirigi durante três anos na Casa de Cultura Laura Alvim, e quando vi estava trabalhando com montagem, fazendo curtas de amigos, séries de TV, e depois longas-metragens. Mas foi só em 2012 que eu tive vontade de juntar os dois trabalhos. Começou totalmente por acaso, comprei meu primeiro Mac e gravei uns vídeos com o Photobooth, programa básico que vem no computador. Juntei uma música, colei um poema, postei no Facebook e os amigos gostaram. Aí inventei o projeto “Um por dia enquanto for legal”, que consistia em fazer um vídeopoema por dia enquanto eu tivesse pique. Durou uns dez dias, e me abriu esse novo universo. Daí por diante eu comecei a fazer vídeopoemas sempre que dava, que o tempo permitia, e quando não dava tempo eu só ligava a câmera e gravava algum poema que eu gosto. Aí nasceu a série “Admirada”, que me deu de volta o prazer de dizer poemas dos outros, coisa que eu fui perdendo quando comecei a escrever os meus. Para mim os vídeopoemas são mergulhos, não ilustrativos nem explicativos, são sensoriais.

Poucos poetas recentes, creio eu, tiveram a sorte de serem lidos - e elogiados - por nomes como José Saramago e Manoel de Barros. Como foram esses contatos e que isso significa para você?

Eu tenho tido uma sorte tremenda na minha vida poética. Através da Escola Lucinda de Poesia Viva conheci grandes poetas, que homenageamos com recitais. Manoel de Barros veio lá de Campo Grande para nos assistir, e foi uma maravilha a iniciativa da Elisa, porque ele ainda era bem pouco conhecido no Rio - eu fazia Letras na PUC e nunca tinha ouvido falar nele. Imagine a emoção e o nervosismo de dizer versos do Manoel com ele na primeira fila? Quando publiquei meu primeiro livro, mandei para ele e recebi de volta uma cartinha linda, carinhosa, me estimulando a continuar. Depois do Manoel fizemos recitais de Ferreira Gullar, Martha Medeiros, e eles lá, nos assistindo. Quando homenageamos Fernando Pessoa, o recital foi no consulado de Portugal e o Saramago estava no Rio e foi nos assistir. Só soubemos no dia, foi um fuzuê, todo mundo subindo pelas paredes de nervoso e alegria. Ele foi muito generoso e nos encheu de elogios. Tenho muita pena de nunca ter enviado meu livro para ele, não tive coragem. Para o Eduardo Galeano mandei e recebi de presente um livrinho pelo correio com dedicatória feita a mão. Ter sido lida pelos poetas que eu mais admiro é uma honra e uma alegria imensa. Os grandes são mesmo muito generosos…

(Diário do Pará)

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