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Ciência é a saída para crise (e estamos fazendo tudo errado)

(Foto: Divulgação/Marcha pela ciência)   Ainda na década de 1960, a pesquisadora austríaca radicada no Brasil, Johanna Dobereiner (1924 - 2000), percebeu que a cana-de-açúcar e alguns tipos de gramas ficavam sempre verdes, mesmo sem a adição de adubo

  (Foto: Divulgação/Marcha pela ciência)

Ainda na década de 1960, a pesquisadora austríaca radicada no Brasil, Johanna Dobereiner (1924 - 2000), percebeu que a cana-de-açúcar e alguns tipos de gramas ficavam sempre verdes, mesmo sem a adição de adubo. “Por que isso acontece?”. Com essa simples pergunta, Dobereiner revolucionou o país, foi indicada ao prêmio Nobel e, até hoje, 17 anos após sua morte, tem um impacto significativo na economia brasileira e toda a vida da população.

O mundo vivia em meio à “Revolução Verde”. Fertilizantes minerais proporcionaram um salto de produtividade na agricultura, capitaneados pelos Estados Unidos. Tal país se destacou na produção em larga escala de soja, e o Brasil resolveu acompanhar. Uma especificidade da planta, porém, fez toda a diferença.

A soja precisa de altas doses de nitrogênio para se desenvolver forte e saudável. O caminho era jogar a substância na terra e pronto. A estratégia, porém, não funcionava muito bem por aqui. Não pelos resultados, mas pelo preço. Fertilizantes nitrogenados são caros e poluentes, embora na época ninguém ligasse muito para isso.

É aí que entra Johanna. Estudando as características que deixavam a cana e algumas gramíneas sempre verdes, descobriu que os "culpados" eram bactérias chamadas rizobium. Elas formam uma simbiose com as raízes, captam o nitrogênio do ar e fixam no solo, podendo ser aproveitadas pelas plantas.

A cientista passou então a inocular as sementes de soja com a bactéria. Se no início a iniciativa simples foi recebida com descrença, hoje praticamente dispensa o uso de adubos nitrogenados. Décadas depois, se considerar os 27,7 milhões de hectares plantados no país, a contribuição de Dobereiner gera anualmente R$ 24,9 bilhões de economia para o agronegócio brasileiro.

É quase dez vezes mais que o investimento do governo federal em ciência e tecnologia esse ano. “Em média, o retorno da pesquisa é seis vezes o investimento aplicado. Nos EUA chega a oito vezes. Na agricultura pode chegar a 10 vezes”, afirma Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências.

Uma reportagem “A ciência brasileira vai quebrar?”, publicada na edição nº 312 da revista GALILEU, no mês de julho, já chamava atenção para o desmonte das atividades de pesquisa no País. Para esse ano, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC) havia reservado R$ 5,81 bilhões para investimentos.

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Porém, ainda em abril, 44% do valor foi contingenciado. Sobraram R$ 3,27 bilhões. No final do ano houve uma recuperação de R$ 500 milhões desse valor. Mas nada capaz de fazer muita diferença. Excluindo o investimento em comunicação, sobraram cerca de R$ 2,5 bilhões para a ciência. É menos da metade do investido no já distante ano de 2005.

Como sempre dá para piorar, a Lei Orçamentária Anual prevê para 2018 um total de R$ 2,7 bilhões ao MCTIC. Um valor que ainda corre risco de contingenciamento. A verba, que inclui gastos com comunicação, pagamento de bolsas do CNPq, recursos para financiamento, sofrerá uma redução de 56%. Isso se a situação deste ano não se repetir, impondo cortes sobre esse já escasso valor.

A preocupação com o desmonte da ciência brasileira não se restringe ao solo nacional. No final de setembro deste ano, 23 vencedores do prêmio Nobel de países como EUA, Alemanha, França, Israel e Japão, enviaram uma carta ao presidente em exercício, Michel Temer, tentando sensibilizá-lo. Algumas das principais revistas científicas do mundo, a Science e Nature, também alertaram para a situação em reportagens publicadas no mês de outubro. Ao que parece, sem muito resultado.

No último final de semana, entre os dias 10 e 12 de novembro, o barulho foi em cinco cidades brasileiras, com cientistas, estudantes e apoiadores que participaram da Marcha pela Ciência. O objetivo principal é pressionar o congresso por mudanças na Lei Orçamentária Anual, que traz a previsão desses valores, que deve ser votada no início de dezembro.

Mas também chamar a atenção para o retorno do investimento em pesquisa na economia, como aconteceu com o trabalho de Johanna Dobereiner, e fazer que o assunto entre na pauta para as eleições de 2018. “É uma falta de preocupação gigantesca com o país. Não foi entrar no mérito se é má fé ou ignorância, mas o que está acontecendo é que estão prejudicando profundamente a ciência”, desabafa Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

“Países do mundo inteiro, desenvolvidos, em momento de crise econômica, investem mais em ciência e tecnologia como instrumento para sair da crise. Aqui a gente faz o contrário e anda para trás”, afirma Moreira, que dá números ao tamanho do absurdo. “Os recursos que a gente está brigando, na ordem de 1, 2 bilhões, são muito inferiores que as desonerações que a gente vê nos jornais todo o dia." Esse ano, o governo federal vai deixar de arrecadar R$ 284,8 bilhões em isenções de impostos do setor produtivo.


Fonte: Revista Galileu

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